São Paulo, domingo, 13 de maio de 2001


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Movimento surgido na Itália em 86 chega ao Brasil e promove jantar no Rio no dia 30

Slow Food prega o prazer

DA REPORTAGEM LOCAL

Foi a gota d'água. A abertura de um McDonald's na Piazza di Spagna -um dos maiores cartões postais de Roma, na Itália-, em 1986, fez um grupo de amantes da comida lançar uma ofensiva contra modelo de fast food que começava a dominar a Europa: o movimento Slow Food. A empreitada nasceu em Bra, no Piemonte, região norte daquele país.
Quinze anos depois desse começo quixotesco, o movimento conseguiu conquistar cerca de 65 mil adeptos em todo o mundo.
O Slow Food chegou ao Brasil poucos meses atrás, com a abertura de centros no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. O primeiro grande evento da comunidade brasileira será um jantar, preparado especialmente no restaurante Grottamare, no próximo dia 30, no Rio de Janeiro.
O presidente do Slow Food na Itália, Carlo Petrini, classifica o movimento como ecogastronômico. "Não podemos ser gourmets sem ser ambientalistas nem ambientalistas sem ser gourmets. E é evidente que a comida, principalmente na Europa, se tornou uma questão política. Mas não somos um movimento político, gostamos de nos considerar um lobby virtuoso pelas questões da alimentação", filosofa.

Manifestos
Esse lobby virtuoso tem como alicerce três manifestos. O primeiro, de 1989 -ano da internacionalização do movimento-, defende o direito ao prazer proporcionado pela comida.
"O prazer de comer deve existir para todo mundo. A fast food mata o sabor e a curiosidade de experimentar novos pratos. Por meio da filosofia do Slow Food, cada país poderá encontrar uma forma de promover e exaltar a sua cultura culinária", diz Petrini.
O segundo manifesto traz um posicionamento em relação à biotecnologia. O Slow Food não é contrário à utilização da ciência para a melhoria de alimentos. O uso de enxertos vegetais e da fermentação controlada é citado por Petrini como exemplo do que a biotecnologia trouxe de bom.
Contudo, para ele, a questão dos alimentos transgênicos é um outro caso, que exige cuidado e visão.
"Devemos conhecer melhor as técnicas atuais em vez de experimentar novas, cujos efeitos de longo prazo não são conhecidos", afirma.
O terceiro manifesto traz um posicionamento favorável à biodiversidade e se inspira na arca de Noé. A idéia é montar projetos para impedir a extinção de alguns alimentos e barrar a padronização industrial da comida. "É preciso promover pesquisas e espalhar a consciência de que produtos muito tradicionais são dignos de ser preservados", diz.
Mas essa preservação não é de todo pacífica. Não raro o Slow Food entra em conflito com normas ditadas por agências de controle alimentar para manter sabores originais. "Deflagramos uma campanha mundial em defesa dos queijos feitos a partir de leite cru, que são proibidos", conta.

Convívios
Os grupos que atuam no Brasil são chamados "convívios" -comunidades que formam a base internacional do movimento Slow Food.
No Rio de Janeiro, o "convívio" está a cargo de Margarida Nogueira, uma chef autodidata que soube do Slow Food pela internet e depois conheceu o presidente do movimento, Carlo Petrini, em Bra, em viagem pela Itália.
No Rio Grande do Sul, o Slow Food também começa a ganhar impulso. Coordenado pelo médico Jorge Onassai, o "convívio" trabalha com duas prioridades: preservar as cozinhas das etnias que formam o gaúcho e transformar a cidade de Antônio Prado, no interior do Estado, em "Città Slow" (cidade lenta, numa mistura de italiano e inglês) -cidades comprometidas em melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, sobretudo no que diz respeito à comida. (GUILHERME WERNECK)



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