Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
23/03/2001 - 05h28

"Realizei uma fantasia de criança", diz Ang Lee

Publicidade

SYLVIA COLOMBO, da Folha de S.Paulo

O verde dos bambus domina a tela como em uma pintura. Venta, e os protagonistas de uma luta desaparecem voando de cena. "Filmar "O Tigre e o Dragão" foi ver um sonho de criança, com todas as suas cores, se concretizar", disse o diretor Ang Lee à Folha.

O cineasta de Taiwan radicado nos EUA colocou no mesmo filme um formato tradicional de narrativa romântica oriental e efeitos especiais hollywoodianos. "O Tigre e o Dragão", ambientado na China do século 19, narra a história de lutadores em busca de uma espada de mais de 400 anos, misteriosamente roubada. Entre as inúmeras cenas de duelos aéreos, desenrolam-se duas tramas amorosas, num enredo de tom acentuadamente feminista.

"Quis transcender o gênero dos filmes de artes marciais, abordando outras questões. Queria que as pessoas saíssem dele com inquietações. É uma provocação para as emoções e para o pensamento", disse. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Folha - "O Tigre e o Dragão" é um filme de aventura, ao mesmo tempo, um romance que traz questões sobre as relações entre homem e mulher. A mistura atingiu o ponto que você buscava?
Ang Lee -
Sim, o filme identifica-se bastante comigo. Quando comecei a trabalhar com cinema, não podia fazer aventura, pois era uma pessoa muito doméstica. Então trabalhei com dramas familiares e os aspectos psicológicos das relações humanas. Achei que agora era a hora de partir para as telas maiores.

Folha - E a aventura era o caminho para as grandes bilheterias?
Lee -
A aventura é um gênero com que sonho desde a infância, influenciado por filmes de artes marciais e pela fantasia evocada por sua literatura. Queria que "O Tigre e o Dragão" tratasse de transcendência humana, do amor, da moralidade e, para agradar aos garotos, que fosse uma história de disputas de poder.

Folha - Você trabalhou com duas linguagens, a oriental e a ocidental. Como dosou essa mistura?
Lee -
Usei o que aprendi sobre produção norte-americana, aplicando isso numa indústria cinematográfica diferente, muito menor, que é a de meu país. Voltei às minhas raízes culturais com elementos do Ocidente -como a força do drama- que achava que eram bons para o filme.

Folha - Acha que o filme tem dois públicos? Um atraído pelo romance e outro pelas artes marciais?
Lee -
O filme age de duas formas sobre o público. Há um elemento masculino e um feminino, como nas histórias tradicionais chinesas. Ser emotivo era considerado ser feminino, ser homem era não poder mostrar as emoções. Com os dois juntos, é possível levantar um pouco do que são as necessidades humanas mais essenciais.

Folha - Você buscou inspiração na ópera oriental?
Lee -
Sim, o filme tem muito de inspiração da ópera chinesa. As artes marciais têm muito que ver com o gênero operístico tradicional chinês, sua coreografia, sua música. É um referencial muito forte para nossa cultura até hoje.

Folha - E o uso da luz, inspira-se nas artes visuais orientais?
Lee -
O uso da luz foi inspirado na pintura chinesa. Usamos muito o azul, o meio-tom, baixos contrastes. Quis imitar a forma como a arte chinesa vê a paisagem.

Folha - Você foi fiel ao contexto histórico do século 19 chinês?
Lee -
Pesquisei muito. Mas, ao mesmo tempo em que o filme precisava ser verídico, era necessário manter um pé atrás, para que as pessoas se permitissem entrar num mundo fantasioso, afinal, as pessoas não voam. Mas a ética, o tratamento, os gestuais são fiéis à época. Alguns detalhes eu coloquei porque nenhum filme de artes marciais se importa com eles, como a cena da caligrafia, que ajuda a entender a delicadeza das mulheres da época e como se relacionavam com a sociedade.

Folha - Você acha que vai ganhar o Oscar?
Lee -
Sou feliz pelo filme ter ido tão longe. É interessante ver até onde um filme que não é de língua inglesa pode chegar. O cinema de Taiwan tende a seguir pelo caminho mais artístico, não existe uma indústria de blockbusters lá. Mas acho que o sucesso de "O Tigre e o Dragão" abre uma porta.

Leia mais notícias sobre o Oscar
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página