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21/07/2002 - 10h03

Regina Duarte e Betty Faria tomam rumos opostos na carreira

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FERNANDA DANNEMANN
RODRIGO RAINHO
da Folha de S.Paulo

Regina Duarte é a primeira atriz na história da TV Globo a estar presente como protagonista em duas novelas seguidas do "Vale a Pena Ver de Novo" -"História de Amor" e "Por Amor"- e, simultaneamente, protagonizar uma das novelas do horário noturno, "Desejos de Mulher" (19h), que começou com 26 pontos de audiência e, em seu terceiro mês, chegou aos 32 pontos. "Tive sorte de pegar sempre bons papéis", diz a intérprete da Andrea de "Desejos".

Já Betty Faria, que atuou em 18 novelas da mesma emissora e que recusou o papel de Porcina, em "Roque Santeiro" -um dos maiores sucessos de Regina-, ficou dois anos sem ser escalada e preferiu não renovar seu contrato, em 2001. Embora a direção da Globo diga que seu nome estará sempre nos planos da emissora, ela no momento pensa mais em cinema e sonha apresentar um programa em que possa emitir suas opiniões: "O público me pede isso".


"Tive sorte e soube aproveitá-la"

TV Folha - Geralmente, as protagonistas são atrizes de vinte e poucos anos. Mas você é uma exceção, já que durante toda a sua carreira, pegou os papéis principais...

Regina Duarte - Foi acontecendo assim, não sei exatamente o porquê. Acho que tive muita sorte e soube aproveitá-la. Tive excelentes personagens, e não posso mesmo me queixar. Mas as novelas sempre tiveram casais mais maduros e mais jovens. Quando eu era jovem, fazia a dupla romântica jovem, e, agora que estou ficando mais velha, tenho feito a dupla romântica mais velha.

Mas em "Desejos de Mulher" a protagonista é você.

Não, não. Acho que as novelas são bem divididas. Tem a Carolina Ferraz em "Por Amor", a Regiane Alves em "Desejos de Mulher"... É bem dividido.

E o que você acha de a TV vincular determinados atores a alguns estereótipos? Você nunca faz o papel de vilã.

Concordo, acho que meus papéis são sempre do bem, gosto disso. Não gosto de vilãs em novelas, porque a novela é muito longa pra você sustentar a situação tão incômoda da vilania. Fico mais confortável lidando com o bem do que com o mal ao longo de oito meses. Mas faria uma vilã num filme, num seriado. E acho que é um personagem até mais rico, como desafio, do que as heroínas.

Qual o personagem que você mais gostou de fazer?

Difícil escolher porque personagem é meio como filho, não dá pra dizer que gosta mais desse ou daquele. Tive de gostar de todos na medida em que engravidei, gestei e gerei cada um. Sinto que, como repercussão, a Porcina é imbatível, e, logo ali, na raia, corpo-a-corpo, vem a Malu. As Helenas fizeram muito sucesso, a Raquel de "Vale Tudo". "Selva de Pedra" também foi outro sucesso. Há pouco tempo, fiz uma cena em "Desejos de Mulher" em que a Selma corre atrás da Andréa com uma faca e me lembrei de "Selva de Pedra", que foi bem arquetípica, aquela coisa da luta do bem e do mal.

Você encarna a imagem do amor materno. Na vida real você é assim?

Não dá pra comparar, né? Novela é folhetim; vida é vida. É diferente. Fiz duas novelas do Maneco [Manoel Carlos] seguidas. Eu tinha gostado tanto de fazer "História de Amor", que, na minha cabeça, uma era a continuação da outra. Pedi à direção da Globo pra fazer mais uma novela do Maneco, que gosta dessa temática de mãe e filha.

Como você vê a situação da Narjara Turetta - que marcou como sua filha em "Malu Mulher"- e hoje não consegue trabalho na TV?

É uma situação difícil. É complicado mesmo. Fico muito triste em função das dificuldades que ela tem enfrentado, porque é uma excelente atriz. Não consigo entender o que aconteceu com ela.

Sua atuação no especial "São Bernardo", baseado no livro de Graciliano Ramos também foi marcante. Por que você não faz mais esse tipo de trabalho?

Ah, gostaria de fazer, sem dúvida! Gosto de trabalhos mais curtos porque eles ganham em densidade. Você tem mais subsídio pra atuar em profundidade, tem as intenções do personagem... tem a obra literária ali, pronta, só pra você mergulhar. Em novela, as coisas acabam ficando superficiais em face da urgência. Você recebe um capítulo na sexta-feira pra gravar na segunda ou terça.

Você acha que a temática de uma novela das oito é adequada para o horário do "Vale a Pena Ver de Novo"?

Acho que a censura é uma coisa muito complicada. Talvez algumas situações devessem ser amenizadas quando a novela fosse exibida à tarde, porque à tarde tem muito mais criança em torno da TV, e sem o controle dos pais, que estão trabalhando. Acho que fica mais por conta do telespectador mesmo, dos pais e responsáveis.

Você pretende declarar seu voto novamente neste ano?

Declaro, sim, como cidadã tenho todo o direito de fazer isso. E gosto.

Então declare.

Vou votar no [José] Serra.

E vai fazer campanha?

Não sei. Pelo menos até o final de agosto, está fora das minhas cogitações.


"Quero atuar fora da dramaturgia"

TV Folha - Desde 1999, ano de sua última novela na TV Globo, o que você tem feito?

Betty Faria - A última novela foi "Suave Veneno". Não tenho feito teatro por total falta de vontade, e isso só funciona quando você está realmente a fim. Não tenho sentido vontade da rotina teatral e cada vez mais quero respeitar meus sentimentos.

Você está voltada para o cinema?

Tenho grande paixão pelo cinema. Gosto de participar da produção. Chego a brincar que fui mordida pela mosca azul do cinema. Fico muito em casa e estou sempre assistindo a algum filmezinho, isso me dá um prazer imenso.

Depois da filmagem de "Bens Confiscados" [de Carlos Reichenbach", quais são seus planos? Ainda persiste a vontade de atuar em novelas?

"Bens Confiscados" está em fase de captação, que é a parte mais dura para mim. O dia em que eu chegar no set de filmagem e rodar meu primeiro take, aí vai começar o meu real prazer. O trabalho em cinema é feito um quebra-cabeça que a atriz vai montando com entrega, concentração e paixão. Nada se compara a isso. Hoje posso dizer que não tenho interesse em fazer mais uma novela, mas como eu mudo sempre, também não posso fechar essa porta que me deu tantas coisas boas e sucessos. Seria ingrato da minha parte, depois de tantos personagens lindos que tive a sorte de fazer.

É verdade que você cogitou participar do programa "Casa dos Artistas"?

Nunca cogitei participar de "Casa dos Artistas", foi um grande boato que apareceu junto com a minha saída da TV Globo. Achei tão absurda a idéia que brinquei com isso, mas, convenhamos, não faz muito o meu perfil. Foi ridículo ver meu nome em algumas revistas como possível candidata, fiquei bem aborrecida, mas já passou.

Como a telespectadora Betty Faria analisa as telenovelas contemporâneas?

Adorei "O Clone"! Glória Perez foi de uma criatividade, inteligência e modernidade pouco vistas nos últimos anos. O elenco também esteve ótimo, foi gol de placa. Foi minha primeira novela como verdadeira telespectadora, a ponto de ficar chateada quando precisava sair de casa no horário das oito.

Em 2001, você não renovou seu contrato com a Globo. O fato de passar dois anos sem ser escalada para novelas pesou?

Não, simplesmente o meu contrato acabou. Nos últimos dois anos, manifestei vontade de apresentar programas, levei alguns projetos à emissora e não tive retorno. Quero muito fazer trabalhos fora da área de dramaturgia, mas, infelizmente, a TV Globo não teve espaço para mim na época. As pessoas nas ruas me cobram uma atuação diferente, querem saber minhas opiniões e não me ver apenas interpretando personagens. Quando saí da Globo, houve uma grande tristeza com sabor de despedida. Mas as mudanças, tenho certeza, são para crescimento, e para melhor. Isso não significa que sejam fáceis. Sofri muito!

Você guarda mágoa da Globo?
Gosto muito da emissora, foi lá que construí uma carreira de 30 anos de novelas, séries, musicais e especiais. Sempre fui muito respeitada.

Sua atuação em campanhas políticas tem sido frequente? Como será seu comportamento nas eleições deste ano?

Sempre optei pela liberdade. Como já tenho dificuldade de andar pelas ruas, a minha liberdade de opinião ninguém tira. Em 2000, a TV Globo apoiou o então candidato [Luiz Paulo] Conde no Rio. Fui a única atriz que defendeu César Maia, porque gosto dele. Neste ano, quero ouvir as propostas dos candidatos para descobrir quem vai apoiar o cinema brasileiro.

Como você está se sentindo após o nascimento da primeira neta?
Receber uma neta é uma imensa felicidade, emoção, sentimento de continuidade! Estou totalmente encantada e feliz.

Depois da trajetória na TV, iniciada como bailarina da TV Rio, em 1959, o que você ainda sonha para a sua vida?

Espero a cada dia ser uma pessoa melhor, ser feliz e fazer trabalhos que sirvam para alguma coisa, no sentido de comunicar valores humanos, paz, educação e cultura.


 

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