Revista da Folha

+ dinheiro

27/11/2006

Afeto/prazer/renda: Cuidado: Tio Patinhas vem aí

por SANDRA BALBI

Está desembarcando no país o Money Camp, curso pioneiro de alfabetização financeira para crianças criado nos EUA há quatro anos por Elisabeth Donati. Formada em educação física, ela teve sua "iluminação" ao ler os best-sellers "Pai Rico, Pai Pobre" (ed. Elsevier), do guru das finanças pessoais Robert Kiyosaki, e "Segredos da mente milionária" (ed. Sextante), de T. Harv Ecker.

Juntou os ensinamentos argentários de ambos à neurolingüística e ao método de ensino acelerado e passou a ensinar os filhos da classe média americana a fazer o dinheiro trabalhar para eles –seja na Bolsa, numa empresa ou no setor imobiliário.

O pontapé inicial do projeto foi dado em Santa Bárbara, resort de veraneio freqüentado pelos milionários americanos. É a essa elite que os pais miram ao enviarem seus filhos para os acampamentos, por uma semana, para aprenderem os caminhos para chegar ao primeiro milhão de dólares.

Em janeiro, os conceitos e práticas do Money Camp começarão a ser difundidos nos primeiros acampamentos de férias para crianças brasileiras, no interior de São Paulo. Silvia Alambert, 38, secretária bilíngüe, adquiriu, por R$ 300 mil, o direito de representar o empreendimento de Donati no país. Sua experiência na área: "Eduquei duas filhas, dei aulas e estou fazendo cursos na Bovespa [Bolsa de Valores de São Paulo] e na BM&F [Bolsa de Mercadorias e Futuros]", diz.

Segundo Silvia, os objetivos do Money Camp foram adaptados à realidade brasileira. Noções de juros simples e compostos e de como investir em ações, imóveis e em negócios próprios estão no pacote.

Fazem ainda parte do treinamento jogos e brincadeiras e a repetição de "mantras" do tipo: "Ativos alimentam, dívidas te engolem", "se não puder comprar à vista, não compre" ou "quem economiza cedo e com freqüência pode se tornar milionário".

Alguns especialistas em finanças pessoais sentem calafrios com o modelo: "A gente treina crianças para deixar as fraldas ou comer com talheres. Lidar com dinheiro pressupõe um processo de educação de longo prazo, baseado em consistência e repetição", pondera Cássia D'Aquino Filocre, especialista em educação financeira e membro da IACSEE (International Association for Citizenship, Social and Economics Education).

Para ela os acampamentos para formar financistas, como o Money Camp, podem até ser divertidos, mas não ajudam ninguém a enriquecer. "Na melhor das hipóteses é inócuo, na pior, dá às crianças uma concepção argentária", afirma.

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