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26/08/2003 - 08h31

Memória: Leia texto da Folha sobre a confusão na final do Paulista-73

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da Folha de S.Paulo*

Santos e Portuguesa, por decisão de José Ermirio de Moraes Filho "ad referendum" da diretoria da Federação Paulista de Futebol, são os campeões de 1973. A decisão surgiu de uma reunião de bastidores entre o presidente da FPF e os presidentes Vasco Faé, do Santos, e Osvaldo Teixeira Duarte, após toda a confusão gerada no Morumbi, por causa de um erro de direito do arbitro Armando Marques. A Portuguesa desistiu de entrar com um recurso, pedindo a anulação do jogo; o Santos aceitou a sugestão de Ermirio, mesmo sabendo que teria grandes chances de ser campeão isolado; e o presidente da Federação Paulista de Futebol não escondeu a sua satisfação, depois do acordo geral:

"O que decidimos virá em beneficio do proprio futebol paulista".

O jogo terminou sem gols. O Santos dominou a partida, criou excelentes oportunidades de gol --Pelé mandou três bolas na trave-- mas a Portuguesa foi excelente no seu esquema defensivo. Por causa dessa igualdade ao termino do tempo normal, houve necessidade de prorrogação de trinta minutos (dois periodos de quinze minutos). Nessa prorrogação, nervosismo e desgaste dos times foram notados. A Portuguesa aproveitou a retração do Santos e equilibrou as ações. Teve uma grande chance, quando Basilio perdeu um gol certo, mas também o Santos desperdiçou uma excelente oportunidade, quando de uma tabela de Pelé Edu (que Calegari desfez). Os gols também não surgiram na prorrogação, sendo necessaria a decisão por penaltis.

Zé Carlos perdeu o primeiro penalti, que Zecão defendeu. Isidoro perdeu o segundo, que Cejas defendeu. Carlos Alberto fez o primeiro do Santos, a seguir. Calegari falhou na cobrança seguinte. Depois Edu fez o segundo gol do Santos e Wilsinho mandou a bola na trave.

Armando Marques, errando, apontou o Santos como campeão. No entanto, o regulamento determina que cinco devem ser as cobranças para cada equipe e, até então, cada time havia cobrado apenas três penalidades, restando um total de quatro penaltis, dois para cada time. Como o Santos estava com vantagem de 2 a 0, ainda havia a possibilidade de novo empate, desde que a Portuguesa convertesse os dois penaltis restantes e desde que o Santos jogasse fora duas oportunidades. Se o empate ao final dessa serie fosse caracterizado, a disputa de titulo prosseguiria, com a cobrança alternada de penaltis.

Como Armando Marques resolveu encerrar com a serie de cobranças, o Santos passou a comemorar a conquista. Os jogadores choravam e corriam, davam inculsive a volta olimpica. Os jogadores se retiravam aos vestiarios, também chorando.

A confusão foi formada depois, quando Armando Marques, procurado por José Ermirio de Moraes Filho e por Paulo Machado de Carvalho, reconheceu o seu erro. Chegou-se a afirmar que as equipes voltariam ao campo e que as penalidades restantes seriam cobradas. Mas a Portuguesa não concordou com essa decisão. Os jogadores se trocavam rapidamente e deixavam o estádio, enquanto que os refletores do Morumbi eram apagados. Também os jogadores do Santos, tomando conhecimento da confirmação do erro por parte de Armando Marques, deixaram as comemorações, trocaram de roupa e começaram a se dirigir para o ônibus.

Enquanto isso, havia o corre-corre de dirigentes; do Santos, da Portuguesa, da Federação. Osvaldo Taixeira Duarte, assessorado pelo diretor juridico, recusava-se a mandar a equipe para campo novamente, defendendo a tese da realização de uma nova partida:

"O senhor Armando Marques teve uma grande atuação. Mas falhou no momento da cobrança de penalidades e, inclusive, reconheceu o seu erro. Agora, nós da Portugues vamos dar entrada de um recurso na Federação Paulista de Futebol, pedindo a anulação da partida, com o base no erro de direito do juiz. O regulamento manda que sejam cobradas cinco penalidades por equipe e ele foi desrespeitado. Não podemos aceitar uma solução que nos prejudique".

O presidente da Federação Paulista de Futebol, procurando contornar o problema, entendia que a solução deveria surgir hoje, quando de uma reunião com os dirigentes:

"Realmente, o senhor Armando Marques se equivocou. Agora precisamos encontrar a solução. Entendo que a partida terminou e que houve falha na cobrança de penalidades. Assim sendo, os penais restantes devem ser cobrados, em outra data. Mas para mim não existe possibilidade de anulação de partida, porque ela foi legal. A cobrança de penaltis é parte extra e entendo que Pelé, Leo, Cabinho e Basilio devem cobrar os penaltis que faltam".

Oto Gloria evitava declarações bombasticas ("O meu trabalho foi cumprido e de meus jogadores também. Realmente houve irregularidades nas cobranças de penaltis, mas isso é assunto para a diretoria."), enquanto que os jogadores também evitavam comentarios, como Tatá:

"Estou indo embora porque me mandaram trocar de roupa. Acho que não vai haver nenhuma cobrança. Só sei que amanhã (hoje) tenho que me apresentar no Canindé".

Armando Marques, depois do contato com os dirigentes da Federação, permanecia nos vestiarios, junto a Emilio Marques de Mesquita e José de Assis Aragão. O superintendente da FPF, Alvaro Paes Leme, também permanecia nos vestiarios e o trio de arbritragem evitava entrevistas.

O publico já estava longe do estadio, tentando encontrar melhor maneira de fugir do congestionamento. Alguns ainda comemoravam o titulo conquistado pelo Santos, não sabendo que nada ficara decidido. Os que levaram radios portateis acompanhavam o noticiario. O recorde de publico e de renda provou o interesse pelo jogo e o congestionamento era esperado.

No Morumbi, a confusão continuava. Osvaldo Teixeira Duarte dava declarações rapidas, tentando encontrar o presidente Ermirio de Moraes, que por sua vez procurava o presidente da Portuguesa e o presidente do Santos. Este, também estava à procura dos outros dois ("Não sei o que irá acontecer. Prefiro antes me reunir com o presidente da Federação").

Armando continuava no seu vestiario, protegido por policiais. Mas não houve nenhuma manifestação hostil contra ele. Jornalistas recordavam de um caso semelhante ocorrido no Rio. Num jogo entre o Fluminense e o Vasco, o arbitro Carlos de Oliveira Monteiro cometeu erro de direito contra o Vasco, que perdeu o jogo. Houve o recurso, foi realizada nova partida, que o Fluminense venceu, ganhando o titulo. Amérigo Egidio Pereira, um dos vice-presidentes da Federação voltava ao vestiario de Armando Marques com uma nova formula:

"A cobrança de penalidades devem voltar a campo para cobrar, cada uma, cinco penalidades".

Mas Osvaldo Teixeira Duarte mantinha sua opinião:

"Erro de direito, como dizem as leis da FIFA, anula o jogo. E esse erro de direito foi caracterizado. Como as penalidades, da mesma forma que a prorrogação, fazem parte do jogo, ele terá de ser anulado".

Pepe, tomando conhecimento do rumo dos acontecimentos, se mostrava contrario à idéia de novo jogo ("Se tiver que jogar de novo, não jogo"). No fim, os dois presidentes conseguiram se encontrar. E uma rapida reunião foi realizada. A Portuguesa concordou em não entrar com o recurso. O Santos aceitou dividir o titulo com o clube adversario. E a Federação proclamou ambos campeões, para evitar a ação do Tribunal de Justiça Desportiva que demandaria em muito tempo e por problemas originados pela ausencia de datas disponiveis, caso fosse resolvido que novo jogo devesse ser realizado.

SANTOS
Cejas; Zé Carlos, Carlos Alberto, Vicente e Turcão; Clodoaldo, Léo e Jair (Brecha); Eusébio, Pelé e Edu
Técnico: Pepe

PORTUGUESA:
Zecão; Cardoso, Pescuma, Calegari e Isidoro; Badeco, Basílio e Xaxá; Enéas (Tatá), Cabinho e Wilsinho.
Técnico: Oto Glória

Local: estádio do Morumbi
Árbitro: Armando Marques
Público Pagante: 116.156

* Transcrição (foi mantida a escrita original usada na época) de texto publicado pela Folha de S.Paulo no dia 27 de agosto de 1973, um dia após a final do Campeonato Paulista daquele ano.

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