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11/12/2001 - 10h26

"Casa dos Artistas" provoca debate sobre teledramaturgia

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

A cinco dias de chegar ao final, o "reality show" "Casa dos Artistas" (SBT), programa de TV mais polêmico do ano, começa a se tornar um assunto importante para acadêmicos da comunicação.

Além da já batida discussão sobre o voyerismo na televisão, que entrou nas rodas intelectuais há mais de um ano com a primeira versão de "No Limite", da Globo, a atração do SBT traz um novo debate: como a edição consegue transformar 24 horas por dia de captação de imagens "reais" em um verdadeiro enredo de novela.

É essa criação da narrativa, acreditam especialistas, um dos principais segredos da audiência do programa, que tem batido a da Globo nas edições dominicais desde a estréia, em 28 de outubro -anteontem, a média foi de 41 pontos no Ibope contra 22 do "Fantástico", na Grande SP.

Os telespectadores, como se acompanhassem uma novela, são levados pela edição a querer saber como a "história" continua. O reforço vem do narrador, que diz frases como: "Será que eles vão fazer as pazes? Veja amanhã".

"A edição quase obedece a um script. Interessa à direção criar uma história ou várias histórias, o que se assemelha à teledramaturgia. O casal Supla e Bárbara (concorrentes do "reality show') funciona da mesma forma que Jade e Lucas (personagens da novela da Globo "O Clone')", diz a dramaturga Renata Pallottini, coordenadora do Núcleo de Pesquisa de Telenovelas da Escola de Comunicações e Artes da USP e autora de "Dramaturgia de Televisão".

Para ela, a técnica de criar uma novela com personagens "reais" se apóia em dois pontos: a produção e a edição. "O programa é duplamente roteirizado. Primeiro pela maneira como é produzido: o que haverá na casa, os jogos, as regras. O processo segue na edição: a seleção de cenas que formem uma sequência narrativa e definam o vilão, a heroína, o mocinho. De espontâneo, não há nada, mesmo porque eles sabem que estão sendo filmados e podem encarnar os personagens."

Lauro César Muniz, autor de novelas da Globo e um dos criadores da Associação de Roteiristas de Televisão, diz que vê "com grande curiosidade" o fenômeno "Casa dos Artistas". "Assisti a alguns episódios para saber como era essa "construção da dramaturgia espontânea" e achei muito interessante. As pessoas costumam dizer que é vazio. Em alguns aspectos pode até ser, mas é humanamente muito rico", afirma.

Ele percebe características claras de um roteiro de novela no "reality show". "Para o processo de dramaturgia funcionar, é preciso haver um conflito. No programa, ele existe porque todos querem o mesmo prêmio, e há a eliminação por voto. O enriquecimento da tensão é gerado pelo confinamento. Na edição, há a síntese do que ocorre no dia, valorizando as relações humanas e criando a identificação do público com cada tipo de personagem."

A técnica não é exclusiva de "Casa". Faz parte da essência do formato "reality show". A gincana de Silvio Santos, no entanto, está mais para melodrama do que "No Limite", principalmente pelo fato de ter edições diárias, enquanto o outro é semanal.

O intervalo maior é menos favorável à sequência narrativa. A novela da "vida real" chegará à Globo em 2002, com a estréia de "Big Brother", que será diário.

Para ter detalhes de como se dá a edição de "Casa dos Artistas", é preciso tempo, paciência e o "pay-per-view" da DirecTV, que transmite o confinamento ao vivo, 24 horas. A reportagem da Folha acompanhou os artistas por dois dias, na semana passada, e comparou com as duas edições feitas desse material para o SBT.

Além de cortar assuntos polêmicos, principalmente os que envolvam pessoas de fora do programa, a edição se concentra no romance de Bárbara e Supla e nas intrigas do jogo de eliminação.

Esse verdadeiro enredo de novela só é quebrado quando são realizadas provas e brincadeiras.

Mas, na "vida sem edição", eles não passam o dia falando da votação, criando intrigas ou se divertindo. E Supla e Bárbara não ficam 24 horas se beijando ou discutindo a relação. Há horas e horas de nada, de Alexandre Frota deitado no sofá olhando para o teto, de Mari Alexandre lendo "Estação Carandiru", de Patrícia Coelho abraçando a almofada e de conversas sobre bolo de fubá.

E, quando o papo esquenta e os artistas começam a falar dos bastidores do mundo "celebrity", vem a atenta produção e muda a câmera para o quintal vazio. Criar "o real" é bem mais difícil ao vivo.

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