Revista da Folha

Morar

01/06/2007

Capa: Com os pés no chão


71% dos paulistanos das classes A/B/C moram em casas

por por José Roberto de Toledo

Quando o avião sobrevoa São Paulo antes de aterrissar em Congonhas, o mar de casas parece não ter fim. São mais de 3 milhões de moradias, apertadas em 1,5 mil km2. Nesse oceano de tijolos e telhas, os apartamentos são minoria: apenas 29% dos domicílios paulistanos ficam em edifícios. Ao contrário do que se poderia supor, a verticalização é a exceção, e não a regra. O skyline pontilhado de arranha-céus, embora plasmado no inconsciente coletivo, é um fenômeno restrito ao centro da cidade e pouco representativo do seu conjunto.

Andrea Ebert

Uma pesquisa do Datafolha vem agora mostrar que, mesmo entre aqueles com maior poder de escolha, a opção por estar próximo do solo ainda é majoritária. Na classe de consumo A, praticamente dois em cada três paulistanos vivem em apartamentos (38%). À medida que a renda diminui, a "horizontalidade" da habitações cresce ainda mais: entre a classe C, apenas 23% vivem em edifícios.

"São Paulo tem essa cultura de morar em casa e, para mim, não é nada surpreendente o resultado da pesquisa", afirma Antonio Claudio Fonseca, professor do Grupo de Verticalização da Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie. "Ao contrário de Buenos Aires, que se verticalizou no início do século 20, ou de Paris, que passou pela mesma mudança no século 18, aqui, a memória afetiva, a infância, estão vinculadas à casa."

A São Paulo em que predominam os espigões é uma realidade apenas para os moradores da região central, onde o cenário é exatamente o oposto do restante da cidade: no centro, 80% vivem em prédios e só 20% podem dispensar o elevador ou as escadas para entrar em casa. Embora não na mesma proporção, morar em apartamento também é mais típico de paulistanos instruídos (46% entre os com nível superior) e dos que ganham mais de dez salários mínimos por mês (41%).

Já os habitantes da Zona Norte se beneficiam do horizonte mais desobstruído de São Paulo. Nos morros e baixadas espremidos entre a serra da Cantareira e o rio Tietê, o percentual dos que vivem em edifícios não passa de 13% _na Zona Leste, é de 21%, na Oeste, 37% (veja ao lado).

Marcelo Soubhia/Folha Imagem
"A Zona Norte tem um caráter de bairro muito acentuado, que só se fortaleceu com toda a infra-estrutura que recebeu nos últimos 20 anos. A região ganhou metrô, avenidas que levam rapidamente à área central, que fica do outro lado da ponte, um dos maiores shoppings da cidade, lazer, serviços, enfim, uma estrutura equipada para manter seus moradores", avalia Fonseca, do Mackenzie, que ressalva:

"Mas tem uma topografia difícil, o que pode mudar o cenário daqui para frente. Apenas 2 km separam a calha do rio do pé da serra da Cantareira, e os prédios já estão surgindo ao longo das grandes avenidas", diz.

Também na densidade, Centro e Zona Norte têm os perfis mais diferentes entre as várias regiões da cidade. Na média, os paulistanos das classes A, B e C moram em residências onde vivem 3,4 pessoas. No centro essa média cai para 2,4 pessoas, enquanto ao norte do Tietê há quatro pessoas por domicílio. Isso porque na região central é mais freqüente encontrar pessoas morando sozinhas (17% do total), enquanto 37% dos habitantes da ZN vivem com cinco ou mais pessoas na mesma casa.

Ao pensar em comprar um imóvel, a maioria absoluta dos paulistanos das classes A, B e C sabe o que prefere: um novo. São 53% de preferência, contra 32% que optariam por um usado. Apenas uma minoria de 13% prefere comprar um imóvel na planta, em fase de lançamento. A única exceção são os moradores da Zona Sul, onde há um empate técnico entre os que preferem o novo (43%) e o usado (42%). Também é mais provável que um paulistano da classe A (17%) compre um imóvel em fase de lançamento do que um da classe de consumo C (11%).

A opção pelo imóvel novo e pelos lançamentos é explicada, principalmente (39%), pelo fato de ele não precisar de reformas. Outros pontos importantes que pesam a favor da casa ou do apartamento novo, na opinião dos paulistanos, é que ele é mais moderno (21%), tem pagamento facilitado (17%) e é mais fácil de financiar (10%).

Já aqueles que preferem o imóvel usado dizem fazer essa opção porque ele é mais barato (32%) ou porque é mais espaçoso do que as construções modernas (26%). Uma parcela menor (12%) acha que a reforma é uma vantagem, já que pode deixar a casa com a cara do dono. Para esses paulistanos, o imóvel novo não é uma boa alternativa porque tem pouco espaço (36%) ou preço muito alto (35%).

O Datafolha propôs ainda aos paulistanos uma situação hipotética: se fossem comprar um apartamento e tivessem que escolher entre um imóvel maior mas em um edifício sem área de lazer ou o contrário, o que escolheriam? Nada menos do que 73% prefeririam ter mais espaço interno. Não é difícil entender o porquê. Apenas um terço dos moradores de prédio vivem em condomínios com área de lazer. Desses, 61% dos entrevistados dizem não usá-la nunca ou apenas raramente.

Colaborou: MARILIZ PEREIRA JORGE

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