Revista da Folha

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27/11/2006

Ranking dos fundos: Uma virada no risco

Primeiro governo Lula dá susto no início e lucro no final; fundos de ações foram os que mais ganharam

por EDSON PINTO DE ALMEIDA

O mercado financeiro premiou quem não entrou em pânico no final de 2002, diante do chamado "risco Lula". Às vésperas do final do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, os fundos de investimento acumulam ganhos que superam de longe seus índices de referência. A única exceção são os fundos cambiais, que encolheram e deram prejuízo em reais, por conta do câmbio valorizado.

A maior rentabilidade desses quase quatro anos (01/01/2003 a 31/10/2006) foi obtida pelos fundos de ações. Quem aplicou R$ 1.000 em janeiro de 2003, por exemplo, viu seu capital multiplicar-se por três –pela média geral– enquanto o Ibovespa do período ficou próximo a 120%. Em seguida, aparecem os fundos livres, com uma valorização de 98,22% na média geral, maior do que as dos conservadores fundos de renda fixa (86,05%) e DI (82,45%), que ainda assim bateram com folga o CDI (referencial da renda fixa), que ficou em torno de 60%. Já os fundos cambiais apresentaram uma variação negativa média de 30,17%.

Os profissionais que administram os R$ 883 bilhões aplicados em fundos de investimentos (total até 31 de outubro) fazem projeções otimistas em relação ao segundo mandato presidencial. "Mudou o horizonte do cálculo econômico", afirma Nelson Rocha Augusto, presidente da BB-DTVM, administradora de recursos do Banco do Brasil. Essa mudança, para ele, é um sinal verde para que o investidor possa diversificar sua aplicações, assumindo maior risco e olhando o longo prazo. "A discussão hoje é se o país vai crescer muito ou pouco. A perspectiva é de estabilidade cambial e de queda nas taxas de juros", observa.

Há entre os administradores a expectativa de que o Brasil possa alcançar no prazo de dois a três anos a condição de grau de investimento –uma espécie de aval dado ao país pelas agências classificadoras de risco. "O mercado deve se antecipar e já faz as contas para prever qual será o valor dos ativos quando o país receber aquela classificação", diz Agnaldo Fonseca, diretor da área de renda fixa do banco Itaú. Segundo ele, já é possível notar o movimento de capitais internacionais voltando ao mercado brasileiro. "É sinal de que a Bolsa ainda pode subir", afirma.

A procura por aplicações menos conservadoras já diminuiu: os últimos boletins mensais da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) mostram que os fundos DI perderam em setembro e outubro R$ 4,2 bilhões. Os fundos livres e de renda fixa lideram neste ano a captação líquida de recursos –ambos totalizando R$ 36,3 bilhões até setembro.

Os analistas não acreditam em grandes mudanças para 2007. "Será um ano de ajustes e não de enfiar o pé no acelerador, já que 2006 foi um ano de muitos gastos", diz o economista Mauro Giorgi, da corretora Geração Futuro. Para ele, o crescimento do PIB deverá ficar entre 2,5% e 3% em 2007 e alcançar 4% em 2008. O fundo de ações administrado pela corretora ficou em primeiro lugar no ranking da categoria. A rentabilidade alcançada foi de 566,44%, enquanto a média geral da categoria foi de 292,35%. O fundo divide a carteira em duas partes iguais, uma acompanhando os índices gerais da Bolsa e a outra com papéis de empresas cujo negócio demonstra ser sustentável a longo prazo. Integram a carteira do fundo empresas como Guararapes, Weg, Plascar, Randon e Usiminas.

O campeão dos fundos livres (categoria que inclui os multimercados e balanceados) foi o fundo BBM Brady FI Mult. Sua rentabilidade no primeiro mandato de Lula (236,24%) superou largamente a média da categoria, que foi de 98,22%. Os fundos livres trabalham com ações e outros títulos em sua carteira, por isso funcionam como alternativa para o investidor que busca diversificar as aplicações, assumindo um grau de risco maior. O fundo do BBM opera com contratos futuros dos títulos da dívida externa brasileira que são negociados na BMF (Bolsa de Mercadorias e Futuros). "Logo que o medo em relação ao novo governo se dissipou, o risco Brasil caiu e os títulos se valorizaram", conta Júlio Fernandes, gestor de renda fixa do banco BBM.

Os fundos DI e de renda fixa do Itaú tiveram o melhor desempenho em suas categorias. A rentabilidade do Itaú Federal LP Ref DI FI foi de 102,63%, bem acima da média geral de 82,45%. O lucro veio da estratégia de compor a carteira com LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), títulos pós-fixados corrigidos pela taxa Selic. "Em 2002, esses títulos tinham um desconto alto demais para o baixo risco que apresentam. Valia a pena comprá-los", diz Agnaldo Fonseca, diretor do Itaú. Na renda fixa, o Itaú Key Middle RF Índices ganhou dinheiro trocando títulos pós por prefixados e comprando papéis vinculados a índices de preços.

Na categoria de fundos cambiais, a BB-DTVM emplacou seis fundos entre os 15 do ranking de melhor desempenho. O patrimônio líquido somado desses fundos é de R$ 266 milhões. "Essa escala de recursos é fundamental para uma gestão com melhores resultados", diz Nelson Rocha Augusto, presidente da instituição. Os fundos cambiais são uma alternativa para quem precisa proteger o patrimônio porque tem dívidas em moeda estrangeira ou planeja viajar para o exterior. Esse fundos pagam uma taxa de juros além da variação cambial. No caso do fundo BB Camb Euro Lp Priv, primeiro no ranking, os juros pagos somaram 20,78%, mas, com a variação cambial negativa, o fundo acumulou prejuízo de 10,9% –a menor perda dessa categoria de fundos.

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