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Movimento surgido na Itália em 86 chega ao Brasil e promove jantar no Rio no dia 30
Slow Food prega o prazer
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi a gota d'água. A abertura de um
McDonald's na Piazza di Spagna
-um dos maiores cartões postais de
Roma, na Itália-, em 1986, fez um
grupo de amantes da comida
lançar uma ofensiva contra
modelo de fast food que começava a dominar a Europa:
o movimento Slow Food. A
empreitada nasceu em Bra,
no Piemonte, região norte
daquele país.
Quinze anos depois desse
começo quixotesco, o movimento conseguiu conquistar
cerca de 65 mil adeptos em
todo o mundo.
O Slow Food chegou ao
Brasil poucos meses atrás,
com a abertura de centros no
Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. O primeiro grande evento da comunidade brasileira será um jantar,
preparado especialmente no restaurante Grottamare, no próximo dia 30,
no Rio de Janeiro.
O presidente do Slow Food na Itália,
Carlo Petrini, classifica o movimento
como ecogastronômico. "Não podemos ser gourmets sem ser ambientalistas nem ambientalistas sem ser
gourmets. E é evidente que a comida,
principalmente na Europa, se tornou
uma questão política. Mas não somos
um movimento político, gostamos de
nos considerar um lobby virtuoso pelas questões da alimentação", filosofa.
Manifestos
Esse lobby virtuoso tem como alicerce três manifestos. O primeiro, de
1989 -ano da internacionalização do
movimento-, defende o direito ao
prazer proporcionado pela comida.
"O prazer de comer deve existir para todo mundo. A fast food mata o sabor e a curiosidade de experimentar
novos pratos. Por meio da filosofia do
Slow Food, cada país poderá encontrar uma forma de promover e exaltar
a sua cultura culinária", diz Petrini.
O segundo manifesto traz um posicionamento em relação à biotecnologia. O Slow Food não é contrário à utilização da ciência para a melhoria de
alimentos. O uso de enxertos vegetais
e da fermentação controlada é citado
por Petrini como exemplo do que a
biotecnologia trouxe de bom.
Contudo, para ele, a questão dos alimentos transgênicos é um outro caso,
que exige cuidado e visão.
"Devemos conhecer melhor as técnicas atuais em vez de experimentar
novas, cujos efeitos de longo prazo
não são conhecidos", afirma.
O terceiro manifesto traz um posicionamento favorável à biodiversidade e se inspira na arca de Noé. A idéia
é montar projetos para impedir a extinção de alguns alimentos e barrar a
padronização industrial da comida.
"É preciso promover pesquisas e espalhar a consciência de que produtos
muito tradicionais são dignos de ser
preservados", diz.
Mas essa preservação não é de todo
pacífica. Não raro o Slow Food entra
em conflito com normas ditadas por
agências de controle alimentar para
manter sabores originais. "Deflagramos uma campanha mundial em defesa dos queijos feitos a partir de leite
cru, que são proibidos", conta.
Convívios
Os grupos que atuam no Brasil são
chamados "convívios" -comunidades que formam a base internacional
do movimento Slow Food.
No Rio de Janeiro, o "convívio" está
a cargo de Margarida Nogueira, uma
chef autodidata que soube do Slow
Food pela internet e depois conheceu
o presidente do movimento, Carlo
Petrini, em Bra, em viagem pela Itália.
No Rio Grande do Sul, o Slow Food
também começa a ganhar impulso.
Coordenado pelo médico Jorge
Onassai, o "convívio" trabalha com
duas prioridades: preservar as cozinhas das etnias que formam o gaúcho
e transformar a cidade de Antônio
Prado, no interior do Estado, em
"Città Slow" (cidade lenta, numa mistura de italiano e inglês) -cidades
comprometidas em melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, sobretudo no que diz respeito à comida.
(GUILHERME WERNECK)
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