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09/01/2002 - 03h48

Anna Maria Maiolino abre 2 mostras em NY e prepara outra para SP

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FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo

Romper fronteiras é uma característica na biografia da artista Anna Maria Maiolino, 59. Nascida na Itália, ela viveu em Caracas, mudou-se para o Brasil em 1960 e, desde então, já trabalhou em Nova York e Buenos Aires, entre outros locais.

Mas não é só do ponto de vista geográfico que os limites nunca foram uma barreira para Maiolino. Ela iniciou suas obras em gravura, portanto em papel, mas foi uma das artistas que, nos anos 60, rompeu os suportes tradicionais, para uma arte dos sentidos.

"Maiolino é uma das artistas responsáveis pela introdução da sensibilidade que transformou o concretismo em neoconcretismo", afirma Ivo Mesquita, diretor técnico do Museu de Arte Moderna de São Paulo, que está realizando uma pesquisa sobre a artista, para a mostra que o museu prepara para junho sobre Maiolino.

Ao lado de Lygia Clark, Lygia Pape, Mira Schendel e Hélio Oiticica, Maiolino é uma das artistas brasileiras de destaque dos anos 60, a caçula do grupo, mas que nunca foi tão reconhecida como seus pares.

Em 2002, essa falha será corrigida. Hoje o Drawing Center, de Nova York, inaugura a mostra "A Life Line/Vida Afora", com mais de cem trabalhos em papel da artista, parte deles pertencentes ao Museu de Arte Moderna de Nova York, que adquiriu no fim do ano passado 24 desenhos da série "Piccole Note" (1984 a 86), no Rio de Janeiro e Buenos Aires, além de outras três obras. "O MoMA pode fazer uma pequena exposição minha", disse Maiolino.

Mas não é só. Em dez dias, outro espaço da cidade, o Art in General, abre uma exposição com sua produção em vídeo, super-8, esculturas e instalações, uma com mais de três toneladas em argila. Será uma mescla das duas mostras a base para a exposição que Mesquita prepara para o MAM paulista.

Tamanha visibilidade tem muito a ver com a atual curadora do Drawing Center, Catherine de Zehger. Ela descobriu a obra de Maiolino em 95 e, desde então, tem dado espaço nobre à artista em várias mostras internacionais. Zehger é a responsável também pelo livro que acompanha a exposição no Drawing Center, o primeiro sobre a obra de Maiolino, com textos da própria curadora, de Paulo Herkenhoff, Sônia Salzstein e Suely Rolnik, além de poemas e escritos inéditos de Maiolino. A publicação, também em português, chega ao Brasil no próximo mês.

Antes da panorâmica que o MAM realiza em junho, obras de Maiolino poderão ser vistas nas outras duas mostras que o museu apresenta no início do ano: "Além dos Preconceitos", no fim de janeiro, com curadoria de Milena Kalinovska, e a coleção da venezuelana Patrícia Cisneros, uma das mais importantes da América Latina, com curadoria de Ariel Jimenez.

"Maiolino ganhou impulso com as teorias feministas, que redescobriram, por exemplo, artistas como Frida Kahlo, que, de certa forma, vivia a sombra do marido, o pintor Diego Rivera", explica Mesquita. De certa forma, o paralelo também é parte da biografia de Maiolino, que foi casada com o pintor brasileiro Rubens Gerschman e depois com o argentino Victor Grippo.

Por telefone, de Nova York, enquanto preparava a mostra no Drawing Center, Maiolino deu esta entrevista à Folha. Leia a seguir os melhores trechos:

Folha - Fronteiras nunca foram um problema para você...
Anna Maria Maiolino -
Fui afortunada. Comecei cedo a vida artística, aos 16 anos, na Itália. Com 18 já tinha participada de um salão nacional em Caracas. Chego na Escola Nacional de Belas Artes, em 61, no Rio. Fui ouvinte do curso de Oswaldo Goeldi, e depois do Aldir Botelho. Conheci Antonio Dias, Gerschman, Roberto Magalhães. Acho que a gente busca e encontra. Em 66 já fui convidada a participar da mostra "Opinião" [66", e da "Nova Objetividade" [67]. Era um momento fervilhante, apesar da ditadura. Em 1971, começo os projetos "Construídos", uma pesquisa com papel, com suporte..

Folha - Essas obras são o início de sua obras tridimensionais, não?
Maiolino -
Sim. Como a da maioria dos artistas de minha geração, que buscou novas formas de expressão, como instalação, performance e vídeo. Era uma forma de sair do dual, do plano, como afirmam Gilles Deleuze e Félix Guattari. Buscamos romper o espaço tradicional da arte e dar um caráter mais dinâmico para a arte.

Folha - Você faz parte da geração que conquistou essa liberdade.
Maiolino -
Eu tenho medo de afirmar isso, eu vivo em dúvida (risos). Acho que não tenho envergadura intelectual para afirmar uma coisa dessas, mas sem dúvida os anos 60 foram muito ricos. De certa maneira vivemos hoje a herança desse período. Foi quando surgiram as questões das minorias e que o trabalho das mulheres passou a ter destaque, com seu pensamento circular.

Antes, o mundo masculino considerava essa visão de forma negativa. Mas, agora, até mesmo a física quântica afirma que o mundo é feito de inter-relações, em espiral. Não quero aqui fazer apologia feminista, mas acho que a arte é uma expressão das coisas que estão acontecendo. Com raras exceções, a obra do artista é uma somatória da cultura onde vive.

Folha - Além das obras em papel, a mostra no Drawing Center apresenta também uma instalação...
Maiolino -
Sim, a instalação é "Entrevida", feita com ovos, que realizei em 81, no Paço das Artes, em São Paulo. Foi remontada depois várias vezes, acho que a curadora Catherine de Zehger se apaixonou pela obra, ela foi a capa do catálogo da mostra "Dentro do Visível", com curadoria dela, em 95, realizada em Antuérpia.

A instalação surgiu num momento muito particular da história do país, quando o Figueiredo estava no poder, a abertura começava e os intelectuais andavam em ovos, porque não se sabia o caminho que a vida nacional iria tomar. Ao mesmo tempo, minha proposta era mostrar cuidado com a vida, e que ela é resistente.

Folha - Mesmo com suas instalações, você nunca deixou de realizar obras em papel, certo?
Maiolino -
O papel é o primeiro suspiro, ele está aí à mão, é a coisa mais próxima para o artista dos olhos. Ele permite o esboço, o rascunho, e também a obra pronta.

Folha - 2002 será um bom ano para você...
Maiolino -
Tudo parece milagre.
 

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