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14/06/2001 - 12h34

Análise: Ainda é cedo

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S. Paulo

À parte a tragédia particular de Marcelo Fromer, a hora triste dá motivo à reflexão sobre o lugar que os Titãs têm tomado no imaginário pop nacional nestas últimas quase duas décadas.

Caso raro até no panorama mundial, a mais conhecida banda paulistana apareceu e se impôs como um octeto formado pela conjunção de personalidades que não eram isoladamente fortíssimas, mas que possuíam lá seus charmes individuais.

Um bando de compositores e vários cantores se revezando consumam, ali, uma "rock band" sem "band leader", entidade estranha no salão do pop-rock. Marcelo Fromer, ele próprio, era um dos guitarristas, mas num esquema em nada parecido ao do status heróico que essa figura costuma ter no "rock system".

Pelas beiradas, ainda lá nos primeiros anos o esquisitão Arnaldo Antunes começou a sobressair, num possível vôo rumo a algum tipo de liderança. Caiu fora da banda, e não se tornou exatamente um líder nem em carreira solo.

Os demais, consumados como septeto, seguiram equacionando egos e responsabilidades. Ficou notória a democracia titânica, de decisões tomadas via votações mesmo. Talvez por desejo deles próprios, até hoje é difícil saber que características cada integrante confere ao som final.

Titãs podia ser, indistintamente, a banda do Nando Reis e/ou do Paulo Miklos, do Branco Mello, do Sérgio Britto. Podia até ser, embora menos, da turma da "cozinha", os não-vocalistas Fromer, Toni Bellotto e Charles Gavin.

Não à toa, esse é o trio que não partiu para projetos solo paralelos e se dispersou por atividades várias (pouco citado devido às qualidades propriamente musicais, Fromer ressurge nessa estrutura, como elemento articulador zeloso da imagem de seu grupo).

Talvez por razão equivalente -o excesso de opiniões de pesos proximamente equivalente-, a banda virou nesses anos todos uma colcha de retalhos de referências e estilos. Foi iê-iê-iê, bregapop, rock "alternativo", MPB-rock, neotropicalista, hard rock, grunge, pop dominical, orquestra cafona, até banda cover...

Aproxima-se dos 20 anos de existência aparentando -e isso não é negativo, a priori- viver em eterna crise de identidade. Tem muitos rostos, às vezes nenhum.

Chega-se então a uma (dolorosa) conclusão: sendo banda em permanente corda bamba, não é a perda de um de seus integrantes que fará os Titãs deixarem de ser Titãs. Sem Fromer -ou melhor, sem um, qualquer que seja, dos tantos integrantes- não serão Legião Urbana sem Renato Russo, nem Paralamas do Sucesso sem Herbert Vianna. Nem nunca serão como as bandas que sobrevivem porque só têm líder, como o Ultraje a Rigor de Roger ou os Engenheiros de Hawaii de Humberto Gessinger.

Não é possível dizer que assim ou assado seja melhor ou pior. É mostra, só, da diversidade que, sim, essa nossa dentição roqueira colheu para o Brasil. Preocupante é como as posteriores continuam não conseguindo se firmar em substituição aos hoje quarentões, que, por sua vez, já passaram dos limites nessa prolongada fase de perdas e danos por razões bestas. Ainda é cedo, rapaziada.

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