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31/07/2006

Entrevista: O futuro começa hoje

por SANDRA BALBI

Júlio Vilela/Folha Imagem
Eduardo Bom Angelo, 49 anos, presidente da Brasilprev -uma das maiores empresas de previdência complementar do país, com R$ 11 bilhões em ativos - começou a montar uma carteira de ações para seu filho caçula, Luís Felipe, de 6 anos, no dia em que o garoto nasceu. "As pessoas devem preparar seu futuro desde que nascem", afirma. "Isso num mundo ideal", admite.

No Brasil, a cultura da inflação e o nível de renda da população limitaram a construção de uma poupança de longo prazo nas últimas décadas. Entretanto, o aumento da longevidade e a crise da previdência pública levaram um contingente cada vez maior da classe média a buscar alternativas de acumulação para garantir sua velhice. Com R$ 85 bilhões em aplicações, a previdência complementar está apenas no início da sua decolagem no país, segundo Bom Angelo. A seguir, trechos de sua entrevista:

Folha - A partir de que idade as pessoas devem se preocupar em formar uma reserva para a aposentadoria?

Eduardo Bom Angelo - A pessoa deve começar a preparar seu futuro desde que nasce. Nos EUA, numa família de classe média, quando um bebê nasce já ganha algum tipo de produto financeiro que a legislação americana proporciona. O Brasil tem uma história que não favoreceu esse processo. Mesmo assim, hoje, 40% dos clientes da Brasilprev -de 1 milhão de CPFs cadastrados- são menores de 21 anos. No mercado total, esse percentual é bem menor. São avós, tios, pais, que compram o produto para os jovens. Com o aumento da longevidade, não há problema nenhum em começar a poupar aos 40 anos, se as pessoas podem viver até os 80, 90 anos.

Folha - Como se constrói poupança de longo prazo em um país onde a estabilidade monetária ainda é recente?

Bom Angelo - No período inflacionário não existia estímulo de nenhum grupo social, seja ele consumidor ou empresa, de investir no longo prazo. O único objetivo era proteger os recursos da inflação. O que vemos hoje é o fim da memória inflacionária, para os que viveram aquele período, e a entrada no mercado de uma geração de pessoas que não conviveu com a inflação. Na medida em que esses dois contingentes se encontrem, é natural que se alongue o horizonte de investimento da sociedade. Foi isso que fez emergir a indústria de fundos de investimento, que hoje tem mais de R$ 700 bilhões sob gestão, e a previdência aberta, que em julho passou de R$ 85 bilhões.

Folha - A renda não é um fator de limitação?

Bom Angelo - Nós temos condições de poupar, apesar das restrições dadas. Não creio que a distribuição de renda no país -que é um limitador no processo de poupança- se altere substancialmente nos próximos anos. Entretanto, ela está mudando, mesmo na faixa de renda mais baixa, e uma porcentagem pequena da população com capacidade de poupar está adquirindo consciência e procurando se informar. Estamos ainda no começo da curva.

Folha - Uma pesquisa da Universidade de Oxford, para o banco HSBC, mostrou que o brasileiro é um dos povos que menos poupa para a velhice mas quer parar de trabalhar aos 57 anos e "relaxar". Por quê?

Bom Angelo - A sociedade brasileira, particularmente no primeiro período do governo de Getúlio Vargas, foi muito protegida pelo Estado, inclusive em relação à previdência social. Quando as pessoas dizem que querem se aposentar aos 57 anos, parte dessa resposta é uma mistura da expressão de desejo com o fato de imaginar que o Estado vai suprir as suas necessidades.Essa expressão do desejo não leva em conta o aumento da longevidade. A geração que está com 50 anos hoje e vive num centro urbano com boas condições de saneamento, com acesso a medicina de ponta, pode chegar aos 90 anos de idade, facilmente. O que elas vão fazer dos 55 anos aos 90? Eu não gostaria de me aposentar aos 55 anos nesse conceito de não fazer nada.

Folha - Qual é o conceito, então, trabalhar até a morte?

Bom Angelo - O conceito é seguir trabalhando em outra modalidade, não fazendo carreira dentro de empresa, naturalmente, porque isso termina por volta dos 60 anos. O que é inaceitável é que o ser humano vá ficar 25, 30 anos sem fazer nada, principalmente nos grandes centros urbanos. As pessoas ao longo da vida vão ter duas ou três profissões, pois vão viver mais. Elas não vão ficar em casa levando o neto ou bisneto para a escola.

Folha - Qual o futuro da previdência pública?

Bom Angelo - A previdência pública no Brasil e no mundo, pelos fundamentos em que foi constituída -quem trabalha hoje sustenta quem trabalhou no passado- está posta em xeque pelas mudanças no mercado de trabalho e pelo aumento da longevidade. Não é sem razão que, nos últimos 30 anos, os países promoveram alterações nos seus sistemas de seguridade. O Brasil está atrasado com relação a isso, pois ainda tem um nível de gasto com seguridade social incompatível com seu nível de renda e seu estágio de desenvolvimento econômico. O nível de gastos do Brasil com seguridade social sobre o PIB é o mesmo do de países da OCDE, de 13% sobre o PIB.

Folha - Já foram feitas duas reformas da previdência, uma no governo anterior, outra no atual. Não tiveram efeito?

Bom Angelo - Elas foram insuficientes, mas algum mérito tiveram. Sem elas as finanças públicas teriam deteriorado muito mais. Acredito que a reforma da previdência tem de vir seqüencialmente e em pequenas porções. Não existe ambiente político no Brasil, ou em qualquer lugar do mundo em que o Congresso opere em bases democráticas, para passar uma reforma da previdência como ela deve ser.

Folha - O mercado de previdência privada cresceu muito no início, mas nos últimos dois anos desacelerou. Por quê?

Bom Angelo - No primeiro período, estávamos saindo da inflação, então é normal que mercados como o de fundos e o de previdência privada floresçam. No caso da previdência privada, ela cresceu durante dez anos seguidos a taxas de mais de 30% ao ano. Em 2005 houve uma trava, cresceu só 3,9%. Essa trava foi provocada pela lei 1.153, que introduziu uma nova opção tributária: quanto mais tempo o investidor fica na aplicação menos Imposto de Renda ele paga.

Folha - Qual o mercado potencial para a previdência privada no Brasil?

Bom Angelo - Nossas projeções para 2010, são que os ativos da previdência superem R$ 200 bilhões. E isso só pela dinâmica do mercado, sem mudar a legislação.

Folha - Os produtos existentes são suficientes, cobrem as necessidades do investidor?

Bom Angelo - De 2000 para cá houve uma evolução grande dos produtos de previdência com o lançamento do PGBL e do VGBL, que nada mais são do que boas adaptações dos produtos de previdência americana. O mercado poderia caminhar para oferecer produtos específicos para educação, por exemplo, para pequenas e médias empresas e outras categorias, que teriam alíquotas específicas de IR. É o que ocorre nos EUA, onde as variações em torno do produto básico, o 401k, que equivale aos nossos PGBL e VGBL, estão associados às alíquotas do Imposto de Renda americano.

Folha - Quais são os riscos da previdência privada num país em que até a poupança já foi confiscada?

Bom Angelo - Houve um avanço muito grande nos últimos dez anos tanto na normatização e fiscalização do setor pela Susep [Superintendência de Seguros Privados] como na auto-regulação. A quantidade de funcionários, dinheiro e sistemas que as empresas têm investido em governança e controles internos também deram mais transparência ao sistema. Nesse aspecto, a segurança para investimentos no país aumentou, dificilmente você vai se ver enganado por algum gestor e o seu dinheiro desaparecer. Hoje isso é episódico.

Folha - Vocês informam ao investidor onde o dinheiro dele está aplicado, qual é a carteira de ativos atualizada?

Bom Angelo - Eu acho que os fundos de investimento estão um pouco à frente da previdência por terem começado a investir em auto-regulação antes. Eles têm, em teoria, uma relação de maior transparência com o investidor.

GLOSSÁRIO

PGBL - Plano Gerador de Benefícios Livres, é um produto de previdência complementar que visa a acumulação de recursos para obter uma renda futura. As aplicações podem ser deduzidas da base de cálculo do Imposto de Renda até o limite de 12% da renda bruta anual

VGBL - Vida Gerador de Benefícios Livres, dá ao investidor o direito de resgatar em vida, após o período de carência, uma parte ou a totalidade do montante aplicado, acrescido do rendimento durante esse período. Nesse tipo de plano não é possível abater os aportes efetuados da base de cálculo do Imposto de Renda

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre fundos PGBL e VGBL
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