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02/11/2002 - 04h07

Schroder: "Por que Lula foi à Globo"

CARLOS HENRIQUE SCHRODER

Na última quarta-feira, a Folha dedicou parte do editorial "O início", várias colunas (Clóvis Rossi, Fernando Rodrigues, Xico Sá), notas (Painel) e uma página da Ilustrada para criticar as entrevistas do presidente eleito na Globo. A primeira, de alguns poucos minutos, no "Fantástico", e a segunda, no "Jornal Nacional" de segunda-feira.

Primeiro, é preciso explicar que, diferentemente de outros meios de comunicação, em televisão tudo tem que ser feito previamente.

Embora uma entrevista seja ao vivo, é preciso organizar, fazer convites, montar uma verdadeira parafernália técnica para que tudo vá ao ar na hora certa e com a qualidade desejável.

As entrevistas com o presidente eleito (fosse ele Lula, Serra, Ciro ou Garotinho) estavam previstas no desenho da nossa cobertura das eleições.
Constavam do plano traçado ainda no ano passado e que foi apresentado aos assessores dos candidatos em abril deste ano e por todos aceito.
Tudo ali exposto foi rigorosamente cumprido: entrevistas na Globonews, no "Jornal Nacional", no "Jornal da Globo", no "Bom Dia Brasil", debates no primeiro e segundo turnos e entrevistas com o presidente eleito e um "Globo Repórter". O debate para o segundo turno, exatamente com o formato que foi ao ar, foi negociado com todos os candidatos já na reunião de abril.

Finalmente, o documento com as regras do debate foi assinado em 23 de agosto, muito antes até mesmo do fim do primeiro turno. Previmos também, ainda em abril, uma entrevista com o presidente Fernando Henrique Cardoso, ao vivo, no "Jornal Nacional", na semana seguinte ao segundo turno, fosse quem fosse o ganhador. Esta entrevista, aliás, ocorreu anteontem.

No dia do primeiro turno, quando havia a previsão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que a apuração terminaria em cinco horas, negociamos com o primeiro colocado uma entrevista exclusiva, caso ele fosse eleito no primeiro turno. E negociamos com os três outros candidatos a mesma entrevista, caso eles passassem para o segundo turno.

Para tanto, instalamos nossos equipamentos de transmissão direta, via satélite, onde cada um deles estava, em diferentes Estados da federação. Como a apuração se arrastou, as entrevistas se frustraram.

Logo no dia seguinte ao primeiro turno, iniciamos negociações com os dois candidatos para que, tão logo fossem eleitos, Lula ou Serra concedessem entrevistas para o "Fantástico", para o "Jornal Nacional" do dia seguinte e para o "Globo Repórter". Ambos concordaram com antecedência, honrando o compromisso firmado em abril (basta checar com a assessora de José Serra, Andrea Gouvea Vieira).

Naturalmente, na última semana antes da eleição, quando as pesquisas já indicavam o franco favoritismo de Luiz Inácio Lula da Silva, as negociações com a assessoria dele para as entrevistas do "Fantástico" e do "Jornal Nacional" foram mais intensas.

Da mesma forma, demos início à produção para levar ao ar um "Globo Repórter" sobre Serra ou Lula, dependendo de quem se elegesse. Temos hoje pronto material para os dois programas. Porque a Globo entende que informação de qualidade é isso: informação correta, isenta e oferecida em primeira mão.

Desconhecendo tudo isso, a Folha estranhou a duração do "Jornal Nacional" de segunda-feira (uma hora e 15 minutos) e questionou o tom de perfil que exibimos do presidente eleito, chegando a estranhar o fato de termos classificado a eleição do petista como "uma conquista histórica". E destacou a frase, dita no perfil elaborado por nosso repórter Marcelo Canelas: "Moradores de cortiço, operários, engraxates: um de vocês é hoje o presidente do Brasil".

No mesmo dia, no entanto, a Folha publicou edição especial, com mais de 30 páginas dedicadas ao tema, com a seguinte manchete: "Metalúrgico é o primeiro líder de esquerda a ser eleito no país". No corpo da chamada, dizia: "Nascido em Garanhuns, Pernambuco, Lula migrou aos sete anos para São Paulo. Foi vendedor de rua, engraxate, contínuo e torneiro mecânico". É como se a Folha acreditasse que ela pode; os outros não.

Causam revolta também os artigos de diversos colunistas que estabeleceram uma relação entre a cobertura que a TV Globo fez da vitória do PT e o anúncio da Globopar sobre reestruturação de sua dívida. Alguns chegaram a lembrar o apoio que o PT teria dado à alteração do artigo 222 da Constituição, como se esta modificação fosse do interesse exclusivo da TV Globo.

Em nome dos jornalistas que aqui trabalham, gostaria de dizer que as decisões empresariais do grupo não interferem de nenhum modo em nossas decisões editoriais. E é sempre bom lembrar que a modificação do 222 foi defendida por editoriais da Folha e apoiada pela Associação Nacional de Jornais e pela Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).

O que mais me espantou, no entanto, foi o que a Folha fez com a minha entrevista, publicada na Ilustrada. Ela foi concedida antes da eleição, antes mesmo do debate, e a mim foi garantido que ela seria publicada depois da eleição, depois que eu pudesse atualizá-la sobre o debate de sexta-feira, o que não foi feito.

O que se viu, no entanto, foi uma edição em que tudo levou o leitor a imaginar que a minha entrevista versava sobre as entrevistas concedidas pelo presidente eleito.

O antetítulo dizia: "Após entrevistas exclusivas ao "JN" e "Fantástico", Lula deve receber convite de Faustão". O título estampava: "A festa é nossa". E o subtítulo: "Diretor de jornalismo da Globo, emissora privilegiada pelo novo presidente nos dois primeiros dias após a eleição, faz à Folha um balanço da cobertura eleitoral".

E, o pior, depois de dar a audiência da entrevista do presidente eleito no "Jornal Nacional", a Folha publicou a seguinte declaração, atribuída a mim: "Na Globo, a audiência nas entrevistas foi excelente", diz Carlos Henrique Schroder, diretor da Central Globo de Jornalismo". Ou seja, a Folha enganou o seu leitor.

Omitiu que eu dei a entrevista antes mesmo da eleição, antes mesmo portanto das entrevistas de domingo e segunda. E usou uma declaração minha sobre as entrevistas dos candidatos, durante toda a campanha eleitoral, como se ela se referisse às entrevistas do presidente eleito.

E, na franca resposta que dei sobre o debate de 1989, a Folha "editou" a minha resposta, publicando apenas a parte que interessava a ela e omitindo o que eu considerava os trechos mais esclarecedoras. Fez comigo o que acusa a Globo de ter feito em 1989.

A nossa isenção conta com o testemunho público dos candidatos. A qualidade de nossas entrevistas conta com os elogios que recebemos de toda a imprensa, inclusive da Folha, antes que a dor do furo a tivesse cegado.

Carlos Henrique Schroder, 43, é diretor da Central Globo de Jornalismo
 

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