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25/03/2001 - 10h45

Julia Roberts e Russell Crowe são favoritos ao Oscar

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Los Angeles

É hoje a final. Pela primeira vez, o Brasil concorre ao Oscar na categoria de curtas. Com chances de ganhar. Vestindo o uniforme verde-amarelo está "Uma História de Futebol", memória com toques de ficção do começo da carreira de Pelé, estréia na direção do paulistano Paulo Machline. O prêmio deve sair na primeira hora da cerimônia, que começa às 17h30 de Los Angeles (22h30 de Brasília), com previsão de 1 bilhão de telespectadores.

São barbadas o Oscar de atriz para Julia Roberts por "Erin Brockovich" e o de ator para Russell Crowe em "Gladiador". O épico concorre ainda a 11 estatuetas, entre elas, filme e direção. Seu adversário será Ang Lee com "O Tigre e o Dragão". Mas Steven Soderbergh, que disputa duplamente, por "Erin" e "Traffic", pode virar o placar. Na chave do brasileiro, o principal adversário é a Hungria. Ou melhor, o americano "One Day Crossing", que conta como um casal de judeus húngaros fugiu para a América durante o nazismo. Pelé é dúvida na cerimônia. "É mais provável que não vá", diz o diretor.


O cineasta Paulo Machline está ansioso. O peso da camisa? Pode ser. Há menos de três anos, ao ouvir uma história interessante, o diretor resolveu fazer um curta de ficção. Juntou uma equipe, bancou a produção, colocou o filme de pé.

Começava assim sua carreira de cineasta. Hoje, ele é o primeiro brasileiro a concorrer ao Oscar pela categoria de curta-metragem. Seu "Uma História de Futebol" ganhou todos os festivais brasileiros de que participou e outros importantes internacionais, entre eles o de Nova York.

Não há ninguém no Brasil que possa dizer o mesmo que este paulistano de 33 anos, atualmente morando em Nova York, filho do falecido industrial que fundou a Sharp: 100% de sua obra já foi indicada ao Oscar. Sim, porque "Futebol" é seu único filme.

Paulo Machline foi sócio de uma produtora de comerciais -dirigiu aquele da TV Mitsubishi em que as seleções do Brasil e da Itália, formadas só por adolescentes, se pegavam no Pacaembu ao som da ópera "Turandot"- e cuidou um tempo das comunicações da empresa do pai.

Um dia, discutindo futebol com o então diretor financeiro da Sharp, Aziz Adib Naufal, este lhe contou uma história. Havia jogado na infância com Pelé, ainda com o apelido de Dico, em Bauru, no interior de São Paulo.

O começo do gênio
Depois de R$ 280 mil, um roteiro feito a quatro mãos por Maurício Arruda e José Roberto Torero, com toques do próprio Pelé (que lembrou inclusive como era o uniforme do time), nascia o singelo "Uma História de Futebol", de 22 minutos.

Narrado por Antonio Fagundes, com José Rubens Chachá no papel de técnico e Marcos Leonardo Delfino como Dico, conta uma difícil e fictícia final do Sete de Setembro, o time local, em que o futuro Rei do Futebol começa a revelar sua genialidade.

Ao ganhar o Festival de Nova York em 1999, o filme credenciou-se automaticamente a concorrer a uma das cinco indicações do Oscar na categoria. O que ocorreu somente no ano seguinte, pois Machline perdeu o prazo. "Não fiz lobby, não dei um telefonema, nada. Quando vi, estava dentro."

Até abril, o diretor deve começar a produção do longa "Socorro", título ainda provisório, sobre uma garota simples do interior do Brasil que vive em função das telenovelas -até o ponto de passar a acreditar que são verdadeiras. Antes, ainda vai dirigir um curta-metragem para o programa do Luciano Huck.

Concorrência
Paulo Machline diz que assistiu aos outros quatro competidores em sua categoria e que não se considera o favorito. "O favorito é "One Day Crossing", de uma americana, sobre seus bisavós judeus, que se disfarçaram de católicos para poderem fugir da Hungria durante o nazismo", diz. "A Academia adora isso."

Além do filme de Christina Lazaridi, realmente o favorito, concorrem "By Courier", "Seraglio" e "Quiero Ser". "Mas o meu é o que teve melhores reações da platéia até agora", orgulha-se. "Futebol" está em cartaz em Los Angeles, Chicago e Washington.

No final da exibição, quando percebe que o garoto é na verdade o mito do futebol Pelé, o público norte-americano levanta-se e aplaude, surpresa que a maioria dos brasileiros que assistem ao filme não tem.

Desde o anúncio dos concorrentes, em passado, o primeiro compromisso oficial do diretor foi o almoço de todos os indicados ao 73º Oscar, há alguns dias, no Beverly Hilton. Mais do que apresentar uns aos outros, o encontro serve para fazer a já tradicional foto oficial do ano.

Durante o rega-bofe, os organizadores pediram que nenhum discurso de agradecimento ultrapassasse os 45 segundos. Disseram que as falas mais completas poderiam ser colocadas depois na Internet, no site oficial do evento (www.oscar.org).

Mais: mostraram exemplos de bons discursos curtos. Prometeram uma TV de alta definição de última geração para quem conseguisse fazer o mais rápido. E deram certificados garantindo a indicação ao Oscar, caso alguém duvide quando, digamos, "Uma História de Futebol" for exibido lá em Bauru.

Julia Roberts, Benicio Del Toro e Steven Soderbergh foram as únicas ausências da tarde. "Sentei ao lado de Tom Hanks e Juliette Binoche. Conversei com Cameron Crowe, um sujeito legal. E Ang Lee era a estrela do dia, o mais assediado por todos."

Passatempo
O diretor passou a semana entre encontros, almoços e cafezinhos, todos decorrentes da indicação ao Oscar. "Ainda não aconteceu nada de concreto, mas nunca fiz tantos contatos importantes como agora", diz. "E ainda me ajudou a matar o tempo."

Antes que ele o matasse. Paulo Machline alugou 40 vídeos na Blockbuster ao lado de seu hotel, a maior parte clássicos, algum Fellini, um ou dois Woody Allen, um Coppola dos anos 70. Sempre que a ansiedade batia, o vídeo era ligado. Adiantou em termos.

O diretor desenvolveu uma renitente gastrite, que teima em não ir embora. Nada grave, ele garante, nada que possa atrapalhar seu planejamento. Então está tudo organizado? "Tudo."

O smoking, por exemplo. Ele comprou um Gucci preto, discreto, que não vai chamar a atenção pelos motivos errados. "A Armani ofereceu um depois, mas já era tarde", conta. A pronúncia do sobrenome. "Eles já sabem que é maclíne. Aliás, pouca gente me chamou de macláine."

E se "Futebol" for vencedor? Silêncio. Já tem discurso pronto? "Nada, vai de improviso", diz. Em português ou inglês? "Inglês, em respeito à Academia." E, se Pelé aparecer? "Sobe comigo." E, se der pânico? "Não vai dar."

Na hora H, Paulo Machline promete não amarelar.
 

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