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19/10/2000 - 16h10

Schnabel revoluciona terra de Fidel Castro

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da Folha de S.Paulo

O cenário é uma Cuba na qual revolucionários que se atrevem a pensar de maneira diferente da ordem vigente são levados a prisões superlotadas, a campos de trabalho com nomes poéticos como "Ilha da Juventude", ou são obrigados a se retratar.

Mas não é esta Cuba, que ocupa grande parte de "Antes do Anoitecer", o que interessa a Julian Schnabel, 49, que chega hoje a São Paulo. "Não tenho receio de julgamentos políticos pró ou anti-Cuba. Eu só quis ser fiel à voz de Reinaldo", disse à Folha.

Reinaldo é o escritor cubano Reinaldo Arenas, perseguido em seu país por causa de seus textos e de sua homossexualidade e exilado nos Estados Unidos a partir de 1980. "Antes do Anoitecer", que deu ao ator espanhol Javier Bardem o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza deste ano, mostra a trajetória do escritor, que contraiu Aids e morreu em Nova York, em 1990.

Ele conta a trajetória de um homem que se uniu à revolução castrista, mas que, a partir de determinado ponto, se torna um "contra-revolucionário" na visão do Estado.

"Há um momento em que ele percebe que a revolução não significava liberdade para todos e certamente não significava liberdade para os homossexuais."

O diretor diz não ter receio de críticas. "Não se pode ter medo de nada quando se decide fazer alguma coisa. Há críticas à Revolução Cubana, mas não acho que o filme glorifique os Estados Unidos."

Para Schnabel, o embargo norte-americano contra Cuba "é uma coisa estúpida", que acaba sendo útil para Fidel Castro. "Há, de fato, gente de toda as nacionalidades colocando dinheiro em Cuba, e isso é a essência do capitalismo. Ou seja, Cuba hoje é um país essencialmente capitalista. Mas qualquer estrangeiro tem mais direitos do que um
cidadão cubano lá, e isso é algo errado."

À Cuba "capitalista", Schnabel contrapõe um país _os Estados Unidos_ que recebe a contragosto a leva de dissidentes que abandona o regime de Fidel Castro em 1980. Em determinada cena, Arenas diz ser um homem sem existência legal: é obrigado a deixar seu país, é um apátrida.

"Não sou uma pessoa de direita e não vejo os Estados Unidos como salvadores. Mas, em Cuba, livros foram censurados, pessoas foram perseguidas. Por quê? Deixem as pessoas seguirem seus instintos naturais, se são homossexuais, é a sua vida."

Reinaldo Arenas é o segundo "outsider" retratado pelo diretor. Artista plástico consagrado nos Estados Unidos e Europa _tem obras no MoMA, em Nova York, e no Centro Georges Pompidou, em Paris_ Schnabel voltou-se para o cinema em 1995.

Foi quando resolveu tomar as rédeas de um projeto para contar a vida de Jean-Michel Basquiat, grafiteiro alçado à fama do circuito de artes plásticas nova-iorquino, amigo de Andy Warhol e que morreu de overdose de heroína em 1988.

"Basquiat era um grande amigo e quis contar sua história. Mas nunca encontrei Arenas. Interessei-me por sua vida a partir de um documentário sobre ele."

Após ver as imagens sobre Arenas, decidiu que, se voltasse a dirigir, faria um filme sobre o cubano. Começou a ler seus livros _entre eles, a autobiografia "Before Night Falls"_ e a entrar em contato com seus amigos.

Lázaro Gómez Carriles, um dos amigos e herdeiro do escritor, cedeu os direitos da autobiografia e ajudou Schnabel na preparação do roteiro do filme.

Para Schnabel, seu filme é uma espécie de manifesto contra a censura. "Arenas escreveu 20 livros e apenas um foi publicado em seu país. Meu filme é a história de um homem perseguido durante toda a sua vida. É um filme sobre questões do ser humano, independentemente de ideologias."
 

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