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16/03/2001 - 11h27

Comentário: "Traffic" é obra-prima de Steven Soderbergh

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da Reuters, em Los Angeles

O filme "Traffic", que entra em cartaz hoje nos salas de cinema do Brasil, é uma narrativa que mistura documentário e ficção de alto nível.

Contundente visão panorâmica e ao mesmo específica da cultura contemporânea, a trama, que se desenrola em várias histórias paralelas, ostenta alguns traços de sua origem - uma minissérie de cinco horas produzida em 1989 pela emissora britânica Channel 4 - e só deixa um pouco a desejar em seus momentos finais.

Com este trabalho sóbrio e que induz à reflexão vindo apenas nove meses após o olhar mais "divertido" dado pelo diretor sobre outro problema da sociedade em "Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento", Steven Soderbergh com certeza teve o ano mais impressionante para um diretor norte-americano desde 1993, quando Steven Spielberg dirigiu "Parque dos Dinossauros" e "A Lista de Schindler".

Usando tela larga e um elenco enorme (e muito talentoso), Soderbergh e o roteirista Stephen Gaghan ("Regras do Jogo") procuraram conferir o máximo de realismo e detalhes à dissecação que fazem do como e porquê do consumo e tráfico de drogas na América do Norte.

Embora suas três tramas paralelas não tenham a presunção de dar conta do tema, a escolha sensata de personagens e locais consegue lançar luz sobre uma gama altamente diversificada de personagens sociais envolvidos no problema (funcionários do governo, traficantes, policiais honestos, usuários e vítimas dos entorpecentes).

Embora fique claro que um dos impulsos que movem o filme seja lançar um olhar cético (mas não inteiramente desdenhoso) sobre a grande "guerra às drogas", é prova da boa fé de Soderbergh e seus colaboradores o fato de que sua prioridade foi contar histórias complexas da maneira mais dramática e coerente possível.

Considerando-se o grande número de personagens, isso foi conseguido de maneira exemplar: as diferentes tramas foram entremeadas e equilibradas com grande habilidade, de modo que a tensão não pára de crescer até quase o final do filme, que tem quase 2h30 de duração.

Começamos por ver, em tons de amarelo gasto, os policiais de Tijuana, Javier Rodriguez (Benicio Del Toro) e Manolo Sanchez (Jacob Vargas), que interceptam uma carga de cocaína jogada no deserto por um avião. Os policiais são por sua vez interceptados pelo general Salazar (Tomas Milian), que se apodera do produto.

As cenas filmadas nos EUA é feita em tons de azul, e mostra o juiz da Suprema Corte do Ohio, Robert Wakefield (Michael Douglas), prestes a ser indicado como o novo "rei" do combate às drogas nos EUA, ao mesmo tempo em que sua filha de 16 anos, Caroline (Erika Christensen), na companhia de seu namorado e colegas de escola, está passando das drogas leves para substâncias mais pesadas.

Em cores fortes, os resolutos e ativos agentes norte-americanos da DEA (que combate as drogas), Montel Gordon (Don Cheadle) e Ray Castro (Luis Guzman), estão investigando o traficante de San Diego, Eduardo Ruiz (Miguel Ferrer) que, esperam, os ajudará a incriminar o grande traficante local Carlos Ayala (Steven Bauer), cuja mulher, a socialite grávida Helena (Catherine Zeta-Jones), não conhece a natureza dos negócios do marido.

Depois de montar essas tramas permitindo que os personagens se definam claramente, Soderbergh começa a ir mais fundo, mostrando como a onipresença das drogas contaminou a vida de todos os envolvidos, mesmo que os personagens, em sua maioria, não sejam, eles próprios, viciados.

Algumas das histórias individuais terminam tragicamente, outras de maneira equívoca, e pelo menos uma delas num clima de libertação e transformação - mas nenhuma sem trauma e marcas profundas.

O filme aceita o fato de que não existem respostas fáceis ao problema gigantesco que as drogas criam para a sociedade norte-americana.

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