27/10/2006
Capa/áreas interna e externa: Desejos de fantasia e silêncio
HELOÍSA HELVÉCIA e
RENATO SCHROEDER
O que pode um singelo playground, ou aquela ergométrica empoeirada, diante de tantas raias olímpicas, spas e demais comodidades que viraram "tendência"?
Não é de estranhar que cariocas e paulistanos mostrem insatisfação com as áreas de uso comum dos edifícios --a maioria deles erguidos duas décadas atrás. "Os prédios antigos não têm nada parecido com essa infra-estrutura que os condomínios-clubes já oferecem, inclusive à classe média", diz Tomás Salles, diretor da imobiliária Lopes (leia texto na pág. 56).
Os entrevistados avaliaram seus imóveis por dentro e por fora. A média geral atribuída à área interna ficou em 8,3, contra 7,9 para a externa. Salão de festas, sala de ginástica e playground foram os itens que receberam as notas mais baixas.
Com relação à área interna do imóvel, um dos aspectos que recebeu notas mais baixas foi "a temperatura no inverno". Segundo o arquiteto Rogério Ribas, a demanda por equipamentos capazes de garantir conforto térmico já é detectada há algum tempo. "Com o clima mudando rápido, as pessoas estão se queixando do problema, nas duas cidades", diz.
Instalações para home theater também foram mal-avaliadas. É natural supor que ocorram "gambiarras", no caso de prédios concebidos até o início dos 1990. "A evolução tecnológica aconteceu muito rápido, os prédios não estão preparados", explica o arquiteto carioca Luiz Eduardo Indio da Costa.
Mais dramática é a falta de silêncio: enquanto o barulho urbano sobe, o item "isolamento de ruídos" recebe as notas mais baixas. Para o arquiteto Márcio Kogan, a questão vem sendo subestimada até em projetos de maior poder aquisitivo: "Ainda sai muito caro pôr vidro duplo nas janelas ", diz. Prédios com paredes de gesso acartonado, no Rio, em empreedimentos top na Barra e em São Conrado, são vendidos com o apelo da tecnologia. "Ocorre que a acústica é péssima, dá para ouvir o som do apartamento vizinho com parede colada", diz Rogério Ribas.
O que mais descontenta os entrevistados é o tamanho dos banheiros. E a quantidade, dizem os especialistas. "A classe média dá grande valor a banheiro. Quando sobe um degrau, quer mais uma suíte, mesmo apertadinha. Lavabos, então, são âncoras de vendas", afirma Pompéia, da Embraesp.
"No Rio, banheiro é área básica, de curta permanência. Já o paulista quer ouvir som no chuveiro. Para ele, o banheiro funciona como um lugar de relaxamento, é um item de conforto, ausente na correria da cidade", interpreta Ribas.
Na hierarquia apontada pelos moradores, "ter mais de um banheiro" é o item mais importante do imóvel. Bem mais que ter "espaço para escritório". Caçoar dessa mania de ladrilho é fácil. Difícil é alguém abrir mão de um espelho para chamar de seu.