31/07/2006
Bolsa: Em busca dos lucros perdidos
por
FABRICIO VIEIRA
Ao longo de quase todo o primeiro semestre, o esporte favorito dos analistas de mercado era tentar adivinhar em quanto tempo o Ibovespa, principal índice e referência da Bolsa de Valores de São Paulo, levaria para alcançar os 45 mil pontos. Hoje, somente com a concretização dos cenários mais otimistas, espera-se que a Bolsa alcance -e talvez consiga romper esse patamar até o final de 2006.
A lua-de-mel dos investidores com o mercado acionário foi interrompida no dia 10 de maio, quando o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) elevou os juros dos Estados Unidos pela 16ª vez consecutiva e deu um claro sinal de que novos aumentos poderiam vir pela frente. No dia anterior, o Ibovespa havia encerrado as operações no pico histórico de 41.979 pontos, acumulando valorização superior a 25% no ano.
Apesar de economistas e analistas financeiros acharem cedo para afirmar que as turbulências do mercado financeiro global já chegaram ao fim, tudo indica que o pior da tempestade ficou para trás. Mesmo assim, condicionam a recuperação da Bolsa ao final do ciclo de elevações dos juros nos Estados Unidos. "Estamos otimistas, pensando, no máximo, em uma taxa de 5,5%. Como essa alta já foi incorporada aos preços, há espaço para a recuperação de ativos de maior risco, como a Bolsa", afirma Marcos De Callis, diretor vice-presidente da Itaú Corretora.
Para Tania Sztamfater, analista do Unibanco Corretora, há espaço para o mercado se recuperar, voltando para os níveis de pico atingidos em maio. "Os fundamentos econômicos do Brasil estão bastante positivos. Mas, no curto prazo, devemos ter volatilidade, devido a incertezas no cenário externo", diz.
Se a Bovespa não tivesse enfrentado a debandada de investidores estrangeiros em maio e junho, o resultado nesse período seria diferente. Esse segmento de investidores responde por quase 40% dos negócios feitos no pregão doméstico. Assim, qualquer movimento mais pesado que realizem tem impacto considerável no resultado da Bolsa.
Vôo para a segurança
Os grandes investidores internacionais migraram suas aplicações para a segurança dos títulos do Tesouro dos EUA. Em junho, as vendas de títulos feitas pelos estrangeiros na Bolsa superaram as compras em R$ 2,26 bilhões. No mês anterior, outro R$ 1,51 bilhão líquido já havia saído. "Na hora de uma crise ou de uma turbulência internacional, vendem-se ações primeiro onde há grande liquidez. Foi o que aconteceu", diz Nami Neneas, da área de renda variável da Banif Primus Corretora.
Se ainda não houve um retorno considerável, pelo menos a sangria de capital externo da Bolsa foi estancada. Nos 11 primeiros dias de julho, o balanço das operações de investidores estrangeiros na Bovespa ficou positivo em R$ 23,37 milhões. "Eles começam a voltar, mas ainda estão cautelosos", afirma a analista do Unibanco Corretora. Se o mercado global voltar a um período de maior calmaria, como vivia até o começo de maio, os estrangeiros devem retornar ao mercado acionário local, ajudando a empurrar a Bovespa para cima.
Setores em alta
As ações do setor siderúrgico apresentaram os melhores resultados no primeiro semestre dentre as 54 ações mais negociadas, que formam o Ibovespa, segundo levantamento da consultoria Economática. Metade das dez maiores altas do semestre ficou com papéis de siderúrgicas e metalúrgicas. No topo dos ganhos de janeiro a junho, brilhou a ação ON (ordinária, com direito a voto) da Companhia Siderúrgica Nacional, que subiu 53,05%. Em seguida, apareceu a ação ON da Usiminas, com valorização acumulada de 45,69% no período.
Para o segundo semestre, analistas ainda apontam os papéis de empresas de siderurgia como uma boa opção. Outros segmentos com boa perspectiva para os próximos meses são os de energia elétrica e o bancário. "Os bancos estão aproveitando o movimento de expansão do crédito e devem se beneficiar com o aumento da oferta de crédito imobiliário", afirma o vice-presidente da Itaú Corretora.
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