27/10/2006
Capa/canto preferido: O reinado das salas
HELOÍSA HELVÉCIA
ilustrações
ADRIANA ALVES
Cozinha não é "o melhor lugar da casa" nem em anúncio de margarina. Desmentindo o clichê, a maioria dos moradores cariocas e paulistanos entrevistados pelo Datafolha mostrou que prefere relaxar se jogando no sofá, cercado de diversões eletrônicas.
canto predileto
Dos + velhos, a sala
Ela foi escolhida por 47% na faixa entre 27 e 40 anos e por 38% dos entrevistados acima dos 41 anos. O quarto vem em 2º lugar, com 26% e 23%
Dos + novos, o quarto
Eleito por 50% na faixa dos 18 aos 26; a sala fica com 29%
A sala foi eleita o canto mais querido de 39% dos pesquisados. Esse cômodo é mais apreciado em São Paulo (43%) do que no Rio (36%). Há uma diferença expressiva, também, entre os moradores de casas e os de apartamentos: a sala é mais importante para esses últimos (45%) do que para os primeiros (32%).
"Até muito recentemente, a cozinha era o espaço mais utilizado da casa, uma característica da arquitetura de tradição colonial, um hábito que vem da época em que o fogão à lenha aquecia o ambiente e juntava as pessoas", situa o arquiteto Gilberto Beleza, do IAB.
Hoje, o que aquece e reúne, ou separa, são a TV, o som, o computador. "Televisão na sala já foi considerada brega, mas ela voltou reabilitada, integrada ao home theater, agregando uma outra qualidade ao espaço e trazendo uma maneira contemporânea de usá-lo. A TV a cabo já é um computador em potencial, a tendência do futuro é essa", diz.
Em São Paulo, 11% dos donos de imóveis ainda citam a cozinha como o lugar que mais usam, contra 7% no Rio. Na interpretação da arquiteta Diana Malzoni, que faz muitas reformas em apartamentos, "os paulistanos recebem mais. Com isso, pedem sempre salas mais abertas, mais integradas à cozinha. No Rio, os encontros acontecem nos bares, na praia. As geladeiras estão sempre vazias, os cariocas tomam café da manhã fora", compara.
detalhe
Mulheres & cozinha
Mesmo na era dos chefs e gourmets, o canto ainda é preferência feminina: ele foi citado por 12% das entrevistadas, contra 5% dos homens; nos outros ambientes, os percentuais são praticamente os mesmos dois sexos
"Pelo menos a sala voltou a ser sala, não é mais 'living'", brinca a arquiteta Patrícia Anastassiadis. A preferência por essa parte da casa, na opinião dela, tem tudo a ver com a queda nos preços das TVs planas. "A cultura brasileira gira em torno de onde está a TV. Aqui não temos biblioteca, mas temos home theater, fazer o quê? É a tecnologia mais acessível que explica a volta da sala como ponto alto."
Mas a arquiteta não vê mais esse ambiente como pólo de união da família: "O que a gente observa é um individualismo cada vez maior e a utilização muito agressiva dos quartos, especialmente pelos adolescentes e jovens. Acredito que as pessoas em geral só passam a usar mais a sala quando se sentem 'expulsas' de quartos pequenos demais", diz.
É o mesmo raciocínio do arquiteto carioca Aníbal Sabrosa: "Sala é lugar agregador para apartamentos menores, de dois quartos. Quando há mais espaço, mais divisões e mais equipamentos tecnológicos à disposição das pessoas, o lugar mais habitado da casa é o quarto de cada um".