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27/10/2006

Morar Brasil: O espaço está lá fora

Grandes áreas de lazer fazem carioca esquecer tamanho do apartamento e morar longe da praia

CRISTINA TARDÁGUILA

Deixar Ipanema e sua famosa praia para morar num bairro antigo em fase de revitalização, como é o caso do Catete, pode ter mais atrativos do que alcança a vista do pessoal que bate palmas para o pôr-do-sol à beira-mar.

A designer carioca Anne Wurman, 26, lista os motivos que a levaram a comprar um apartamento longe da praia: um condomínio com área de lazer que oferece sala de cinema para mais de 60 pessoas, biblioteca, lan house, discoteca, sala de massagem, espaço gourmet, centro de estética, um toque zen para a prática de ioga e meditação, entre outras.

Foto Rachel Guedes/Folha Imagem
Produção Vic Meirelles, agradecimentos: JPS Arte em Vidros tel. 0/xx/11/5063.1717 Ceagesp Box 144B e Varanda Shopping Iguatemi tel. 0/xx/11/3816.1808
Produção Vic Meirelles, agradecimentos: JPS Arte em Vidros tel. 0/xx/11/5063.1717 Ceagesp Box 144B e Varanda Shopping Iguatemi tel. 0/xx/11/3816.1808
"Hoje, moro em Ipanema, num edifício que não me oferece nenhum tipo de lazer, e pago um condomínio de cerca de R$ 1.000. No apartamento novo, que terá inúmeras possibilidades de diversão tanto para mim como para meu futuro marido e meus eventuais filhos, o condomínio sairá por menos de R$ 600. Vou economizar no clube e ter certeza de que a diversão de todos acontecerá num lugar totalmente seguro", acredita a designer.

Assim como Anne Wurman, muitos cariocas estão optando por megacondomínios em bairros distantes dos cartões postais, como Tijuca, Jacarepaguá, Recreio, São Cristóvão e Lapa. São espaços que oferecem apartamentos de baixa metragem e grandes áreas de lazer.

É a onda dos "clubes-residência" ou "resorts", explica o presidente da imobiliária Patrimóvel, Rubem Vasconcelos, lançando mão de um novo nome para algo que nem é tão novo assim.

Divulgação
RIO Projeção do spa do condomínio Quartier Carioca, lançado no Catete, zona sul
RIO Projeção do spa do condomínio Quartier Carioca, lançado no Catete, zona sul
"Essa idéia surgiu no início dos anos 1970, com a expansão da cidade para a zona oeste, mas está sendo levada à última potência nos últimos dois anos", afirma o vice-presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário, José Conde Caldas. "Hoje, um prédio que não oferece nada a seus moradores tem grande dificuldade de venda, enquanto os que têm áreas de lazer literalmente estouram no mercado."

Rubens Vasconcelos diz que os cariocas estão indo morar onde gostariam de passar fins de semana ou férias, lugares seguros que têm verdadeiros clubes prontos para atendê-los. Os apartamentos em si não passam de coadjuvantes e já não importa se você mora numa unidade pequena. "A casa, que agora só serve para dormir, cresceu para fora", acha.

A tendência de quem constrói hoje em dia no Rio, dizem os dois profissionais, é fazer com que o morador não queira nem precise sair do condomínio. "Ter a tranqüilidade de deixar o filho descer para brincar sozinho é algo muito raro hoje em dia. Além disso, se você pega o investimento realizado nessas partes comuns e o divide entre os apartamentos, sai tudo muito barato", analisa.

O novo endereço da designer Anne Wurman será num apartamento de três quartos, de 86 m2, avaliado em cerca de R$ 290 mil. Apesar de reconhecer que a metragem do apartamento é pequena, ela diz que não se importa com o fato de sua nova casa ter uma área 150 vezes menor do que a área de lazer do condomínio.

"É uma questão de custo/benefício. É um negócio interessante para todo mundo: tanto para quem vende como para quem compra, e a área de lazer tem que ter mesmo essas proporções, pois vai atender a 840 apartamentos! O Quartier Carioca será um bairro dentro de outro bairro", ressalta.

A tendência se espalha pela cidade. Em 2008, a zona oeste do Rio, ou seja, Barra da Tijuca, Recreio e Jacarepaguá, por exemplo, terá ao menos seis novos condomínios com o mesmo perfil. Juntos, ocuparão um terreno de cerca de 117 mil m2, o equivalente a mais de 14 gramados do Maracanã. Seus apartamentos básicos, no entanto, têm plantas de dimensões consideradas pequenas por arquitetos e decoradores consultados.

Segundo as três principais construtoras do Rio, a área das unidades oscila entre 67 m2 e 271 m2, e a maioria não passa de 150 m2 e tem, no máximo, três quartos.

Em média, os imóveis da classe A têm 156 m2 e valor médio de R$ 242.787; os da classe B, 102 m2 e R$ 121.106.

Fonte: Datafolha
No Barra Family Resort, da construtora RJZ-Cyrella, o maior apartamento tem 83 m2; a área externa, 20 mil m2. Ela oferece, entre outros itens, praça de meditação, de música e de ioga, piscina com jatos e cortinas d’água, redário, pista de patinação e "lounge band" –leia-se uma pequena discoteca. Segundo a construtora, são "mais de 65 opções de lazer a dois minutos da praia".

Sem história

O panorama desperta muitas críticas entre os arquitetos, que condenam a ênfase no espaço que vai da porta da unidade até as grades da rua. "Esses novos imóveis de plantas pequenas e áreas externas cheias de coisas são para quem não tem história, não tem livros, não tem roupas e não tem papelada para guardar. Em muitos, não dá nem para colocar um armário!", afirma o arquiteto Miguel Pinto Guimarães.

A área externa que interessa, diz ele, tem que ser a própria cidade, a praia, a padaria, como antigamente. "Não dá para ficar vivendo dentro do condomínio. Daqui a pouco, a sociedade vai voltar ao feudalismo."

A arquiteta Christiane Laclau concorda. "As plantas no Rio estão cada vez mais pobres e iguais. Esse negócio de ser criativo só do lado de fora tem a ver com questões comerciais. É muito mais barato fazer sala de cinema e piscina cheia de requinte para vender 80 unidades do que melhorar cada uma e torná-las mais caras, comercialmente inviáveis."

A tendência, prevê José Conde Caldas, é que prevaleça essa linha de fortes investimentos em áreas internas. "Na minha opinião, isso é algo irreversível porque é o que as pessoas querem."

Os especialistas do mercado são mais cautelosos. Na opinião de Luiz Paulo Pompéia, da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio), nada garante que a raia olímpica de hoje não vire, dentro de alguns anos, a sauna de ontem, um mero apelo de venda que não passa pelo teste do tempo, não faz a passagem da fantasia para a realidade e acaba não sendo incorporado aos hábitos do morador.

Os arquitetos, por sua vez, defendem uma pesquisa de pós-uso, para saber o destino final de tantos ambientes novos e tão bem equipados. "Vou adorar saber, o que ocorreu com esses espaços no térreo, depois de três anos de funcionamento. São ambientes artificiais, que não facilitam o convívio e não foram criados em função de necessidades, mas impostos", acredita Gilberto Beleza, vice-presidente do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil). Enfim, as apostas estão na mesa.

     

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