05/08/2000 - 04h29

Crítica: Mulheres da coletânea foram mais sutis, delicadas e literárias

da Folha de S.Paulo

A homossexualidade passeia pela literatura de todos os tempos, dos gregos aos beatniks. A diferença entre essas obras e o que chega agora às livrarias -essa coletânea de contos em particular- é que o homossexualismo passa a ser o centro da ação.

E eis um tema de cuidado: literatura de temática homossexual. O próprio João Silvério Trevisan atenta para o perigo de se escorregar para a pornografia, de se trocar o erótico pelo pornô.

Os melhores contos da antologia são os três vencedores: "Triunfo dos Pêlos", de Aretusa Von, "Violetas", de Thiago Soares, e "Bandida", de Ana Queiroz. Dois autores convidados, Fátima Mesquita e Alexandre Ribondi, já editados pela GLS, se saem bem.

Chama a atenção "Meu Menino Lindo: Cartas de Amor de Um Frade Sodomita", ensaio do presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), Luiz Mott, que recolheu as cartas enviadas por um religioso português do século 17 a seu amante também de batina.

Embora alguns se destaquem, muitos dos contos tomam o caminho que ocupava os temores de Trevisan e se assemelham às histórias enviadas por leitores nos fóruns de revistas masculinas.

As descrições levadas às minúcias do momento do sexo parecem exageradas. Algumas histórias passam de fininho pelo limite da vulgaridade e conseguem ser tolas. Outras são apenas ruins.

As mulheres da antologia souberam ser mais sutis. Seus contos têm delicadeza e maior teor literário -não é à toa que dois dos três primeiros colocados são "elas". Mesmo o conto de Thiago Soares, em segundo lugar, troca a sexualidade pela sensibilidade.

De maneira geral, porém, deixa a desejar certa tergiversação, sentido metafórico, informações subliminares, trama fora do ato em si. A coletânea é um bom começo. Mas ainda falta estofo.
(CM)

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