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16/02/2001 - 04h15

Elementos romanescos e artes marciais levantam candidato ao Oscar

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INÁCIO ARAUJO, da Folha de S.Paulo

Nos últimos anos, o Oscar tem sido um péssimo parâmetro, tal o volume de propaganda usado pelos estúdios e as distorções que gera na noção de mérito, por mais precária que seja.

Ang Lee é um diretor de cinema superestimado desde o sucesso de "O Banquete de Casamento", que tinha, no entanto, um incontestável frescor. Depois, passando-se francamente para o Ocidente, foi promovido tanto quanto possível por filmes cuja inconsistência vinha do trabalho de direção, como "Razão e Sensibilidade".

Com "O Tigre e o Dragão", Lee volta à China, mais precisamente à China profunda, das artes marciais, e deixa a dúvida: será este filme candidatíssimo ao Oscar uma fraude tipo "Gladiador"?

Os elementos são tradicionais: uma espada especial; um grande lutador, Li Mu Bai (Chow Yun-Fat), que não se julga digno dela; lutadores menos especiais que tentam tomá-la. Entre os usurpadores, uma em particular: não é uma bandoleira vulgar, mas Jen (Ziyi Zhang), filha de aristocrata.
No caminho da espada, dois amores: o de Li Mu Bai por outra lutadora, Yu Shu Lien (Michelle Yeoh), amor secreto, encubado, e o de Jen por um bandoleiro.

Elementos romanescos são abundantes, assim como o feminismo ostensivo (e até arbitrário: a desenvoltura com que Jen se despe das convenções da
China do século 19 é espantosa).

É possível ainda que certas características do filme de artes marciais tenham ajudado, como a boa coreografia das lutas, que aqui dota os heróis, entre outras, da capacidade de voar.

Esse aspecto está longe de justificar tantas indicações ao Oscar (dez!). Em termos de filme de ação, diga-se logo, "O Tigre e o Dragão" não dá para o começo se comparado aos velhos filmes samurai japoneses ou aos kung fus de um King Hu ou um John Woo.

É no aspecto narrativo, porém, que "O Tigre e o Dragão" deixa a desejar mais francamente, com inúmeros momentos em que o espectador tem dificuldade de se situar no que está acontecendo, por conta de elipses não explicadas ou temáticas sugeridas, mas não plenamente desenvolvidas.

Entre as virtudes, ao contrário, está o desenvolvimento de certos paradoxos: o caráter aventureiro de uma princesa, a timidez de um guerreiro, sobretudo quando cercados pelo cerimonial e pelo senso de hierarquia da China da época, não deixam de ter seu encanto.

Um encanto menor, em todo caso, do que o dessas fabulosas lutas entre espadachins que flutuam no ar, dotados de um caráter estranhamente sobrenatural. Talvez esse seja o principal aspecto a relevar, porque nos lembra da imensa vitalidade e do caráter fabuloso do cinema chinês atual.

O Tigre e o Dragão (Crouching Tiger, Hidden Dragon)
Direção: Ang Lee
Produção: China/Hong Kong/ EUA/ Taiwan, 2000
Com: Chow Yun-Fat, Zhang Ziyi
Quando: a partir de hoje nos cines Central Plaza, Morumbi e circuito

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