Revista da Folha

Morar

01/06/2007

Morar Mundo: Pensão de fino trato

Fechado em 2005 para reforma, o centenário Plaza reabre as portas como hotel-condomínio para os muito, muito ricos

por Denyse Godoy, de Nova York

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Fachada do hotel Plaza, em Nova York.
Fachada do hotel Plaza, em Nova York.
Testemunha privilegiada da história de uma metrópole fascinante, o Plaza ergue-se imponente no sul do Central Park, Nova York. Inaugurado em 1907, o hotel foi alçado à condição de mito, e fica difícil separar verdade e ficção nos eventos de que foi cenário.

Foi nos salões do Plaza que Truman Capote promoveu o Baile do Preto e Branco, em 1966, comemorando o sucesso do livro "A Sangue Frio" para muitos, a maior festa do século 20 em NY. No Oak Bar, os escritores Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway se encontravam para beber.

A lista de hóspedes ilustres inclui reis, presidentes, os Beatles, a atriz Marlene Dietrich, o arquiteto Frank Lloyd Wright, John Kennedy, o cantor Bob Dylan e o ator Humphrey Bogart. Michael Douglas e Catherine Zeta-Jones casaram-se lá, em 2000. O hotel apareceu em filmes como "Descalços no Parque", "Quase Famosos", "Esqueceram de Mim 2" e "Crocodilo Dundee".
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Cozinha do apartamento, que tem preço mínimo de U$ 2,5 milhões
Cozinha do apartamento, que tem preço mínimo de U$ 2,5 milhões

Quem não gostaria de ter como endereço um ícone do glamour como esse? Pois agora é possível, não só como hóspede, mas como legítimo morador. O Plaza se transformou em condomínio. Dos 800 quartos de anteriormente, sobraram 282. Além deles, haverá 182 apartamentos, mais restaurantes e lojas.

"É uma experiência única viver ali, porque nenhum lugar do mundo é como o Plaza", orgulha-se Lloyd Kaplan, relações-públicas da Elad Properties, empresa do israelense Yitzhak Tshuva, que comprou o hotel por US$ 675 milhões (R$ 1,4 bilhões) três anos atrás. A reforma consumiu cerca de US$ 350 milhões (R$ 700 milhões).

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Sala decorada com móveis da grife Versace Home Couture
Sala decorada com móveis da grife Versace Home Couture
Os apartamentos têm de um a quatro dormitórios, a cobertura tríplex, cinco e custam entre US$ 2,5 milhões e US$ 40 milhões (R$ 5 milhões a R$ 80 milhões). Os móveis e acessórios foram especialmente desenvolvidos pela grife Versace Home Couture.

Já os quartos estão disponíveis em cinco plantas diferentes, com área que vai de 500 a 1.500 m2.O banheiro têm torneiras banhadas a ouro 24 quilates e pias e banheira de mármore branco. Preço: US$ 1,6 milhão o mais simplezinho.

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Detalhe do escritório de um dos apartamentos do hotel Plaza
Detalhe do escritório de um dos apartamentos do hotel Plaza
"São perfeitos para quem vem a Nova York com freqüência e gosta de ter um cantinho seu, mas não acha viável manter um apartamento apenas para essas temporadas", acredita Kaplan.

"Comprando um quarto do hotel, o dono pode utilizá-lo até 120 dias por ano. No restante do tempo, ele é normalmente alugado para outros hóspedes, gerando renda para o proprietário." O Plaza cobra dele uma taxa para administrar a suíte. Foram colocados à venda, nesse sistema, 152 quartos.

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Fachada do Trump International Hotel em Nova York
Fachada do Trump International Hotel em Nova York

O mix hotel-condomínio foi a solução do Plaza para se posicionar na guerra imobiliária de Nova York. Por mais lucrativo que seja um quarto de hotel (e os da cidade estão sempre cheios), eles não conseguem competir com os apartamentos de prédios residenciais, cujos aluguéis estão nas alturas. Uma kitchenette localizada em bairro central de Manhattan (mas não o da moda) custa entre US$ 1.500 e US$ 2.000 (R$ 3.000 a R$ 4.000) por mês.

Transformando o Plaza em condomínio, os administradores esperam maximizar o lucro sem descaracterizar o patrimônio da cidade.

A saída não é nova. Já seguiram por esse caminho vários outros, como o St. Regis, também ícone, e o Trump International Hotel. "Meu pai sempre teve certeza de que aquela área tinha um grande potencial", conta Donald Trump Jr.

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Lobby do Trump International Hotel, em Nova York
Lobby do Trump International Hotel, em Nova York
As dependências são cinco-estrelas; os serviços, idem. Não é preciso levar as roupas à lavanderia os funcionários as buscam e devolvem passadinhas direto no armário. As geladeiras são sempre abastecidas, e refeições requintadas servidas a qualquer hora, bastando apenas tirar o telefone do gancho.
Mais: serviço de arrumação diário, aquecimento desde o piso, sistemas sofisticados de ventilação e iluminação, assistência completa para qualquer tipo de problema doméstico. Isso sem falar na vista deslumbrante. Deu tão certo que agora o grupo Trump vai abrir um outro hotel, no badalado bairro do SoHo. Urbanistas como Michael Sorkin, diretor de graduação em desenho urbano do City College, que integra a Universidade da Cidade de Nova York, torcem o nariz para esse tipo de projeto.

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Vista da sala de estar do hotel
Vista da sala de estar do hotel
"De maneira geral, a diversidade de espaços é importante em um prédio: lojas, residências, cultura, lazer, vê-lo funcionando 24 horas por dia. A riqueza de espaços de convivência é que faz da cidade uma cidade", afirma o professor . "Mas, quando falamos de um edifício em particular, como o Hotel Paza, é necessário analisar o que exatamente está incluído no mix e, mais importante ainda, o que foi excluído. Um condomínio de luxo para pessoas podres de ricas não é uma vantagem e não representa um lugar de interação social de verdade."
O arquiteto lamenta que eles estejam se tornando cada vez mais comuns nos EUA.

"Primeiro, eram os condomínios fechados nos subúrbios, semelhantes aos que são construídos em países da América Latina por questões de segurança. Depois, eles ganharam os centros, em forma de comunidades fortificadas verticais, das quais não se precisa sair para nada."

"Não é verdade que o relacionamento seja limitado", diz Trump Jr.. Quem mora no hotel ou fica hospedado por algumas noites adora, fica amigo dos vizinhos, da equipe..."

Em tempo: 90% dos quartos e apartamentos do Hotel Plaza já foram vendidos. Os administradores não revelam nomes, mas confirmam que há muitos brasileiros em meio aos privilegiados proprietários de uma unidade.

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