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10/07/2006 - 06h55

Expulsão de Zidane repete frustração em documentário

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AMIR LABAKI
Articulista da Folha

A expulsão de Zinedine Zidane na final de ontem não foi a primeira que frustrou um espetáculo em que todo o foco se concentrava em torno dele. Zidane também foi mandado mais cedo para o chuveiro, e também por agredir um adversário fora do lance de bola, ao fim da partida entre Real Madrid e Villareal em que foi rodado no ano passado o documentário experimental "Zidane --Um Retrato do Século 21".

Lançado no último Festival de Cannes, em maio passado, já em cartaz na França, mas sem previsão de estréia no Brasil, o filme leva para a tela grande a admiração pelo craque francês de dois artistas plásticos estreantes em longa-metragem, o britânico Douglas Gordon, vencedor do prestigiado Turner Prize de 1996, e o francês Philippe Parreno, que tem obras nas coleções do Museu Guggenheim de Nova York e no Centro Georges Pompidou de Paris.

"Zidane" radicaliza as possibilidade do chamado "Cinema Direto" nesta era de cinema digital. Gordon e Parreno sabiamente convocaram um craque da direção de fotografia contemporânea, Darius Khondji, o mesmo de "Seven" e de "A Intérprete". As filmagens ocorreram durante a partida entre Real Madrid e Villareal durante o Campeonato Espanhol de 2004/2005, jogada em 23 de abril do ano passado em pleno estádio Santiago Bernabeu, em Madri.

Quinze câmeras foram distribuídas em torno do campo, duas delas de "high definition" e contando com poderosas lentes para "zoom". Zidane monopoliza o foco. O documentário dura 86 minutos, e não os 90 do jogo completo, o tempo exato da presença dele em campo até a expulsão.

O enquadramento se alterna entre registros fechados em Zidane, em "close" ou de corpo inteiro, com ou sem bola, e outros mais gerais. Nestas imagens mais amplas, o som acompanha uma narração da partida em espanhol. Nas tomadas mais próximas, ouvimos os ruídos da bola, trocas de palavras entre os jogadores, manifestações das arquibancadas.

O dispositivo se completa com pontuais inserções de legendas com frases de Zidane. Nada, porém, que flerte com o biografismo tradicional. Referem-se a suas lembranças do narrador esportivo preferido de sua infância em Marselha, às reações frente aos ruídos dos estádios e ao reconhecimento das saudades que a aposentadoria agora concretizada deixará do "quadrado verde".

É uma pena que a edição de imagens prejudique "Zidane _Um Retrato do Século 21". Jamais se articulam plenamentea visão da partida e a contribuição específica de Zizou para aquele jogo. As sacadas da edição de som em muito superam a da montagem das imagens.

"É um retrato cinematográfico de Zinedine Zidane, um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos: assim que Zidane toca a bola, o jogo começa a respirar diferentemente", derramam-se Gordon e Parreno no material de divulgação do filme.

"Zidane é o mais elegante e provavelmente mais carismático de todos os jogadores", prosseguem. "Nosso antigo herói, o lendário Garrincha, foi a encarnação política da oprimida classe de brasileiros de origem africana, que se identificaram também com Pelé. (...) Para Zidane, por sua vez, por ficar calado, seria redundante ser representante ou porta-voz. Ele apenas existe como jogador de futebol".

O diálogo Garrincha-Zidane, involuntariamente para Gordon e Parreno, transferiu-se dos campos para o filme. "Zidane --Um Retrato do Futebol" realiza agora o que era o projeto original do produtor Luiz Carlos Barreto para o documentário "Garrincha, Alegria do Povo" (1963), dirigido por Joaquim Pedro de Andrade.

A primeira idéia era fechar o foco e acompanhar, drible a drible, uma partida inteira de Garrincha. O desenvolvimento técnico do cinema na época, ainda engatinhando com as câmeras mais leves e ágeis e com o gravador portátil Nagra para som sincronizado, levou Joaquim Pedro a optar por outro formato, tornando "Garrincha" um misto de filme de arquivo e de documentário ensaístico.

Ao fim, fica um duplo sabor de frustração. O filme não é tudo o que promete, e Zidane não estava num daqueles dias iluminados, como nas Copas de 1998 e deste ano, contra o Brasil. Estava mais para um partida apagada como a de ontem contra a Itália.

O monumento audiovisual a Zidane o congela numa partida em que ironicamente brilhou mais a estrela de Ronaldo, autor de um gol e da assistência para outro na vitória do Real Madrid por 2 a 1. Não era um dia de show do grande Zidane.

Ainda assim, no documentário, é ele o herói. Ontem, foi o vilão. Ninguém roteiriza o futebol.

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