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Marco
Ankosqui/Folha Imagem
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Cacique
Suptó durante debate, no auditório da Folha |
Foi realizado quinta-feira
(4/5), no auditório da Folha, o debate "Cidadania Indígena",
promovido pelo jornal e pelo Ideti (Instituto de Desenvolvimento das
Tradições Indígenas). Participaram do evento Suptó, cacique Xavante
da aldeia Eteñiritipa, no Mato Grosso; Arako, representante do povo
Meinako; Sérgio Leitão, coordenador de projetos especiais da Funai;
o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, professor livre-docente do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp; e Daniel Munduruku,
vice-presidente do Ideti.
O evento, mediado pelo jornalista Mario Cesar Carvalho, foi antecedido
pela exibição do documentário "A'Uwe Eptabi" (que significa O Povo
Verdadeiro), realizado pelos moradores da aldeia de Suptó, em Pimental
Barbosa, chamada Eteñiritipa, e que mostra algumas das tradições seguidas
pelos índios xavantes da região.
No debate, propriamente dito, os convidados chegaram à conclusão de
que a principal questão da cidadania indígena é a aceitação e preservação
do modo de vida e tradições dos povos. "A sociedade cria regras para
o indivíduo se enquadrar nela. Nós agora temos de pensar nossa inserção
nessa sociedade, como indivíduos. Se uns são mais cidadãos do que
os outros, há alguma coisa errada", disse Daniel.
"Mas não podemos esquecer que respeitar a diferença não é tratar os
índios como 'menores' politicamente. É necessário um reaparelhamento
da Funai para garantir direitos já adquiridos pelos povos", afirmou
Leitão.
Esse consenso também é afirmado pela maioria da população brasileira,
segundo pesquisa do IBGE apresentada por Garcia Santos. Segundo os
dados, 92% da população do país acredita que os índios devem manter
suas tradições e cultura, 68% acha que os índios tem terra suficiente
ou pouca para viver, garantida pelo governo em reservas (22% acredita
haver terra demais para pouco índio), e 88% disse que os índios não
são ignorantes, só têm uma cultura diferente da "branca" e que isso
deve ser respeitado e protegido.
Para o professor da USP, só as "elites brasileiras" ainda não perceberam
a importância da preservação do modo de vida indígena. "O Itamaraty,
por exemplo, bloqueia no exterior a denominação dos povos indígenas
como povos, mantendo a nomenclatura de comunidades. Tudo vai na direção
do reconhecimento, mas os donos do poder do Brasil estão na contramão
da história, ainda estão em 1500."
Como solução apontada, a do índio Daniel, que usa como sobrenome o
nome de sua tribo (Munduruku), pereceu resumir a intenção dos outros
participantes da mesa e do auditório: "É preciso educar o coração
das pessoas. Em qualquer tribo indígena, ninguém é melhor do que os
outros, todos sofrem e se divertem juntos. Enquanto as pessoas não
aprenderem a sentir o sofrimento e a alegria alheios, não haverá cidadania
para ninguém, branco ou índio".
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