27/10/2006
Morar Brasil: Em terras bandeirantes
ROSANA FARIA DE FREITAS
Rogério Soares/Divulgação |
|
SÃO PAULO Condomínio Paradiso Vila Romano, zona oeste |
Se o Rio, com seu enorme e democrático playground à beira-mar, vem absorvendo a onda de megacondomínios, que dirá São Paulo. O primeiro grande empreendimento do tipo foi lançado aqui na década de 1970. De lá para cá, o processo foi caminhando devagar até que, há oito anos, começou de fato um boom.
Alguns desses empreendimentos ocupam áreas de 230 mil m
2, com infra-estrutura que inclui quadras poliesportivas e de tênis, fitness center, sala de squash, trilhas para caminhada, bosques com cascata e lagos naturais, tendas de massagem, campos de golfe, pet care, pista de cooper, piscinas infantil, semi-olímpica ao ar livre e coberta/climatizada. Além de home theater, salão de jogos, sala de bilhar, saunas , spas, bares e restaurantes e complexos para crianças com playground, sala de repouso, vestiário, cozinha e refeitório. Os empreendimentos recentes incluem lan houses, pista de boliche e arborismo.
Parece o paraíso? Pode até ser, se sua concepção de paraíso incluir também itens como guaritas blindadas, bancadas computadorizadas que controlam todos os pontos do condomínio, cartão personalizado para moradores com abertura automática de cancelas, circuito fechado de TV, sensores infravermelhos de proteção do terreno, ronda eletrônica para acompanhamento da equipe de segurança, cadastramento e monitoramento eletrônico de visitantes e prestadores de serviços.
Há quem faça um paralelo entre os condomínios fechados e o chamado "cocooning" (encasulamento). O termo, cunhado nos anos 1990 pela consultora de marketing americana Faith Popcorn, se refere à tendência, observada nas últimas décadas, de menor socialização dos indivíduos, que passam mais tempo recolhidos em casa (vem do filme "Cocoon", de 1995). Teoricamente, a combinação de internet, novas tecnologias e condomínios que parecem clubes propiciou o ambiente ideal para o "cocooning" ao trazer para um ambiente cercado tudo o que teoricamente a pessoa necessita.
"De fato, os indivíduos vão se protegendo cada vez mais nessas bolhas de sobrevivência. Cria-se um mundo ideal cercado de qualidade de vida, segurança e lazer. No Brasil, essa tendência ganhou força porque os grandes condomínios passaram a oferecer tudo que o poder público acabou relegando a segundo plano. Eles reproduzem as condições de vida ideais que qualquer cidadão deveria ter disponíveis em sua própria cidade", avalia Rogério Santos, diretor de planejamento e marketing da Abyara (SP).
Mais correto dizer que tentam reproduzir. A cidade continua lá fora.