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16/02/2001 - 10h40

Comentário: "Chocolate" contrasta fábula com amargura humana

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da Reuters, em São Paulo

Um pouco de realismo mágico no estilo "Edward Mãos de Tesoura" combinado a um roteiro que lembra "Como Água para Chocolate" e aliado ao charme de Juliette Binoche. Essa é a fórmula de "Chocolate", filme do sueco Lasse Hallstrom, que estréia nesta sexta-feira.

Abusando de uma sensibilidade que lhe é peculiar, o diretor, de "Minha Vida de Cachorro" e "Regras da Vida", utiliza o chocolate como uma metáfora para contar uma história um tanto conhecida - a das dificuldades de se adaptar à modernidade - sob um olhar feminino.

Juliette Binoche é a forasteira Vianne, mãe solteira da narradora Anouk (Victoire Thivisol) que abre uma confeitaria de chocolates em um pacato vilarejo na França e aos poucos começa a revolucionar a vida dos habitantes com seus doces mágicos, que aguçam os sentidos e despertam a sensualidade.

"Chocolate", com seus personagens excêntricos, defende a tolerância para com as diferenças. Apesar de ter recebido quatro indicações ao Oscar - melhor filme, atriz (Juliette Binoche), roteiro adaptado e trilha sonora -, e de ter sido ovacionado no Festival de Berlim, "Chocolate" não é uma unanimidade entre os críticos. O filme é considerado por alguns como um pouco sentimental e açucarado, com Lasse Hollstrom provocando um certo enjôo com o seu festival de guloseimas.

De fato, a fórmula talvez tenha tido o seu apogeu no filme mexicano "Como Água para Chocolate", mas isso não tira o mérito do conto de Lasse Hallstrom, que se apóia com certo brilho na equação "alimentos dos deuses" versus excentricidade.

O pequeno vilarejo no ano de 1959 é o palco para uma fábula que discute valores universais e atemporais como tradição, humanismo e modernidade. A antítese da libertadora Vianne é o prefeito Comte de Reynaud (Alfredo Molina), que de tão repressor chega a escrever os sermões da igreja, encontrando na personagem de Binoche a inimiga pública número um.

Aliás, a seriedade e sensualidade da atriz preferida do polonês Krysztof Kieslowski, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por "O Paciente Inglês" (1997), cria o tom perfeito para o desenvolvimento do personagem de Molina, que leva à compreensão da história.

As guloseimas irresistíveis de Vianne despertam ainda o apetite da feminista em potencial Josephine Muscat (Lena Olin), da sofredora mulher do brutamontes Serge (Peter Stormare).

Mulher do diretor Lasse Hallstrom, Lena Olin atuou ao lado de Binoche em "A Insustentável Leveza do Ser" e repete aqui a química existente entre as duas ao justapor as mazelas da mulher tradicional reprimida diante dos males da mulher moderna que luta para não ser solitária.

Ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante por sua interpretação da Rainha Elizabeth em "Shakespeare in Love", Judi Dench adoça ainda mais o olhar feminino no papel da avó Armande, que vive às turras com a conservadora e moralista filha Caroline (Carrie-Anne Moss) que a impede de ver o neto Luc (Aurelien Parent-Koening).

Um dos aspectos decepcionantes do filme é a pouca exploração do romance entre Vianne e Johnny Depp, que faz o papel do belo músico viajante que liberta Binoche. Sedutor, Depp só aparece lá pelo meio do filme e brilha pouco em meio ao mulherio da confeitaria. Num filme que abusa das referências sexuais proporcionadas pelo chocolate, a interação sensual entre Depp e Vianne fica em segundo plano - vide a rápida cena de amor no barco entre os dois.

E tudo acaba nos levando a crer que, embora a história seja um fábula, a doçura do conto contrasta em demasia com a amargura das relações humanas na vida real - sem falar no segredo de Binoche, que consegue ficar magra e bela apesar de tanto chocolate.
 

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