Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
30/05/2004 - 09h10

Treino na roça é trunfo de meio-fundista brasileiro

Publicidade

ADALBERTO LEISTER FILHO
da Folha de S.Paulo, em Marília

Poucos competidores do circuito internacional de atletismo contam com um local para treinos bem ao lado de casa. Osmar Barbosa dos Santos, 35, uma das esperanças de medalha do Brasil na Olimpíada, tem esse privilégio.

Mas sua pista não tem piso emborrachado e medidas oficiais. Ele faz sua preparação em uma estrada de terra, ao lado de sua casa, em Rosália, distrito de Marília (444 km a noroeste de São Paulo).

"Estou acostumado a treinar na terra. Até estranho quando vou passar um período longo na pista dura", conta Barbosa, que reclamou de dores em Big Bear (EUA), em abril, durante treino promovido pela confederação brasileira.

"Não conheço nenhum atleta de ponta que faça corrida semelhante. Esse é o meu segredo. Escondo ele ao máximo", afirma ele. "Nunca tive problema no joelho, nem passei por cirurgia", gaba-se.

O atleta só vê a pista sintética em competições. Foi dessa maneira pouco usual que ele surpreendeu a todos e ficou com o bronze no Mundial indoor de Budapeste, em março. Barbosa recolocou o Brasil no pódio em uma prova de meio-fundo na pista coberta, fato que não ocorria havia 15 anos.

"Meu objetivo era a prata. Fiquei preocupado com os três que ficaram atrás de mim e não percebi o outro [Rashid Ramzi], que me ultrapassou. Foi frustrante."

Talento descoberto tarde, Osmar começou a correr aos 25 anos. Em seguida, tentou patrocínio na prefeitura. "Quando o secretário de esporte soube minha idade, não deu. "Esse aí está muito velho." Hoje ele é meu amigo."

Sem dinheiro, o ex-bóia-fria parecia fadado a retornar à casa dos pais e ao campo. "No primeiro dia cortei lenha com machado e fiquei com a mão cheia de calos. Resolvi tentar de novo a pista."

O caminho para lá foi tortuoso. Barbosa viveu uma época em que alternava treinos com a atividade de instrutor de musculação. À noite fazia bico como segurança da boate Avenue. "Meu chefe dizia que gostava de minha atitude", diz Barbosa, que não tem um físico avantajado (1,75 m e 68 kg).

De volta à rua, correu em busca do sonho de ir à Olimpíada. Deu certo.

Descoberto pelo técnico Luiz Alberto de Oliveira, o mesmo que revelou Joaquim Cruz, Barbosa fez índice nos 400 m e foi aos Jogos de Atlanta-96.
Três anos depois, foi disputar um GP nos EUA. Voltando de lesão, resolveu correr os 800 m. Ficou em segundo. Duas semanas depois, venceu a distância no Troféu Brasil. Aos 31, tinha descoberto a sua prova favorita, que o levou aos Jogos de Sydney-00.

"Tenho bons resultados há três anos, mas não aparece patrocínio", lamenta Barbosa, dono do prêmio de melhor índice técnico do Troféu Brasil em 2002 e 2003.

O atletismo ao menos o levou a treinar em locais distantes como Manaus, Rio e San Diego. Mas nenhum lugar é melhor do que a sua terra. "Sinto muito a falta da família. Quando viajo, ligo para a minha mãe todo dia", conta o único solteiro entre nove irmãos.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página