Revista da Folha

Morar

31/08/2007

Jeito de morar: o fim está (+ou-) próximo

O apartamento foi barato, mas as obras já consumiram duas vezes o valor do imóvel, duram seis anos e o morador ainda tem planos para mais quatro

por Joni Anderson
fotos Alexandre Schneider

Reprodução

Maquete digital do projeto dos ateliês verdes na Vila Madalena


Quando trocou a Paulista pela esquina das avenidas Ipiranga e São Luis, uma das mais tradicionais de São Paulo, Eduardo Paziam, 36, traçou planos de longo prazo. Ele não só apostou nos planos de revitalização da área central como decidiu encarar o que para a maioria dos mortais seria um pesadelo: morar no apartamento enquanto promove uma reforma prevista para durar dez anos.

"Na época, investi todo o dinheiro que tinha, contrariando a opinião da família e de alguns amigos", diz o agente têxtil internacional. O imóvel foi até barato, mas ele já gastou duas vezes mais na reforma, que ainda não terminou. Pergunte se valeu a pena.

Acima,vista da praça da República a partir da sacada do apartamento; à dir., o guarda-roupas que cobre uma das amplas paredes da suíte principal foi pintado com canetas esferográficas pelo artista Ricardo Cruz e demorou quase um ano para ficar pronta
"Claro que sim! As pessoas não imaginam que exista um lugar assim em São Paulo. Daqui dá para ver a serra da Cantareira, e o skyline lembra Nova York. Tenho tudo à mão; a poluição sonora não chega; posso ir trabalhar a pé, de bicicleta, carro ou transporte coletivo, sem poluir, é uma contribuição para o planeta. E olhe a espessura das paredes... Posso dar uma festa sem incomodar ninguém."

Seis anos e seis obras depois, o apartamento de 480 m2 está 70% pronto. O arquiteto Dennis Sandei ficou responsável pelo projeto; Washington Dias, pela execução, e Flavius Lessa Braga assina a decoração. Juntos, eles assumiram

a transformação do apartamento, com o compromisso de não alterar aspectos importantes da arquitetura original.

Construído em 1949, o prédio pertence à tríade de um dos mais disputados condomínios de luxo dos anos 50,

antigo endereço dos barões do café e hoje reduto de arquitetos, decoradores, colecionadores de arte e artistas.

Ângulos do condomínio projetado por Joan Villà e Sílvia Chile em Cotia
A disposição dos ambientes na planta em forma de ferradura facilitou as modificações. Os 29 cômodos originais foram reduzidos a 12. O primeiro passo foi restaurar o piso de madeira e trocar a pintura amarela das paredes pelo branco total. Feito isso, começou a eliminação de muitas paredes que delimitavam as áreas social e dos empregados.

Pouco a pouco, a austeridade dos tempos dos barões saiu de cena para dar lugar a ambientes mais amplos e integrados. Detalhes, como o piso de mármore italiano, foram preservados, mesmo sofrendo pequenas alterações e novos recortes.

A decoração ressalta pe-ças de arte e souvenirs do mundo todo. O trabalho como agente têxtil internacional obriga Paziam a viajar para lugares como Tailândia, Marrocos e China, além da rota tradicional dos grandes centros europeus e norte-americanos. De cada viagem, ele traz móveis, acessórios, telas, esculturas e objetos de arte arrematados em leilões ou garimpados em lojas e exposições.

A arte brasileira também desperta a admiração do morador. Peças de Bre-nand e Aldemir Martins convivem com novos artistas plásticos e fotógrafos, como Leopoldo Nóbrega, Lídia Lisboa, Julio Barreto

e Fabiana Arruda.

"Encontrei um espaço com história e arquitetura para abrigar minha própria história de vida. Esse aconchego ajuda a me refazer cada vez que volto pra casa", conclui Paziam.


Sala de jantar e copa Cores e formas da pop art. Na parede, imagens das solas dos pés do morador compõem a série "Os pés que Deus me deu". A mesa de vidro bisotado para 12 pessoas precisou de 14 homens para erguê-la até o 20º. As cadeiras coloridas em metacrilato são da italiana Arcobellini. Dividindo jantar e copa, balcão em sucata executado por Lúcio Bittencourt

Hall de entrada Inspirado na África, o espaço leva à biblioteca e aos dormitórios e isola a área social da íntima. Nele, convivem uma carcaça de alce do Alabama, um tapete chinês de guepardo e outro de onça. Nas paredes, telas de autoria do proprietário Suíte Com vista privilegiada para a zona norte, o dormitório traz os gatos de Aldemir Martins e novos nomes das artes plásticas

Living O móvel de linhas retas e mistura de texturas é projeto de Paziam; as cadeiras de madeira são de "seu" Fernando, artesão da ilha do Ferro com mais de 50 anos de ofício. Pufes marroquinos em couro e espelho veneziano completam o décor globalizado

Biblioteca A eliminação do terceiro dormitório aumentou a biblioteca, que agora abriga o escritório e a sala de TV. Os armários feitos pelo Liceu de Artes e Ofícios, marcenaria chique da época dos barões, receberam pintura automotiva

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