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25/03/2001
-
10h51
JOSÉ ROBERTO TORERO
da Folha de S.Paulo, em Los Angeles
Para qualquer atividade, seja a salvação da alma, o enriquecimento ou o sexo, há uma metodologia. Temos, por exemplo, os dez mandamentos para entrar no céu, os sete mandamentos para enriquecer e os 585 mandamentos para ter uma boa vida sexual. Não é diferente no caso do Oscar. Para vencê-lo, também é necessário seguir certos mandamentos. No caso, apenas cinco.
Primeiro mandamento: ter uma boa idéia para filmar.
Pode parecer fácil, mas este primeiro passo é muito difícil. Creio que só menos que o segundo.
Segundo mandamento: fazer um filme.
Sua obra não precisa ser excelente (lembrai-vos de "Gente Como a Gente"), mas deve ser tecnicamente impecável, inteligível e ter um bom tanto de emoção. Além disso, a existência de algum personagem deficiente é sempre uma boa ajuda. Judeus, crianças, mártires e heróis também são interessantes.
Terceiro mandamento: credenciar seu filme para o Oscar.
No caso do longa-metragem brasileiro, esse credenciamento é dado por uma comissão que elege, entre os filmes lançados naquele ano, qual será o representante do Brasil. Depois o longa passa por outra peneira, dessa vez feita por uma comissão da Academia, de onde saem os cinco indicados.
Para os curtas-metragens, a história é um pouco diferente. Em vez de ser escolhido por uma comissão nacional, o curta tem que vencer um dos festivais escolhidos pela Academia. Em geral são festivais um tanto estranhos, de lugares distantes e pouco conhecidos, ou festivais norte-americanos. Isso dificulta as coisas para os brasileiros, que geralmente mandam seus filmes para os festivais europeus (que não credenciam para o Oscar, mesmo sendo alguns dos principais do mundo, como Clermont-Ferrand e Berlim).
Além disso, os curta-metragistas brasileiros evitam os festivais dos EUA por um motivo prático: as inscrições são pagas (e caras), enquanto que, nos festivais europeus, elas geralmente são gratuitas. Porém, caso você inscreva seu filme num destes festivais e vença ("Uma História de Futebol" ganhou o de Nova York), você já pode ir para o quarto mandamento.
Quarto mandamento: vencer a burocracia.
Não basta vencer um festival. É necessário preencher formulários, respeitar datas e entregar cópias. E isso sem que a Academia o avise dos prazos e necessidades. Ou seja, você tem que marcar em cima: telefonar, mandar faxes, e-mails etc.. Mais de um diretor brasileiro, mesmo depois de obedecer ao terceiro mandamento, já caiu neste ponto. Esta besta que vos escreve, por exemplo.
Quinto mandamento: gastar uma fortuna em publicidade.
Para vencer o Oscar, são necessários muitos votos e, para conseguir muitos votos, é necessário muito dinheiro. Não basta ser o melhor, tem que aparecer mais.
O filme favorito na categoria curta-metragem para este ano ("One Day Crossing"), por exemplo, acabou de anunciar por duas semanas consecutivas na revista "Variety", algo que custa em torno de US$ 40 mil. Sem falar que sua verba total de publicidade ficou na casa dos US$ 250 mil.
Além disso, o filme foi exibido nos asilos de atores de Los Angeles (onde se encontram muitos acadêmicos e para quem esse é o momento mais glorioso do ano). Isso também ajuda bastante. Nos últimos dez anos a Miramax tem feito leitura de roteiro com seus atores principais nos asilos e ganhou seis Oscar de melhor filme.
É claro que gastar muito dinheiro em anúncios e outdoors não garante a vitória de um filme. Mas não se deve esquecer que a publicidade é a alma do negócio. E o cinema americano e o Oscar são, antes de tudo, um negócio. Negócio divertido, mas um negócio.
Cinco mandamentos para levar um Oscar para casa
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da Folha de S.Paulo, em Los Angeles
Para qualquer atividade, seja a salvação da alma, o enriquecimento ou o sexo, há uma metodologia. Temos, por exemplo, os dez mandamentos para entrar no céu, os sete mandamentos para enriquecer e os 585 mandamentos para ter uma boa vida sexual. Não é diferente no caso do Oscar. Para vencê-lo, também é necessário seguir certos mandamentos. No caso, apenas cinco.
Primeiro mandamento: ter uma boa idéia para filmar.
Pode parecer fácil, mas este primeiro passo é muito difícil. Creio que só menos que o segundo.
Segundo mandamento: fazer um filme.
Sua obra não precisa ser excelente (lembrai-vos de "Gente Como a Gente"), mas deve ser tecnicamente impecável, inteligível e ter um bom tanto de emoção. Além disso, a existência de algum personagem deficiente é sempre uma boa ajuda. Judeus, crianças, mártires e heróis também são interessantes.
Terceiro mandamento: credenciar seu filme para o Oscar.
No caso do longa-metragem brasileiro, esse credenciamento é dado por uma comissão que elege, entre os filmes lançados naquele ano, qual será o representante do Brasil. Depois o longa passa por outra peneira, dessa vez feita por uma comissão da Academia, de onde saem os cinco indicados.
Para os curtas-metragens, a história é um pouco diferente. Em vez de ser escolhido por uma comissão nacional, o curta tem que vencer um dos festivais escolhidos pela Academia. Em geral são festivais um tanto estranhos, de lugares distantes e pouco conhecidos, ou festivais norte-americanos. Isso dificulta as coisas para os brasileiros, que geralmente mandam seus filmes para os festivais europeus (que não credenciam para o Oscar, mesmo sendo alguns dos principais do mundo, como Clermont-Ferrand e Berlim).
Além disso, os curta-metragistas brasileiros evitam os festivais dos EUA por um motivo prático: as inscrições são pagas (e caras), enquanto que, nos festivais europeus, elas geralmente são gratuitas. Porém, caso você inscreva seu filme num destes festivais e vença ("Uma História de Futebol" ganhou o de Nova York), você já pode ir para o quarto mandamento.
Quarto mandamento: vencer a burocracia.
Não basta vencer um festival. É necessário preencher formulários, respeitar datas e entregar cópias. E isso sem que a Academia o avise dos prazos e necessidades. Ou seja, você tem que marcar em cima: telefonar, mandar faxes, e-mails etc.. Mais de um diretor brasileiro, mesmo depois de obedecer ao terceiro mandamento, já caiu neste ponto. Esta besta que vos escreve, por exemplo.
Quinto mandamento: gastar uma fortuna em publicidade.
Para vencer o Oscar, são necessários muitos votos e, para conseguir muitos votos, é necessário muito dinheiro. Não basta ser o melhor, tem que aparecer mais.
O filme favorito na categoria curta-metragem para este ano ("One Day Crossing"), por exemplo, acabou de anunciar por duas semanas consecutivas na revista "Variety", algo que custa em torno de US$ 40 mil. Sem falar que sua verba total de publicidade ficou na casa dos US$ 250 mil.
Além disso, o filme foi exibido nos asilos de atores de Los Angeles (onde se encontram muitos acadêmicos e para quem esse é o momento mais glorioso do ano). Isso também ajuda bastante. Nos últimos dez anos a Miramax tem feito leitura de roteiro com seus atores principais nos asilos e ganhou seis Oscar de melhor filme.
É claro que gastar muito dinheiro em anúncios e outdoors não garante a vitória de um filme. Mas não se deve esquecer que a publicidade é a alma do negócio. E o cinema americano e o Oscar são, antes de tudo, um negócio. Negócio divertido, mas um negócio.
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