Revista da Folha

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16/04/2007

Investimentos inconfessáveis: O publicitário que virou drink

Nizan investiu num bar, mas percebeu que o negócio nada tinha a ver com ele

da GUILHERME BARROS

Reza a lenda que ganhar dinheiro é questão de talento. Ou sorte. Ou as duas coisas juntas. Seria também questão de obstinação e foco. Quem sabe ganhar é visto como um Midas. Tudo vira ouro em suas mãos.

Leonardo Wen/Folha Imagem

O publicitário Nizan Guanaes é tido como um desses que nasceram com o dom para a coisa. A coisa, no caso, é o caminho das pedras para ganhar dinheiro.

Nizan, porém, não nasceu com o dom, afirma. Nasceu taurino, com ascendente em gêmeos, desconversa. Baiano agitado (agitação que cresceu à medida que diminuiu de peso; em menos de um ano ele perdeu mais de 50 quilos até chegar aos atuais 85 kg) e descendente de libanês (tem Mansur no nome), Nizan abriu vários negócios na vida. Mas nem tudo que ele tocou virou ouro.

Aos 48 anos, depois de muitas tentativas sem êxito de incorporar um Midas, Nizan aprendeu uma grande lição: o fundamental é se dedicar àquilo que se sabe fazer. No caso dele, publicidade. "Se alguém chegar para mim hoje com uma mina de ouro dizendo que tem um negócio genial para fazer comigo, eu agradeço e digo que o negócio está fora do meu escopo", diz. "Fazer negócio é para homens de negócios. A minha especialidade é comunicação mercadológica."

Não que ele só tenha feito maus negócios. Aos 40 anos, foi responsável por uma das maiores transações da história da publicidade brasileira. Vendeu a agência DM9 para o grupo americano de publicidade DDB por mais de US$ 100 milhões. Quanto ele investira? Uma pequena fração dessa fortuna em nove dígitos: US$ 2 milhões. E não era tudo do bolso dele. Metade foi colocada pelo grupo Icatu, de Kati de Almeida Braga, sua parceria até hoje.

Na época, a DM-9, premiada duas vezes como a agência do ano no Festival de Cannes e ganhadora de mais de 50 leões, tinha se transformado numa marca reconhecida mundialmente.

Foi aí, nesse momento, que Nizan meio que trocou os pés pelas mãos. "Achei que eu era o rei da cocada preta, que podia ser bom em tudo, e comecei a fazer bobagens", confessa.

Entre as "bobagens", Nizan tornou-se sócio do bar Baretto, do grupo Fasano. Não chegou a perder muito dinheiro. O investimento foi de no máximo US$ 100 mil. Mas não tinha nada a ver com ele. Saiu com uma sensação de tempo perdido, e tempo é dinheiro. "Teria sido melhor se eu tivesse dado uma festa com esse dinheiro." Hoje, olhando em retrospecto, diz: "Foi mais um entretenimento do que qualquer outra coisa".

Na seqüência, insistiu no pára-quedismo empresarial. Em 2000, deu um salto livre e caiu no mundo da internet, justo ele que, apegado à velha e boa Remington dos tempos de redator publicitário em Salvador, não tinha menor afinidade com computador. Mesmo assim, foi presidir o iG, o primeiro portal de internet grátis do país.

Não se pode dizer que a experiência tenha sido ruim, mas, não tinha nada a ver com ele. "Não tinha paixão, não tinha vocação e nem visão do negócio", diz. A experiência durou dois anos, e só não se pode dizer que foi uma perda total de tempo porque acabou introduzindo Nizan ao mundo da internet. "Foi melhor para mim do que para o meu dinheiro, até porque eu não investi nesse negócio. Eu atirei no que vi e acertei no que não vi."

Durante esse período de apostas diversificadas, pelo menos um negócio deu certo: o Credicard Hall. Ele fez um bom negócio ao vendê-lo para o grupo CIE Brasil. Mas, religioso, prefere dizer, meio brincando, que foi obra divina. "Foi Nosso Senhor que teve pena de mim."

Nizan aprendeu. Seu dinheiro, ele deixa com especialistas, e nada de se meter em negócios que não sejam aqueles que ele domina. A lista de seus negócios, de qualquer maneira, não é pequena. Além das agências África, DM9DDB, Loducca e outras que estão no portfólio do grupo Ypi de Comunicação, criado

Aos 48 anos, Nizan aprendeu uma grande lição: o fundamental é se dedicar àquilo que se sabe fazer

por ele, Nizan também investe em stock-car e em conteúdo para TV.

Tudo isso, segundo ele, faz parte do seu negócio, que é comunicação mercadológica, um termo abrangente que ele reduz ao seguinte: "O meu negócio é tudo que eu possa criar com uma caneta e um pedaço de papel".

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