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VILA PRUDENTE

71% dos moradores não saem ou evitam locais ou pessoas à noite; área que engloba o complexo Heliópolis registra até o roubo de botijões de gás

Toque de recolher é saída para violência

João Wainer /Folha Imagem
Esther Navarro e o marido Pedro têm grades de três metros de altura ao redor da casa e nas janelas

A REPORTAGEM LOCAL

A região da Vila Prudente, na zona sudeste de São Paulo, concentra o maior número de eleitores paulistanos que se utilizam do toque de recolher voluntário como medida contra a violência.

A pesquisa do Datafolha mostra que 13% dos entrevistados não sai à noite. A média registrada no município ficou em 19%.

Outros 58% evitam locais, ruas ou pessoas ao escurecer, também com medo da criminalidade.

Sobra um terço da população com direito a voto que não teme sair de casa à noite.

Segundo censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), meio milhão de pessoas vivem nessa parte da cidade, que abrange Ipiranga, Vila Prudente, Cursino e Sacomã.

A área analisada inclui ainda o complexo Heliópolis, um aglomerado de favelas onde moram aproximadamente 90 mil pessoas _quase um quinto da população dessa região. A favela Heliópolis é a maior de São Paulo.

É nesse complexo que a polícia registrou os maiores conflitos entre traficantes nos últimos dez meses. Por duas vezes, as quadrilhas implantaram toque de recolher, fecharam escolas, expulsaram famílias de barracos. Houve três chacinas seguidas.

Na época, os supostos traficantes em guerra entraram na frequência de rádio do Corpo de Bombeiros para chamar uma equipe de resgate. A polícia investigou a possibilidade de se tratar de uma cilada, uma vez que os bombeiros que ficam no bairro socorreram vítimas de uma das chacinas, mas nada foi provado.

Medo

A dona-de-casa Esther Navarro, 68, ilustra bem a preocupação dos moradores com a segurança. Sua casa tem grades de três metros de altura com lanças cercando a frente e as laterais. Ladrões só entram pelo telhado dos vizinhos. Se chegarem à área interna, terão de enfrentar mais grades na garagem e nas janelas dos quartos.

Nem o botijão de gás fica à mostra no quintal. Os donos da casa, que fica na esquina de uma quadra, em frente a um jardim, construíram uma “casinha” nos fundos do terreno para evitar furtos durante a noite. Foram dois os casos, em menos de seis meses, antes que o aparato ficasse pronto para esconder o botijão.

“Tive de fazer isso porque não aguentava mais ter gente estranha no meu quintal, mexendo na porta e levando coisas de casa”, disse.

Esther, o marido, duas filhas e um neto também evitam as ruas à noite. Dias atrás, ela viu a filha espantar um garoto que ameaçou tomar a bolsa dela, quando retornava do trabalho no começo da noite. “Era um garotinho de nada, de mais ou menos 10 anos, que chegou e disse ‘quer ver eu ficar com a sua bolsa?’”

A dona-de-casa e o marido, Pedro Navarro, 75, moram no bairro há 40 anos e se lembram de quando as famílias ficavam na praça em frente. Agora, observam o movimento pelas grades das janelas, aprenderam como é o som de tiros de revólver e sabem que helicóptero sobre o bairro é sinal de problemas _são policiais caçando bandidos ou as emissoras de televisão atrás da polícia.

“É comum a gente ouvir tiros na rua à noite”, afirma Navarro, que dorme com a mulher no quarto da frente da casa.

Perfil

Os eleitores da Vila Prudente foram os que relataram ter sido assaltados com maior frequência em São Paulo: 2,7 cada _marca igual à do Centro/Sé, onde estão as delegacias com os piores índices de roubos por habitantes.

Apesar disso, a região é uma das que os eleitores mais disseram ver a polícia perto de casa pelo menos uma vez ao dia. Afirmaram isso 58% dos entrevistados, ante uma média de 40% na cidade.

Dos entrevistados, 35% consideram a segurança o principal problema da cidade, mas esse número sobe para 39% quando as pessoas ouvidas pensam no bairro onde vivem.

A mensagem transmitida é simples, de acordo com pesquisadores ouvidos pela Folha: a insegurança está na porta dos eleitores dessa região.

Saneamento básico, enchentes e moradia foram os únicos problemas do bairro com redução entre as preocupações dos eleitores da Vila Prudente, se comparados aos resultados obtidos em 96 com os dados atuais do Datafolha.

Há quatro anos, 22% das pessoas que foram ouvidas nessa região da capital disseram que o bairro não tinha nenhum problema. Agora, o indicador caiu para 8% _menos da metade.

Os itens saúde e educação quase dobraram o índice no ranking de problemas usado pelo Datafolha, passando de quatro para sete pontos percentuais. O desemprego, que não aparecia na pesquisa de 96, surge agora como prioridade para 6% das pessoas ouvidas. Uma das explicações vem da própria expansão das favelas pelo bairro.
(ALESSANDRO SILVA)


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