Revista da Folha

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27/11/2006

Renda variável: Bolsa bate juros, até no Brasil

Nos últimos sete anos a Bovespa superou em 46% a rentabilidade da renda fixa; com os juros em queda, aplicar em ações torna-se ainda mais atraente

por PAULA PAVON

Ryan McVay/Getty Images
O que dá mais lucro, investir em ações ou em papéis de renda fixa? A primeira alternativa é a resposta mais comum na grande maioria dos países, quando se pensa a longo prazo. No Brasil essa regra quase sempre foi contrariada pela simples razão de que esta terra tem palmeiras e juros que voam a grandes altitudes. Aqui a renda fixa não deixa ninguém perder dinheiro. Por isso, a maioria dos investidores concentra suas aplicações em papéis desse tipo. O detalhe é que, nos últimos sete anos, quem nadou contra a corrente e comprou ações colocou mais dinheiro no bolso.

A pedido da Folha, a Economática realizou um estudo amplo sobre como o mercado acionário se comportou desde 1999, ano da mudança na política cambial. O resultado confirma: quem aplicou naquele ano R$ 1.000 em renda fixa e obteve a remuneração cheia de 100% do CDI (principal índice de referência desse tipo de papel) acumulou um total de R$ 3.916 até outubro deste ano. O mesmo valor aplicado na Bolsa rendeu 46% a mais, alcançando um total de R$ 5.727.

O investidor que ainda soube escolher os melhores papéis viu seu dinheiro se multiplicar. Quem apostou R$ 100 em ações da Lojas Americanas em janeiro de 99, chegou em 13 de outubro de 2006, com R$ 10.099. Pelo estudo da Economática, o segundo lugar em desempenho nos últimos seis anos ficou com a Gerdau. No caso dos seus papéis, os mesmos R$ 100 viraram R$ 7.189 (veja quadro). "O estudo mostra que paciência e escolha certa levam a bons resultados", diz Fernando Exel, sócio da Economática.

Para fazer a melhor seleção dos papéis, é preciso, primeiro, alguma disposição para entender como funciona a Bolsa. Depois, gastar pelo menos quinze minutos semanais para ler os relatórios de análise das corretoras. "Não basta ter vontade de investir, é preciso ter disciplina", diz Rafael Parga, superintendente da corretora Unibanco. Na hora de escolher os papéis, o investidor precisa levar em conta que fama e tamanho não são os únicos critérios de avaliação. Quem ficou só na aparência, perdeu. As três lanterninhas da Bolsa no período analisado foram Embratel, Vivo e Light, todas bem conhecidas.

Longo prazo

Ganhar dinheiro com ações é algo que depende não só da escolha certa dos papéis. Qualquer empresa, por melhor que seja, passa por bons e maus momentos. "O que resulta num investimento de sucesso é a combinação da escolha certa com a intenção do longo prazo", diz Exel. A Economática fez um estudo para identificar qual o prazo necessário para que o investidor possa recuperar o valor investido em momentos de crise. O período mais longo de recuperação foi no fim do milagre econômico, no começo da década de 70. Quem investiu em maio de 71 viveu períodos de forte prejuízo até recuperar o dinheiro investido em setembro de 85. Foram 14 anos e quatro meses de espera pela volta dos ganhos.

A crise mais recente, a da bolha da internet, iniciada no ano 2000, demorou menos, mas ainda assim o investidor teve de amargar cinco anos e nove meses de espera para reaver o valor investido. "Por isso, além de pensar no longo prazo é fundamental só aplicar em Bolsa recursos que não precisarão ser usados em caso de emergência", afirma Exel. Esse é o melhor caminho para enfrentar os períodos de baixa da Bolsa sem se desesperar.

O investidor Fabio Floh, 27, sabe bem o que isso significa. "Já perdi muito, mas também ganhei", diz. Ele investe em ações há quatro anos, por orientação de um amigo que é corretor. "Comecei, aos poucos, lendo relatórios e fui me interessando", diz ele, que montou uma carteira pensando no longo prazo. "Costumo estabelecer metas de valorização e somente quando atinjo meu objetivo é que vendo o papel", ensina.

Mercado mais forte

Desde 2002, quando Floh começou a investir, a Bolsa evoluiu muito em termos de volume financeiro, quantidade de negócios e participação de novos investidores e empresas. A participação de pessoas físicas cresceu 41% só neste ano e a oferta de empresas aumentou: hoje são 387 companhias listadas na Bolsa de Valores de São Paulo. O número de companhias que seguem padrões de governança corporativa também aumentou. "Isso tudo fortaleceu muito o mercado", diz Adriano Blanaru, chefe de análise da corretora Link.

A perspectiva dos analistas para o futuro é de otimismo moderado. Alguns acreditam que o ritmo de valorização da Bolsa deve diminuir (este deverá ser o quarto ano de alta consecutiva) e prevêem períodos de baixa nos próximos anos. Outros, porém, apostam que o mercado acionário vai continuar com tendência de alta. Para que o cenário mais otimista se confirme, é preciso que o governo americano não precise aumentar os juros para segurar a inflação. Cada vez que isso ocorre, menos investidores vêm para o Brasil, diminuindo a liquidez das aplicações.

Outra preocupação dos analistas é com a instabilidade política no Oriente Médio e seu impacto sobre os preços do petróleo. "No cenário interno, resta saber como o presidente Lula vai conduzir a política econômica", observa Parga, do Unibanco. Um aspecto favorável é a boa performance das commodities internacionais em função do crescimento da China. Algumas empresas brasileiras, como Vale, Petrobras e Suzano Papel e Celulose, que trabalham com commodities e têm participação importante na Bovespa, vêm registrando bons resultados. "Isso vem se refletindo no desempenho da Bolsa como um todo", diz Parga. Quem vai querer ficar de fora?



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