Revista da Folha

+ dinheiro

27/11/2006

Artigo: O impasse do crescimento

O PIB cresceu apenas 2% no primeiro semestre de 2006, mas a absorção interna de bens e serviços cresceu perto de 4%

por LUIZ FERNANDO FIGUEIREDO e CAIO MEGALE

O ano ainda não terminou, mas já é possível fazer um balanço do desempenho do país em 2006. Reduzimos a inflação, as contas externas estão ainda mais robustas e a dívida pública, embora não tenha sido reduzido sensivelmente, apresenta um perfil mais saudável, menos indexada à taxa Selic e ao câmbio. Em suma, aprofundamos os avanços de 2005, o que permitiu ao Banco Central reduzir a taxa de juros para o nível mais baixo das últimas décadas. Abriu-se espaço para uma política ativa de transferência de renda para as camadas mais pobres. É bem verdade que, novamente, contamos com a importante ajuda da economia mundial, que continua demandando nossos produtos e provendo ampla liquidez para os mercados financeiros.

Entretanto, uma pergunta continua a desafiar a todos: por que crescemos tão pouco, diante de condições tão favoráveis? Antes de discutir as razões, é preciso qualificar a pergunta. O PIB brasileiro, a produção doméstica de bens e serviços finais, de fato cresceu apenas 2% no primeiro semestre de 2006 frente ao mesmo período do ano passado. Mas a absorção interna de bens e serviços – que reage aos impulsos fiscais e monetários – cresceu perto de 4%. Esses números sugerem que o problema não está na demanda, mas sim na incapacidade da produção doméstica em atendê-la. Fica claro, portanto, o baixo dinamismo da economia, reflexo de uma carga tributária sufocante e distorciva, do frágil ambiente de negócios e da ainda reduzida participação do país no comércio mundial.

Diante deste quadro, quais as perspectivas para 2007? Continuamos vendo espaço para mais cortes de juros e não esperamos uma significativa depreciação do real. Com a redução adicional de juros e o mercado de crédito ainda em expansão, o consumo privado deve continuar aquecido por algum tempo. Assim, são boas as perspectivas para os resultados das empresas, principalmente nos setores mais sensíveis a essas variáveis, como o imobiliário e os bancos.

É preciso, entretanto, mapear os riscos associados a esse cenário. No âmbito doméstico, não vemos ações concretas para aumentar o crescimento potencial –principalmente no que se refere à principal causa da falta de dinamismo no país, ou seja, reformas que reduzam o peso do Estado na economia– e, portanto, dificilmente chegaremos a um crescimento maior do que 3,5%. Além disso, é possível que o ambiente externo já não exerça influência tão positiva. A economia global deve crescer menos, em resposta ao aumento da taxa de juros em diversos países e à correção forte pela qual vem passando o mercado imobiliário nos EUA. Apesar de não estarmos esperando o chamado “pouso forçado” da economia global, um processo de desaceleração sempre é cercado de incerteza e, portanto, pode ser uma fonte de volatilidade nos mercados.

Dessa forma, o cenário central continua sendo positivo para a evolução dos ativos brasileiros, mas o investidor deve redobrar sua cautela e se preparar para dias mais instáveis.

Luiz Fernando Figueiredo é sócio-diretor da Mauá Investimentos e ex-diretor de política monetária do Banco Central

Caio Megale é economista e sócio da Mauá Investimentos

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