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PROBLEMA Nº 2
Segundo
o Datafolha, 24% dos eleitores consideram a falta de vagas
de trabalho o principal desafio a ser enfrentado pelo futuro prefeito
Ações contra desemprego têm pouco efeito
Luiz
Caversan/Folha Imagem
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Ladeira General Carneiro (região central), que concentra grande
número de camelôs, atividade que cresce devido ao desemprego
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CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
As ações adotadas pela prefeitura para tentar conter o desemprego
na cidade têm pouco efeito prático. Frentes de trabalho e
guerra fiscal, por exemplo, implementadas pelo prefeito Celso Pitta, ou
empregam um número muito pequeno de pessoas ou, no segundo caso,
têm um resultado questionável, afirmam especialistas que
lidam com a questão do desemprego.
O desemprego foi apontado por 24% dos eleitores entrevistados pelo Datafolha
como o principal problema da cidade.
Desde que foi implementado pela Secretaria Municipal do Desenvolvimento
Econômico, Emprego e Requalificação Profissional,
em junho do ano passado, o programa das frentes de trabalho beneficiou,
segundo a assessoria de imprensa, cerca de 26 mil pessoas. Entre os contemplados
há 400 moradores de rua, 300 ex-detentos e 556 adolescentes que
passaram pela Febem e se encontram em regime de liberdade assistida.
Durante o período em que está no programa, o beneficiado
presta serviço à prefeitura e recebe uma ajuda de custo
de R$ 231 por mês, já incluídos o auxílio-refeição
e o vale-transporte. Além disso, ele passa por cursos de capacitação
profissional.
Pouca eficácia
Esses 26 mil beneficiados, porém, representam 2,9% dos desempregados
que vivem na cidade. De acordo com a Fundação Seade (Sistema
Estadual de Análise de Dados), a taxa de desemprego no município,
em junho, era de 17,5% da PEA (População Economicamente
Ativa).
Na capital, essa PEA está estimada em 5,160 milhões de pessoas.
A Fundação Seade considera como economicamente ativo o cidadão
acima de 10 anos de idade. Dessa forma, esses 17,5% de desempregados na
cidade somam 903 mil pessoas.
De acordo com o Seade, os desempregados estão concentrados na faixa
etária de 25 a 39 anos (32,6%), e 41,4% não completaram
o ensino fundamental. Além disso, segundo informações
da fundação, 38,8% trabalhavam no setor de serviços,
15,2% no comércio e 20% na indústria.
Outra iniciativa adotada pela prefeitura para tentar criar empregos foi
a redução da alíquota do ISS (Imposto sobre Serviço)
para empresas de softwares. Com o decreto de Pitta, a alíquota
caiu de 5% para 2,5%.
O argumento da prefeitura para adotar essa medida foi que outros municípios
da região metropolitana haviam reduzido consideravelmente o ISS
e São Paulo não podia ficar de braços cruzados,
como disse Pitta à época.
Paliativo
O diretor-técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos), Sérgio Mendonça, disse
que a prefeitura pode fazer muito pouco para gerar emprego.
Mendonça destacou que a criação das frentes de trabalho
ajuda, mas não resolve o problema.
O diretor do Dieese afirmou que o prefeito pode fazer pressão política
pela reforma tributária e fiscal, por exemplo. Mas suas iniciativas
terão um efeito prático muito pequeno. Qualquer candidato
que disser que vai resolver o problema do desemprego não está
falando a verdade, afirmou.
Para Mendonça, a guerra fiscal incentivada pela redução
do ISS não é uma boa solução porque não
se pode medir sua eficácia, uma vez que o município perde
receita de arrecadação.
Márcio Pochmann, professor do Instituto Econômico e pesquisador
do Centro de Estudos Sindicais de Economia do Trabalho da Unicamp (Universidade
de Campinas), concorda com Mendonça sobre os efeitos pouco eficazes
da guerra fiscal.
Sinergia
De acordo com Pochmann, essa disputa entre os municípios tira
uma sinergia para um ação em comum na região metropolitana,
que poderia render benefícios para todos.
Pochmann defende a implementação das frentes de trabalho,
mas disse que só isso não basta para minimizar o problema
do desemprego. Ele afirmou que falta um planejamento sobre a vocação
do município
.
Esse planejamento chegou a ser traçado por um Plano Diretor, encaminhado
à Câmara pelo prefeito Celso Pitta, mas que lá permanece
sem nenhuma perspectiva de votação. O plano iria mostrar
em quais áreas haveria espaço para a indústria ou
onde o comércio e a prestação de serviços
poderiam se desenvolver.
O secretário da Comunicação Social da prefeitura,
Antenor Braido, culpa a oposição, que tem 20 vereadores,
pela falta de votação do plano. Há 35 vereadores
governistas.
Tanto Pochmann quanto Mendonça defenderam também a implementação
do programa de renda mínima como forma de atenuar os efeitos do
desemprego. Pitta chegou a incluir o programa no orçamento deste
ano, mas, dos recursos reservados, mais de 70% foram remanejados para
pagar obras ou dívidas da prefeitura.
Criminalidade
Apontadas como as principais preocupações dos moradores
de São Paulo, a falta de segurança e o aumento da criminalidade,
no entanto, não estão ligados diretamente ao desemprego,
segundo alguns estudiosos.
Para a antropóloga Alba Zaluar, coordenadora do Núcleo de
Pesquisas das Violências da Uerj (Universidade Estadual do Rio de
Janeiro), não há nenhuma relação direta
entre as duas coisas.
A pesquisadora trabalha com um modelo interativo: não se pode fazer
uma relação de causa e efeito entre os dois fenômenos,
mas estudar as combinações entre vários acontecimentos
que produzem um resultado.
Para ela, pesam outros fatores também, como a ação
do tráfico de drogas, o trabalho da polícia e a sensação
de impunidade.
Lógico que uma situação econômica
desfavorável, no cálculo dos riscos que a pessoa corre com
as vantagens que terá, aumenta a probabilidade de que mais jovens
optem pela carreira criminosa, afirma Alba.
A antropóloga entrevistou jovens envolvidos com o tráfico
no Rio de Janeiro e encontrou vários relatos de pessoas que entraram
para o crime com o objetivo de juntar dinheiro para depois abrir um negócio
próprio.
O que acontece é que entram e são pressionados
a se envolver cada vez mais. Segundo ela, o governo poderia oferecer
mais linhas de crédito para pequenos projetos como forma de fazer
frente a essa idéia.
Ilanud
Estudos realizados pelo Ilanud (Instituto Latino Americano das Nações
Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente)
também apontam na mesma direção da antropóloga.
De acordo com o instituto, a correlação entre os dois fenômenos
existe, porém é fraca e relativa. Isso porque, segundo os
estudos, que foram publicados em 1998, os efeitos do desemprego no aumento
da criminalidade não são imediatos.
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