Folha de S.Paulo Moda
* número 18 * ano 5 * sexta-feira, 11 de agosto de 2006
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Tendência evangélica



A estilista Joyce Flores, da marca Joyaly

Lojas que vendem roupas adequadas aos cultos neopentecostais se expandem no Brás

texto Nina Lemos
foto Autumn Sonichsen

“Temos de outros tamanhos também, irmã.” A conversa não acontece em uma clausura de convento, mas em uma movimentada loja do Brás. A “irmã” em questão faz suas compras, aproveitando o novo hype do bairro comercial de São Paulo: a moda evangélica, um dos segmentos que mais crescem no bairro. Na região, já existem cerca de 20 lojas especializadas em roupas “modernas”, mas que seguem os preceitos evangélicos. As lojas atendem principalmente fiéis de igrejas neopentecostais, como Assembléia de Deus, Congregação Cristã no Brasil e Sara Nossa Terra.

As palavras “moda evangélica” estão escritas nas fachadas das lojas como um atrativo. Dentro, você encontra roupas como quaisquer outras, com muitos bordados e até paetês. A diferença está, principalmente, nos comprimentos das saias e na ausência de decotes e cinturas baixas. São prescrições das igrejas evangélicas, mas as regras variam de acordo com a congregação. As saias obedecem padrões não catalogados pelo mundo fashion: secretária (no joelho), longuete (abaixo do joelho) e longa.

“Tento adaptar tendências internacionais de moda para esses formatos”, explica a estilista Joyce Flores, 24, da Joyaly. A loja, que existe há 18 anos, criou uma segunda linha, mais sofisticada, a La Sorella, para atender a uma clientela mais endinheirada. Joyce e seu sócio Allison são da Congregação em Cristo desde crianças. “No dia do culto vou com minhas criações”, antecipa.

Fã de marcas como Diesel e Miss Sixty, Joyce tenta adaptar para a linha evangêlica o que vê em suas quatro viagens por ano à Europa. “Essa saia, por exemplo, tem uma inspiração militar, de guerra”, conta, enquanto mostra uma saia com jeans lavado e botões.

A moda “evangélica tendência” é um alívio para as irmãs fashion. “Está 100% mais fácil comprar roupas legais que sigam os preceitos da nossa igreja”, comemora Nilce Della Marta, 45, da Congregação Cristã no Brasil.

Em outra loja, uma moça de “saia secretária” chamava a atenção por causa de uma altíssima bota branca usada de forma exuberante. “Hoje temos modelos que não nos deixam com cara de mais velhas”, diz, do alto do salto, Patrícia dos Santos, 28. Ela aproveita para revender roupas para as amigas da igreja que freqüenta, a sede da Congregação, em São Miguel Paulista.

“Na hora do culto, em geral, usamos saias. O que fazemos de diferente é oferecer roupas que sigam a tendência de moda”, explica Edna Freire, da Monia Jeans, também especializada em moda evangélica. Edna pertence à Congregação e trabalha (e vai ao culto) à caráter.

A “tendência evangélica” também está no mundo fashion badalado. A estilista Érika Ikezili, que desfila suas coleções na São Paulo Fashion Week e faz parte da igreja Comunidade Vida em Cristo, escreve versículos da Bíblia nas etiquetas de suas roupas. “Eu acredito que o que vale é a palavra”, diz. E Érika também evita os decotes. “Não é por ser evangélica. Esse sempre foi o meu estilo.” Ela admira também o trabalho da sapateira Francesca Giobbi, que escreve dentro dos sapatos a frase “God is faithfull” (Deus é fiel).
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