Revista da Folha

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27/11/2006

Orientação financeira: Férias na ponta do lapis

Ter uma casa de veraneio é parte do sonho de quem quer investir em qualidade de vida, mas a aplicação está sujeita a chuvas e trovoadas

por EDSON PINTO DE ALMEIDA

Flávio Florido/Folha Imagem
Casa própria, carro do ano e casa de veraneio. Essa é, segundo especialistas do mercado imobiliário, a ordem natural das coisas para famílias que conseguem ao longo da vida acumular dinheiro para investir e gastar com lazer. A dúvida é: vale mais a pena comprar ou alugar um imóvel para passar as férias? Consultores financeiros e profissionais do setor advertem: se é para comprar, não o faça só para escapar da pressão em casa, por conta do verão que se aproxima. Aí sim a probabilidade de fazer um mau negócio é grande. "Casas de praia ou de campo costumam ser um negócio arriscado. Em momentos de euforia no mercado, os preços sobem bastante. E nos momentos de crise são as primeiras a perder liquidez e a ter seus preços depreciados", diz Mauro Halfeld, especialista em finanças pessoais.

A vantagem de alugar um imóvel é a possibilidade de escolher o local para onde se quer ir e não precisar de um investimento inicial. "Em geral, as pessoas que preferem comprar desejam integrar-se à comunidade do local escolhido", afirma Luiz Augusto Pereira de Almeida, diretor da Sobloco, empresa responsável pela Riviera de São Lourenço, empreendimento lançado há 25 anos em Bertioga, litoral de São Paulo, e que abriga 7.000 imóveis, dos quais 5.000 apartamentos. Lá, diz ele, cerca de 90% das pessoas optam por comprar imóveis porque a casa de veraneio representa uma segunda moradia.

Experimente antes

Alugar por um período mais longo é o melhor caminho antes de decidir comprar um imóvel. É o que recomenda o empresário paulista Maurício Arruda, 39 anos, casado e pai de um casal de filhos. Há seis anos, ele aluga um apartamento de três dormitórios na Riviera de São Lourenço. A pedido da mulher, Ana Cláudia, decidiu que era o momento de comprar. Arruda explica que a decisão não foi financeira. "O que pesou foi a vontade de ter um lugar com as nossas coisas e a nossa personalidade", diz. Ele gasta mensalmente R$ 3.000, contando o condomínio e outras despesas de manutenção, com o apartamento. "Só vale a pena comprar se você usa com freqüência o imóvel e sua família está enturmada -especialmente os filhos", diz. Se fosse pensar apenas no investimento, Arruda não compraria. "Enquanto os juros estiverem altos, o aluguel é mais vantajoso para quem dispõe de todo o dinheiro e pode ganhar mais no mercado financeiro. Para quem possui só uma parte do valor do imóvel é melhor financiar a compra, porque a prestação e o aluguel se equivalem", observa.

Arruda e os profissionais do mercado concordam ao dizer que comprar um imóvel de veraneio é como comprar um carro de luxo. "Na maioria das vezes é mais uma questão de satisfação pessoal do que propriamente uma decisão de investimento", diz João Teodoro da Silva, presidente do Cofeci (Conselho Federal de Corretores de Imóveis). Para algumas pessoas, a escolha do local é mais importante do que o dinheiro que irão desembolsar. Afinal, tudo tem seu preço. "Quem compra uma casa ou apartamento em regiões da moda, por exemplo, paga caro e perde a maior parte do potencial de ganho. O melhor para obter um retorno maior do investimento é escolher uma região nova, mas que apresente um desenvolvimento acima do normal", observa Halfeld.

Ao comprador de imóvel de veraneio, o presidente do Cofeci recomenda não sair do seu próprio padrão sócio-econômico. E explica: "num condomínio de luxo, por exemplo, os proprietários sempre investem em melhorias. Se você não pode acompanhar o desembolso, fica em dificuldades. A situação inversa também é complicada, porque aí serão os outros proprietários que não aprovarão as melhorias que você quer fazer", diz.

Terrenos em alta

Para quem pensa em possuir uma casa de veraneio, uma opção pode ser construir algo ao gosto da família. Em São Paulo, entretanto, uma das dificuldades para quem está à procura de local para construir é achar terrenos disponíveis, sobretudo no Litoral Norte, o mais valorizado. "Os preços subiram em função dessa escassez e das limitações que as leis ambientais estão impondo", diz Silvio Emílio, diretor da Seaport, uma das principais empresas imobiliárias da região.

Enquanto na cidade o preço do terreno corresponde a 10% ou 15% do preço total do imóvel, na praia o terreno equivale a 60% ou 70% do custo total, informa Emílio. Nos locais mais badalados, o preço do metro quadrado equivale ao de bairros nobres nas capitais. Nas principais praias ao longo da rodovia Rio-Santos, os terrenos custam de R$ 1.500 a até R$ 7.000 o m2, conforme a proximidade da praia. O preço dos imóveis prontos acompanha a tendência de alta dos terrenos.

Esse fenômeno também ocorre nas áreas mais valorizadas de outros locais do país. Um levantamento feito pelo Cofeci revela que na Praia do Canto, em Vitória (ES), o metro quadrado custa até R$ 4.500, superando bairros como Leblon e Ipanema, no Rio de Janeiro, onde o preço médio alcança pouco mais de R$ 3.000. Em Florianópolis, o bairro de Jurerê, refúgio de aposentados e de turistas argentinos, apresenta o metro quadrado mais caro da capital catarinense: R$ 3.300.

O custo alto da construção e dos imóveis faz com que a procura por locação aumente. Emílio, da Seaport, calcula que o movimento de pessoas em busca de casas para alugar tem crescido 20% ao ano. "Hoje os preços de locação na praia são competitivos em relação ao custo de uma viagem de turismo pelo Nordeste", diz. Nas praias mais badaladas de São Paulo, a locação de uma casa ou apartamento de três dormitórios varia entre R$ 2 mil a R$ 3 mil mensais. Na passagem de ano, o aluguel é R$ 800 por dia. Para os imóveis de dois dormitórios, os preços são 40% inferiores. Quem aluga por ano acaba pagando o IPTU e as despesas de condomínio -no caso de apartamentos.

Flávio Florido/Folha Imagem
Arruda e sua família alugaram imóvel antes de comprar apartamento na praia
Arruda e sua família alugaram imóvel antes de comprar apartamento na praia
As vantagens de ALUGAR

>> Escolher lugares diferentes para passar as férias e não precisar de investimento inicial

>> Não ter obrigação de cuidar de uma segunda casa, que fica distante

>> Se a praia ficou cheia demais ou poluída, é só mudar para outra, sem arrependimentos

>> Manter capital disponível para outros investimentos

Dica: Visite o imóvel antes de alugar e confira as despesas extras que não estão incluídas no aluguel

As vantagens de COMPRAR

>> Fazer um bom negócio se o imóvel tiver potencial de valorização

>> Saber que pode viajar a hora que quiser, independentemente de fazer reserva

>> Ter um imóvel decorado a seu gosto

>> Não correr o risco de gostar do imóvel e da região, mas não poder voltar porque o proprietário desistiu de alugar

Dica: Freqüentar o local o ano todo para conhecer virtudes e defeitos. Ter certeza de que toda a família concorda em viajar sempre para o mesmo lugar.

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