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28/10/2002 - 10h48

Escritora Laurita Mourão quer levar livros eróticos para a ABL

IVAN FINOTTI
da Folha de S.Paulo

"Falta sexo na Academia e gente mais nova também. Quem vai levar isso para lá sou eu", começa a escritora Laurita Mourão, explicando por que concorre pela segunda vez a uma cadeira da Academia Brasileira de Letras (ABL).

"Aos 76 anos, é o único lugar onde posso entrar. Sei que não vou melhorar muito a média de idade do chá das quintas, mas a essa altura não dá mais para ser miss. Também já passou a época de ser corista do Lido de Paris. Como gosto de competição, concorro ao cargo de imortal."

Laurita, como faz questão de ser chamada, não chegou a ser convidada pelos acadêmicos que empossam hoje o escritor Paulo Coelho, mas isso não a impede de concorrer. Basta enviar uma carta ao presidente da academia pedindo a vaga e ter escrito qualquer tipo de livro sobre qualquer assunto.

E Laurita já escreveu meia dúzia deles, a maioria focada no erotismo, como atestam os títulos "O Incesto em Segundo Grau" e "Decamourão". "Tudo uma porcaria danada, mais para o lado do medíocre do que do valor", diz a bem-humorada escritora.

Mas sua principal obra é mesmo "À Mesa do Jantar", com a qual escandalizou o Itamaraty em 1979. Funcionária da instituição a partir de 62, ela revelou no livro todos os casos que manteve com embaixadores, cônsules e colegas, principalmente com os casados.

Na época, Laurita ouviu uma bronca de sua tia: "Você poderia ter evitado poluir a literatura brasileira". "Angariei algumas antipatias", reconhece a autora, "mas fazer o quê? Não tem nada mais perigoso do que se sentar em frente a uma folha em branco".

Pijamas vermelhos

Laurita tem razão sobre o perigo. Tanto que sua próxima obra, a ser lançada pela editora Francisco Alves no final de novembro, já provoca a começar pelo título: "Mourão: O General dos Pijamas Vermelhos".

Mourão, pai de Laurita, é também o general Olympio Mourão Filho (1900-1972), que por duas vezes interferiu no destino da história do Brasil. A mais conhecida aconteceu em março de 1964, quando Mourão assistiu pela TV a um discurso do presidente João Goulart e mandou mobilizar suas tropas e rumar para o Rio de Janeiro. Com esse telefonema, deflagrou o regime militar que durou 21 anos.

O título da biografia remete ao momento em que o general deu o telefonema fatídico.

"Ele estava de pijamas vermelhos, a cor dos comunistas", diverte-se a filha biógrafa. "Na verdade, pijama é licença literária. Ele usava mesmo um belíssimo robe de seda vermelha por cima dos pijamas." Ela escreveu parte do texto em primeira pessoa, como se fosse o próprio Mourão a ditar sua história.

O outro grande momento político do general foi involuntário. Em 1937, participante do movimento integralista e então aluno do curso do Estado-Maior, o militar teve como tarefa escrever um estudo de como seria um plano de insurreição comunista.

A lição de casa foi transformada no famoso Plano Cohen, que Getúlio Vargas usou como pretexto para denunciar o perigo vermelho, tomar o poder e estabelecer oito anos de Estado Novo.

Cabo eleitoral

É claro que, sendo quem é, Laurita não limita a biografia a documentos históricos, cartas entre generais ou registros de jornais. Usa principalmente a memória.

"Papai adorava mulheres", revela. "Gostava muito de olhar as pernas de uma empregada gaúcha que tínhamos em casa. Ele a chamava de Miss Panela e sempre dizia: "Se não fosse a desgraça de ter nascido pobre, a nossa Miss Panela estaria desfilando nas passarelas da alta sociedade"."

O livro "Mourão: O General dos Pijamas Vermelhos" vai ser usado ainda como cabo eleitoral de Laurita. "Vou visitar os acadêmicos e levar meu novo livro para todos eles", promete a autora.

Será um pouco diferente da eleição realizada em julho passado, quando ela não levou nenhum voto e escandalizou alguns acadêmicos ao relatar intimidades em sua carta de apresentação.

Detalhes como os remédios que tomava (um era Aspirina), um aborto natural que sofreu em 1972 ou a realização de quatro partos normais sem anestesia.

Da eleição passada, Laurita repete a sugestão para um novo lema da ABL: "Cultura, Letras & Sexo". Lemas, aliás, ela adora. "O da nossa família é: Mourão não fica louco, piora", brinca.

Mas a disputa pela cadeira número 12, que vai acontecer em março de 2003, não será fácil. O grande nome é o ensaísta e crítico literário Alfredo Bosi, mas já corre por fora o escritor José Louzeiro. Concorrem também, como azarões, a poeta Ieda Octaviano e o desembargador Carmine Antônio Savino Filho.

Laurita não se detém nem quando pensa que o último detentor da cadeira 12 foi dom Lucas Moreira Neves, ex-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil que integrou lista de possíveis sucessores do papa.
"Pois é", diz ela, "é quase uma incongruência. Mas se explicaria: sexo também é sagrado".
 

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