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09/02/2001 - 04h10

Funk carioca desce o morro e invade SP

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LÚCIO RIBEIRO, da Folha de S.Paulo

Se é que já não pegou você, vai pegar. Está tudo dominado. O funk carioca desceu o morro, se espalhou pela zona sul e, não contente, pegou a Dutra e já invadiu São Paulo.

Se o conceito MPB levar a sério o seu "P", de popular, vai perceber que a sigla está mais malandra, a onda é requebrar a cintura (ou o "popô") e cantarolar "Cerol na Mão", "Tapinha" e "Tá Dominado", hinos que já reverberam na avenida Paulista, no centro da cidade, em academias de ginástica e casas noturnas. Está na TV, nas ruas, na moda.

Quando, no final de dezembro passado, em um dos jogos finais da Copa João Havelange, entre São Caetano e Vasco, a torcida vascaína entrou no Parque Antártica (SP) cantando "Tá dominado, tá tudo dominado", o ato de invasão foi sacramentado.

Àquela altura, discos de funks piratas já estavam sendo consumidos aos montes via camelôs na Paulista e no centro. Nas Grandes Galerias, tradicional conglomerado de lojas de discos, o funk carioca estava no topo dos mais vendidos CDs do subsolo do lugar, reduto do rap paulistano.

Mas a bandeira funk carioca vai ser espetacularmente fincada no coração paulistano no próximo 17, sábado, quando, na badalada rua Funchal, na Vila Olímpia, mais precisamente na danceteria América, vai ocorrer o primeiro baile funk paulistano promovido pela lendária Furacão 2000.

A Furacão 2000 é a megaempresa do mercado funk carioca. Surgida há longínquos 28 anos, a marca, fundada pelo polêmico empresário carioca Rômulo Costa, é responsável por mais de 20 bailes funk por semana no Rio, tem estúdio próprio, jornal, dois programas de TV e um de rádio.

Mas o veio de ouro está nos discos editados por gravadoras tradicionais e depois por selos próprios, que agora chegam a 26 lançamentos. O último deles, "Furacão 2000 - Tornado Muito Nervoso", é o responsável pela explosão nacional do funk carioca, cotado como o ritmo do Carnaval, dos bailes de salão à festa baiana dos trios elétricos no reino do axé.

"Conseguimos entrar em SP no vácuo da saturação do pagode e do axé. Com a Xuxa tocando, o Gugu, não é só SP que se abre para o funk. Pelo que soubemos, está estourado em Porto Alegre, São Luís, Salvador", comemora Rômulo Costa, que afirma ter vendido em janeiro cerca de 150 mil cópias para atacadistas de SP e, recentemente, 40 mil cópias para a rede de supermercados Extra.

O funk já chegou ao governo. A mulher de Rômulo, a "popozuda" (veja glossário nesta página) Verônica Costa, primeira-dama da Furacão 2000, foi a vereadora mais votada nas últimas eleições do Rio, com 37 mil votos.

O fenômeno ataca por todos os lados. No Rock in Rio 3, Paula Toller cantou trecho de "Tapinha" durante apresentação do Kid Abelha. Fernanda Abreu bombardeou umas 150 mil pessoas com o refrão de "Cachorra Chapa Quente" em sua apresentação.

"Acho muito saudável a galera de SP e a classe média em geral consumirem o funk carioca. É o som criado nas favelas e subúrbios do Rio, espécie de ponte entre as "cidades partidas" (zonas ricas/zonas pobres)", diz Fernanda.

Mas foi na TV que o fenômeno ganhou sua vitrine mais reluzente. A "madrinha" Xuxa não pára de tocar, cantar e dançar o funk na tela da Globo, em seu "Planeta Xuxa", desde novembro de 2000.

"A razão de o funk estar presente nos programas da Xuxa é por ela ser funkeira por excelência. Na Globo, ela, mais do que ninguém, gosta do gênero", afirma Marlene Mattos, diretora-geral do "Planeta Xuxa" e responsável pelas descobertas sonoras que podem virar moda, via Xuxa.

O apresentador Luciano Huck, do também global "Caldeirão do Huck", é outro porta-voz funk. Huck até mostrou em entrevista um CD de funk para a boys band "NSync, que o levou para casa.

Agora o funk já está no Gugu. E fez o animador do SBT, cansado de bater o "Domingão do Faustão" em audiência, emplacar o feito inédito de ganhar, no último domingo, da própria Xuxa e seu outro programa, "Xuxa Park".

Terça passada, a banda funk Bonde do Tigrão deu alegria também à TV Bandeirantes. Músicas como "Cerol na Mão" provocaram recorde de audiência no programa "Superpositivo", que chegou a festejados 10 pontos.

E que música é essa, que depois de 28 anos embalando festas nos morros do Rio chega à TV, a boates da moda da abastada zona sul carioca e virou febre nacional?

Registro sonoro dos famosos e violentos bailes das favelas cariocas, movidos por hipnóticas batidas programadas e sons estourados de baixo, o funk "tipo exportação" mudou o foco. Suas letras, que falavam muito em favela e tráfico, hoje são brandas e versam sob gíria e sobre sexo. O tema universal é o da "popozuda", mulher de bunda grande. A classe média acha graça e não se assusta.

O próximo passo da dominação chega na semana que vem, quando as lojas de discos serão atingidas pelo lançamento, pela gigante Sony, do CD homônimo do Bonde do Tigrão. O CD terá "Cerol na Mão 2", candidato a novo hino.

"Nesta semana eu estava aí em SP e foi engraçado. Por onde andava, ouvia a minha voz nas ruas, em todo lugar", diz Tigrão, depois de uma sessão de fotos para a capa do disco, feita às pressas pela Sony, para não perder o... bonde.

Talvez a mais famosa banda funk, o Bonde do Tigrão iniciará "turnê" em SP no próximo dia 17, em Cachoeira Paulista, interior. Depois, shows na capital.

Aí, demorou!
 

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