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16/03/2001 - 18h38

Comentário: ''Antes do Anoitecer'' é poesia visual e libertária

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da Reuters, em São Paulo

Vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cinema de Veneza de 2000, "Antes do Anoitecer" pode ser descrito como uma bela poesia cinematográfica a favor da liberdade de expressão. Uma obra que prefere muitas vezes a força da música ou do silêncio ao diálogo como fórmula para contar a luta do escritor cubano Reinaldo Arenas contra a opressão do regime de Fidel Castro.

Com estréia nesta sexta-feira em circuito nacional, "Antes do Anoitecer" é um filme que conseguiu sair das casas de arte para virar mainstream.

Num ano em que um filme chinês falado em mandarim ganha 10 indicações ao Oscar (O Tigre o e Dragão, de Ang Lee), não é de se estranhar este percurso, ou o fato de que o badalado ator espanhol Javier Bardem, dos filmes de Pedro Almodóvar, entrou na corrida para disputar o prêmio de melhor ator com nomes como o de Tom Hanks.

Dirigido pelo pintor Julian Schnabel ("Basquiat"), que assina o roteiro junto com o amigo de Arenas, Lázaro Gomes Carriles, "Antes do Anoitecer" atinge essa façanha de poucos filmes cult ao reunir um bom enredo e atores com uma cinematografia de apelo estético universal.

Baseado nas memórias póstumas de Reinaldo Arenas e em seus poemas, "Antes do Anoitecer" traça um rico quadro do escritor, pincelando desde sua infância na extrema pobreza e a sua breve participação na revolução cubana à sua libertação homossexual e batalha para escrever em meio às perseguições do regime.

A atuação densa, mas não exagerada de Javier Bardem tem lhe rendido vários elogios, com poucas vozes discordantes como a do importante "Film Journal", que considerou o "machão" Bardem dos filmes de Bigas Luna como pouco convincente no papel do efeminado Arenas.

Pertinente, a revista aponta ainda que Bardem é retratado como passivo ou vítima dos acontecimentos que ocorrem em sua vida, justamente a impressão que o público fica quando Arenas de repente se entrega ao volátil Pepe Malas (Andréa Di Stefano), que o apresenta à subcultura gay de Havana, ou ainda quando o escritor vai preso sem dar um grito por uma injusta acusação de molestamento.

Muitos críticos preferiram assinalar com entusiasmo a excelente participação de Johnny Depp como o travesti Bon Bon, que ajuda Arenas na publicação de seus livros, e a sua antítese na figura de tenente Victor, estimulando no escritor um dúbio sentimento de atração sexual e medo por seu agressor.

Outra surpresa é a pequena ponta que Sean Penn faz como o quase irreconhecível camponês que leva Arenas ainda pequeno à Havana, enquanto Hector Babenco faz o papel relâmpago do intelectual Virgílio Pinera.

Autor de obras como "La Vieja Rosa" (1980), "Necesitad de Libertad"(1986) e "La Loma del Angel" (1987), Reinaldo Arenas nasceu em 1943 na zona rural de Cuba, aliou-se ainda adolescente à revolução cubana e seguiu depois para estudar na Universidade de Havana, quando começou a trabalhar como pesquisador na biblioteca. Ganhou um prêmio literário pelo seu primeiro romance ("Celestino Antes del Alba") e descobriu a sua homossexualidade.

Em 1980, Arenas consegue ir para os EUA junto com uma leva de "contra-revolucionários" expulsos por Fidel, e acabou contraindo o vírus da Aids em 1990, suicidando-se depois.

É principalmente através do uso da música - a trilha original é de Carter Burwell, com Lou Reed e Laurie Anderson contribuindo com faixas adicionais - e de imagens desprovidas de diálogo que Julian Schnabel consegue retratar toda a poesia e o furor apaixonado de Arenas pela liberdade.

É assim nas imagens de Arenas brincando na natureza indiferente na pobre zona rural de Cuba, na primeira cena de traição de Pepe em uma boate ao som de "Rouge", de Lou Reed, e numa noite de neve em cima de um carro em Nova York, junto com o amigo Lázaro (Olivier Martinez).

O fato é que Schnabel raramente recorreu a elaborados takes de câmera ou a recursos de edição pretensiosos para retratar esta poética melancolia. Preferiu o uso de cores, textura e ricas paisagens de Cuba - de fato Veracruz, no México, onde o filme foi rodado. E minimizou assim a hostilidade que muitos teriam contra a forte temática gay do filme.

"Antes do Anoitecer" conta uma bela história universal sul-americana de desilusão e utopia.

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