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01/12/2002 - 04h34

Brasileiros se aventuram no exterior em novelas "mexicanas"

FERNANDA DANNEMANN
da Folha de S. Paulo

O Brasil não exporta só craques do futebol, mas também atores, diretores e autores de novelas. Com o mercado saturado por aqui, muitos tentam a sorte no exterior. Daniel Ortiz, 30, por exemplo, paulista de Taubaté, assinou contrato com a rede mexicana Televisa e está escrevendo uma novela, cujo título e enredo são mantidos em segredo.

"A Televisa sempre está interessada no talento estrangeiro e nas pessoas que têm experiência e preparação", diz Guillermo Quezada, diretor do departamento de novelas comerciais da emissora, que já chegou a gravar 11 folhetins simultaneamente e exporta suas produções.

Ex-roteirista de programas de auditório para o canal peruano Frequencia Latina, Ortiz escreveu três versões para sua novela "Sin Limites", que não foi ao ar porque prostituição e homossexualidade eram temas que não agradavam ao presidente Alberto Fujimori (1990-2000).

No Brasil, ele nem tentou trabalhar. "A Globo tem seu grupo de autores há décadas, é difícil entrar. No México sou escritor; no Brasil, seria colaborador", afirma. Segundo Ortiz, as novelas mexicanas fazem sucesso em toda a América Latina, exceto no Brasil, na Argentina e no Chile, países menos conservadores.

Manoel Carlos, 69, que prepara a próxima novela das oito da TV Globo, escreveu, entre 1985 e 1991, mais de 20 novelas para América Latina e Estados Unidos. Mas diz que não mudou seu estilo.

"O público se perguntava como a patroa chorava no colo da empregada. Os latinos são preconceituosos, mas acho que alguns aceitaram. O restante achou bizarro", afirma.

Ele chegou a escrever uma sitcom colombiana ("Uma Família como Outra Qualquer") sem nunca ter ido à Colômbia. "Usei a lista telefônica, o mapa de Bogotá, jornais e revistas", diz.

Na direção de seu maior sucesso, a novela "El Magnate", de 1990, estava outro brasileiro, Ari Coslov, 58, que recentemente dirigiu "Vale Todo", versão da Globo e Telemundo para "Vale Tudo" (88-89).

"Foi ótimo dirigir "El Magnate" na Flórida, nos estúdios do "Miami Vice". Tinha desistido da versão peruana para "O Homem que Deve Morrer", sucesso de Janete Clair, por problemas no orçamento. Além disso, o Sendero Luminoso fazia em Lima o que os traficantes fazem hoje no Rio", diz Coslov.

O elenco de "El Magnate" era composto por atores latinos de diversas procedências. "A gente não se tocava para essa diferença. Quando a novela foi comercializada, as pessoas achavam engraçado uma família em que o pai falava como peruano, a mãe como venezuelana e, os filhos, como mexicanos", lembra Coslov.

Cabeça inclinada Para Herval Rossano, 70, que lançou a telenovela no Chile e, em 1994, dirigiu "Camiños Cruzados" para a Televisa, o desafio maior foi tirar o ponto eletrônico (fone de ouvido em que o texto é passado ao ator).

"Foi uma mudança drástica, e os atores reclamavam. Eles apareciam nas cenas com a cabeça inclinada, esperando o texto", diz Rossano, cujo filho, Herval Guerrero, 38, é roteirista e diretor no Chile.

"As novelas chilenas são as mais parecidas com as brasileiras", afirma Guerrero, que não pensa em trabalhar no Brasil.

O ator Rubens de Falco, 71, que há dez anos estrelou a novela "La Bruja", na Venezuela, foi elogiado por seu castelhano.

De Falco ri ao lembrar que seu personagem era um misto do terrível Leôncio de "Escrava Isaura" (76-77) e do generoso Roberto Steiner, de "A Sucessora" (78-78), ambas brasileiras e veiculadas lá. "Coisa de novela "mexicana"...".

Viviane Pasmanter, 30, que protagonizou "Alen, Luz de Luna" há cinco anos, na Argentina, adorou a experiência, mas abandonou o projeto por falta de salário.

"Eles são moralistas e não aceitam mudanças. Como saí, meu par ficou sozinho no final", conta ela, que ganhou o processo contra o produtor.

Para José Wilker, que morou em Nova York há dez anos, o problema eram os papéis. "A Sônia [Braga] tinha contatos no HBO, mas eu faria qualquer coisa, menos o mexicano típico", diz.
 

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