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Uma questão de bom senso

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se dar bem nas matérias que pouco têm a ver com o curso escolhido faz a diferença.” Foi esse o sobretítulo de reportagem publicada no caderno Fovest da semana passada. Certamente, a frase não soou mal nos ouvidos da maioria dos falantes do português do Brasil, embora contenha um “erro” ou um “desvio da norma culta”. De acordo com os gramáticos, não se deve usar o pronome oblíquo átono no início de um período. Mas essa é uma regra que, dificilmente, usamos na linguagem oral.

Na década de 1920, uma das bandeiras do movimento modernista foi a redução da distância entre a linguagem falada e a escrita. Mário de Andrade chegou a sonhar com a sistematização do português falado no Brasil e, em seu romance “Amar: Verbo Intransitivo”, usou e abusou das orações iniciadas por pronomes átonos, tão simpáticas à nossa dicção.

Oswald de Andrade, embora não tenha carregado o estandarte da “língua brasileira”, fez sua intervenção na seara da colocação pronominal, defendendo o nosso jeito de falar. Diz o poeta em “Pronominais”: Dê-me um cigarro/ Diz a gramática/ Do professor e do aluno/ E do mulato sabido/ Mas o bom negro e o bom branco/ Da Nação Brasileira/ Dizem todos os dias/ Deixa disso camarada/ Me dá um cigarro”.

Você deve estar se perguntando por que, então, estudar essa regra, se até os escritores já se rebelaram contra ela.

Certo conservadorismo que se observa entre os gramáticos é uma espécie de dever de ofício, diz respeito ao princípio de manutenção da funcionalidade da língua. Tente imaginar o que aconteceria se a gramática incorporasse imediatamente todas as inovações que se apresentassem.

Talvez nós não compreendêssemos a linguagem de nossos avós. Isso não quer dizer, no entanto, que a língua seja estática e que a simples “cópia” de modelos clássicos seja receita para escrever bem. Ao contrário disso, é preciso lembrar que ela se transforma no decorrer do tempo, abandonando algumas estruturas e adquirindo outras, num processo extremamente vital de interação com a realidade. Foi para esse processo que os modernistas nos chamaram a atenção.

Em suma, lidar com a linguagem no dia-a-dia exige bom senso, capacidade de distinguir as situações que requerem mais rigor daquelas em que podemos ser menos ortodoxos.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha e apresentadora das aulas de gramática do programa “Vestibulando”, da TV Cultura.

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