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BRASILÂNDIA
Falta
de calçamento é apontado como um dos principais problemas da área,
que inclui Freguesia do Ó e Cachoeirinha; violência lidera preocupações
"Quando chove, a lama
toma conta de tudo"
Dedo
Galdieri/Folha Imagem
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Carro
tenta ultrapassar os buracos de uma rua da Brasilândia |
DA
REPORTAGEM LOCAL
Em
13 anos, o carteiro David dos SantosBarbosa, 29, assinou vários abaixo-assinados
e ouviu promessas de dezenas de políticos durante as campanhas eleitorais,
mas nada mudou.
A rua Manuel Marques de Sousa, na Vila Brasilândia (zona noroeste de São
Paulo), ainda é a mesma de quando chegou para morar com os pais, em 1987:
de terra e totalmente esburacada.
Barbosa não é o único a reclamar. A falta de calçamento e de asfaltamento
e os buracos foram apontados como o principal problema do bairro onde
mora por 9% das 221 pessoas ouvidas pela pesquisa Datafolha na área da
Brasilândia _que inclui Vila Brasilândia, Nova Cachoeirinha e Freguesia
do Ó.
O servente de pedreiro Simão Ferreira dos Santos, 25, deixou a cidade
de Juazeiro, no interior da Bahia, há dois meses, para morar no Jardim
Damasceno.
“Se tivesse asfalto, a vida ia melhorar muito”, afirmou Santos, que mora
na rua Projetada 1. “Quando chove, a lama toma conta de tudo”, disse.
Apenas 2% dos entrevistados afirmaram que a Prefeitura de São Paulo teve
bom desempenho no serviço de calçamento de ruas. Para 38% dos entrevistados
na área, a violência é o pior problema da Vila Brasilândia.
A criminalidade na região é alta. Dos entrevistados na área agregada,
31% disseram conhecer alguém que foi assassinado nos últimos 12 meses.
A média geral de todas as regiões ficou em 26%.
Mas o carteiro diz que nunca foi assaltado ou sofreu qualquer tipo de
violência. “O que causa transtorno aqui é a sujeira: a poeira nos dias
de calor e o lamaçal nos de chuva”, afirmou Barbosa.
Segundo o carteiro, a situação só não é pior porque os próprios moradores
costumam jogar entulhos de obras na rua para permitir que carros de passeio
consigam cruzar pelo barro.
A rua, que está no mapa de São Paulo, mas que mais parece um beco, não
permite a passagem de caminhões.
As cargas são despejadas pelos caminhões no começo da rua, e o morador
tem de arrumar um jeito de carregar até sua casa.
Ele disse que não se lembra de ter visto funcionários da Prefeitura de
São Paulo fazendo alguma melhoria na rua onde mora com a mulher e os três
filhos pequenos. “Ainda acredito que alguém possa olhar para esses lados”,
afirmou, esperançoso.
A cozinheira Diomar de Oliveira Silva, 51, disse sofrer tanto com a falta
de infra-estrutura na Vila Brasilândia quanto com a violência do local.
Diomar afirmou que as melhorias na rua Clara Nunes, no Jardim Elisa Maria,
resumem-se a um trecho ocupado pelos principais comerciantes.
“Esse trecho para cá parece que foi excomungado”, afirmou Diomar, que
divide seu dia entre a cozinha de um supermercado e seu pequeno bar, localizado
na Clara Nunes, na parte que não recebe manutenção da prefeitura.
A criminalidade na região também influi na vida da família de Diomar.
O filho da cozinheira, Renaldo Oliveira Corticeiro, 17, deixou de estudar
neste ano porque tem medo de ir à escola.
“No colégio tem muito nóia (viciado em crack). É melhor ele parar e seguir
os estudos no ano que vem em outro lugar do que ficar no colégio sem segurança”,
disse.
A cozinheira também afirmou que a polícia raramente passa pelo local.
“Quando aparece, só passa pelas lojas. Não sobe a ladeira”, afirmou a
cozinheira.
A criminalidade na região é alta, mas a taxa de mortalidade por homicídio
em 99 praticamente não mudou em relação ao ano anterior. A Vila Brasilândia
registrou 92,63 mortes por 100 mil habitantes em 98. Em 99, foram 92,31.
Os dias de chuva da doméstica Rosália Alves de Oliveira, 36, trazem mais
do que lama. O córrego atrás de sua casa, no Jardim Damasceno, na Vila
Brasilândia, transborda, e os barracos próximos ficam inundados.
As enchentes e a falta de canalização de esgotos foram apontadas como
o principal problema por 6% dos entrevistados na Vila Brasilândia.
Moradora há um ano da rua Projetada 2, Rosália disse que a população sofre
tanto nos dias de chuva quanto nos de sol.
O esgoto, despejado diretamente no córrego, causa forte odor nos dias
quentes. “Tenho dores de cabeça por causa disso”, disse.
Segundo a doméstica, o acesso à educação também não é o ideal. Rosália
teve de ameaçar a diretora de uma escola com uma ação na Justiça para
conseguir uma vaga para a sua filha de 16 anos. “Mas consegui. Esgoto
é que está difícil”, afirmou.
Segundo pesquisa Datafolha, o item educação/escolas/creches foi apontado
como o principal problema por 3% dos entrevistados. (GILMAR PENTEADO)
Leia também:
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