Revista da Folha

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16/04/2007

Orientação financeira: Faça economia: contrate um motorista

Quando é desvantajoso manter dois ou mais carros na família

por PAULA PAVON

Sharply/Dreamstime.com
Em cidades que não primam pelo transporte coletivo, como a maioria das metrópoles brasileiras, ter um carro para a família não é luxo, é necessidade. Mas o que dizer do segundo carro? Ou do terceiro, o carro do rodízio de São Paulo, ou o do filho adolescente? Talvez continue não sendo luxo, mas o que se paga, sem perceber, pela suposta comodidade daria para sustentar um estilo de vida que, algum tempo atrás, era exclusivo das classes mais abastadas. As contas mostram que é possível e economicamente vantajoso trocar o segundo e o terceiro carros por um motorista ou pelo conforto de andar de táxi.

Foi o que fez o casal de advogados César de Oliveira, 34, e Cristiane Calil, 36. Em meados do ano passado, eles foram convencidos pelos cálculos de um consultor financeiro de que era hora de abrir mão de um carro. Oliveira vendeu o Passat 2001 e passou a andar de táxi ou, quando era mais conveniente, de metrô. "Só com estacionamento, gastava R$ 450 por mês", diz o advogado, que trabalha no centro de São Paulo, uma das regiões mais caras para estacionar. Hoje, ele gasta R$ 400 entre táxi e metrô, e não tem mais as outras despesas com o carro. Entre gasolina e seguro, eram R$ 3.500 por ano, ele estima. "Ao ficar com um só carro, fiz uma economia significativa e ganhei mais qualidade de vida", diz. Cristiane usa o carro da família para ir ao trabalho, mas já faz parte dos planos do casal ter filhos e contratar um motorista. "Um único carro com motorista poderá atender toda minha família. Acho que sairá mais barato do que manter dois carros."


Marcos Silvestre, do Centro de Estudos de Finanças Pessoais e Negócios (Cefipe), reconhece que a economia freqüentemente não é o cerne da questão. "Isso de ter mais de um carro está muito enraizado na cultura do brasileiro", afirma. Mas a ordem de grandeza da economia proporcionada pela decisão de abrir mão de um ou dois veículos pode fazer muita gente reconsiderar a conhecida paixão nacional pelo carro.

Carol Carquejeiro/Folha Imagem
A rotina do motorista Jovino Oliveira (à esq.) começa logo cedo, para levar o empresário Videira Filho ao trabalho
A rotina do motorista Jovino Oliveira (à esq.) começa logo cedo, para levar o empresário Videira Filho ao trabalho
Silvestre faz as contas. Supõe que o preço do segundo carro — novo, mas não top de linha – seja de R$ 40 mil. Quanto esse carro custa por mês? A maioria calcula apenas combustível, seguro, manutenção e taxas fixas. Mas isso não é tudo. É preciso levar em conta também a depreciação do capital empatado e o que se deixará de ganhar se a mesma quantia estivesse investida no mercado financeiro. Feitas as contas (veja tabela na pág. 13), o custo desse carro, mesmo no cenário mais conservador, supera R$ 1.900 por mês. Ora, por esse valor, é possível contratar um motorista em tempo integral. Ou andar de táxi – e economizar mais de R$ 10 mil por ano. "Quando a família coloca na ponta do lápis o custo de um segundo automóvel, logo percebe como pode ser vantajoso buscar alternativas de locomoção", diz Silvestre.

Quem se desfaz do terceiro carro também economiza. É o caso do diretor financeiro Vicente Madeira, 42, casado e pai de dois filhos. Em janeiro passado, ficou em dúvida se deveria ou não vender o Seat Ibiza 99, mas hoje acredita que fez bom negócio. "Gostava daquele carro, mas acho que foi vantajoso vendê-lo. Minha família consegue se organizar sem ele", diz Madeira. "Tive uma economia de 30% nos gastos com transporte."

A grande diferença é quando a família radicaliza e vende dois dos três carros. Supondo que esses carros valham R$ 40 mil (o da mulher) e R$ 20 mil (o do rodízio ou o do adolescente), o custo mensal de mantê-los é de R$ 3.258 (veja a tabela ao lado). Com isso, dá para ter motorista e economizar mais de R$ 16 mil por ano. Ou, andar de táxi e deixar de gastar quase R$ 15 mil por ano.

A economia é expressiva, e não é a única vantagem. "Além da diminuição da despesa, a vida fica mais produtiva com o uso de táxi ou com motorista , pois é possível fazer uma leitura, falar no celular e evitar o stress do trânsito", comenta Gustavo Cerbasi, consultor de finanças pessoais.

Leonardo Wen/Folha Imagem
Gostar do que faz é o segredo do motorista Valter Maurício para enfrentar o trânsito em São Paulo
Gostar do que faz é o segredo do motorista Valter Maurício para enfrentar o trânsito em São Paulo
A família Videira constatou essas vantagens na prática. Em meados do ano passado, adotou o esquema de motorista com um único carro – e aprovou. "O relacionamento da família melhorou, porque agora meus filhos decidem entre eles e acertam com o motorista", diz o empresário Antonio Carlos Videira, que é separado e pai de Mel, 17, e Rebecca, 18. A rotina da família começa logo cedo quando o motorista leva Videira ao trabalho e os filhos à escola. No período da manhã, ainda sobra tempo para o motorista atender a mãe de Videira, Liane, 70, com idas ao médico ou ao supermercado. À tarde, os filhos se dividem entre aulas de inglês e academia. "Se meus filhos vão sair à noite, pago extra para o motorista e assim não tenho preocupação de levar nem buscar", diz.

Para o advogado José Carlos Sampaio, 42, casado, ter motorista também significou menos preocupação com os dois filhos. "Antes acordava de madrugada para buscá-los ou ficava preocupado se eles fossem de carro", diz. A decisão, no entanto, não foi fácil. "Dirigi a minha vida toda e sempre pensei em trocar de carro por um melhor. Abrir mão disso requer uma mudança cultural, mas hoje entendo que vale a pena, tanto para o bolso como para a qualidade de vida." Quanto ao motorista, Valter Maurício, 68 (47 de profissão), ele gosta do que faz. "Nem o trânsito de São Paulo me estressa."

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