Publicidade
Publicidade
12/11/2001
-
10h08
CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo
Jack Kerouac talvez tenha despejado os primeiros quilos de asfalto, mas o autor de "On the Road" não viveria para ver onde levariam as estradas da contracultura. Foi-se em outubro de 1969, com alucinações de Woodstock, de agosto daquele ano, ainda sobrevoando território americano.
Ninguém pode precisar quem terminou a pavimentação, talvez porque a estrada da contracultura tenha se perdido no meio de suas pistas vicinais. Mas poucos dos que pegaram esses caminhos negariam que o grande mestre-de-obras se chamava Ken Kesey.
Chamava-se. Kesey morreu no sábado passado. "Morreu pacificamente no seu sono, com a família ao lado", como descreveu a enfermeira-chefe do hospital de Eugene (Oregon, EUA), onde ele lutava contra um câncer no fígado.
O escritor, que cumpria a rota dos 66 anos, não era o último passageiro. Depois que Gregory Corso se foi no início de 2001, Lawrence Ferlinghetti, 82, carrega pelas ruas de San Francisco o rótulo de "o último beatnik" .
Mas se Ferlinghetti já permanecia como o remanescente da geração beat, Kesey era a testemunha da passagem do sexo, cocaína e jazz, dos beatniks, para o sexo, LSD e rock'n'roll dos hippies.
Ele mesmo começou a construção dessa ponte. Em 1957, enquanto Kerouac lançava seu "On the Road", Kesey se alistava para receber os US$ 75 que a CIA pagava a estudantes de Stanford para participar de experiências com o pouco conhecido LSD.
Do LSD, ele iria ao hospício. Por conta própria. Inscreveu-se, em troca de mais experiências (e dólares), para ser monitor de uma instituição mental em San Francisco. Ali achou o substrato de seu romance "One Flew Over the Cuckoo's Nest" ("Um Estranho no Ninho", incrivelmente não disponível em português), de 62.
O livro fez sucesso nas livrarias, no teatro e explodiu quando Milos Forman o levou ao cinema em 1975 e tirou do ninho os cinco Oscar principais, incluído o de ator, ao melhor Jack Nicholson.
Quando escreveu seu segundo romance, em 64, Kesey foi convocado a autografar em Nova York. Juntou um bando de amigos e um belo farnel de LSD diluído em suco de laranja, comprou um ônibus escolar feito em 1939, batizado de Adiante (Further), e foi.
Narrada por Tom Wolfe em "O Teste do Ácido do Refresco Elétrico", essa viagem seria para a contracultura o que a jornada de Ulisses a Ítaca fora para a civilização clássica. Nesse ônibus que viajou EUA adentro fazendo testes com LSD ao som de Grateful Dead, Kesey germinou alguns dos maiores pesadelos para o "sonho americano". Ken Kesey morreu quando outro sonho começava a nascer.
Morre o escritor Ken Kesey, o condutor da contracultura
Publicidade
da Folha de S.Paulo
Jack Kerouac talvez tenha despejado os primeiros quilos de asfalto, mas o autor de "On the Road" não viveria para ver onde levariam as estradas da contracultura. Foi-se em outubro de 1969, com alucinações de Woodstock, de agosto daquele ano, ainda sobrevoando território americano.
Ninguém pode precisar quem terminou a pavimentação, talvez porque a estrada da contracultura tenha se perdido no meio de suas pistas vicinais. Mas poucos dos que pegaram esses caminhos negariam que o grande mestre-de-obras se chamava Ken Kesey.
Chamava-se. Kesey morreu no sábado passado. "Morreu pacificamente no seu sono, com a família ao lado", como descreveu a enfermeira-chefe do hospital de Eugene (Oregon, EUA), onde ele lutava contra um câncer no fígado.
O escritor, que cumpria a rota dos 66 anos, não era o último passageiro. Depois que Gregory Corso se foi no início de 2001, Lawrence Ferlinghetti, 82, carrega pelas ruas de San Francisco o rótulo de "o último beatnik" .
Mas se Ferlinghetti já permanecia como o remanescente da geração beat, Kesey era a testemunha da passagem do sexo, cocaína e jazz, dos beatniks, para o sexo, LSD e rock'n'roll dos hippies.
Ele mesmo começou a construção dessa ponte. Em 1957, enquanto Kerouac lançava seu "On the Road", Kesey se alistava para receber os US$ 75 que a CIA pagava a estudantes de Stanford para participar de experiências com o pouco conhecido LSD.
Do LSD, ele iria ao hospício. Por conta própria. Inscreveu-se, em troca de mais experiências (e dólares), para ser monitor de uma instituição mental em San Francisco. Ali achou o substrato de seu romance "One Flew Over the Cuckoo's Nest" ("Um Estranho no Ninho", incrivelmente não disponível em português), de 62.
O livro fez sucesso nas livrarias, no teatro e explodiu quando Milos Forman o levou ao cinema em 1975 e tirou do ninho os cinco Oscar principais, incluído o de ator, ao melhor Jack Nicholson.
Quando escreveu seu segundo romance, em 64, Kesey foi convocado a autografar em Nova York. Juntou um bando de amigos e um belo farnel de LSD diluído em suco de laranja, comprou um ônibus escolar feito em 1939, batizado de Adiante (Further), e foi.
Narrada por Tom Wolfe em "O Teste do Ácido do Refresco Elétrico", essa viagem seria para a contracultura o que a jornada de Ulisses a Ítaca fora para a civilização clássica. Nesse ônibus que viajou EUA adentro fazendo testes com LSD ao som de Grateful Dead, Kesey germinou alguns dos maiores pesadelos para o "sonho americano". Ken Kesey morreu quando outro sonho começava a nascer.
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice