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22/01/2003 - 04h21

Electro é funk de butique, diz DJ Marlboro

ALEXANDRE MATIAS
free-lance para a Folha

"É muita hipocrisia", desabafa o lendário DJ Marlboro. Pai do funk carioca, Fernando Luís Mattos da Matta, 39, se refere ao sucesso da passagem da DJ e cantora francesa Miss Kittin pelo Brasil. "Aconteceu o mesmo com a lambada, que teve de ser sucesso lá fora para ser reconhecida por aqui. Quem sabe o funk não tem a mesma trajetória?"
Passado, o gênero já tem. Criado em 1989, começou como os muitos filhotes da disco (hip hop, dancehall, house, tecno), em torno do quatro por quatro eletrônico e gritalhão executado pela dupla MC e DJ, que, no Rio de Janeiro, ganharam ares manhosos e gaiatos, típicos do comportamento da metrópole praiana.

Desde então o funk carioca não pára de se espalhar e ganhar território. Dos populares bailões ao "Planeta Xuxa", passando pelos gráficos e viscerais Proibidões até o estouro de Kelly Key, suas dimensões apenas aumentam. Miss Kittin, sob esta lógica, é apenas mais um passo do gênero: "Esse funk disfarçado, de butique -com as mesmas batidas quebradas e os mesmos BPM do funk- é apenas uma maneira que alguns DJs encontram para dizer que não tocam funk".

Aproveitando vácuos artísticos para mostrar sua cara, o funk carioca nasceu do fascínio de Marlboro por um brinquedo novo: a bateria eletrônica. E a história desta descoberta entra para os autos da psicologia popular ao lado de "Yesterday", dos Beatles, e "Satisfaction", dos Rolling Stones, como músicas compostas durante o sono. O DJ conta que a primeira vez que viu o instrumento foi nas mãos do antropólogo Hermano Vianna. "Mas ninguém sabia mexer", conta, lembrando do entusiasmo que mal o deixou dormir naquele dia.

"No sonho, aprendi a mexer e programei", diz. "No dia seguinte, liguei para ele logo de manhã e pedi para apertar os botões do jeito que eu havia sonhado e deu certo. Aí ele me deu a bateria. Foi um dos melhores presentes que eu ganhei na minha vida, pois como disseram, "é como se fosse dado um rifle a um chefe indígena"."

Lançando a coletânea "As Melhores do DJ Marlboro", o DJ se coloca como papa da eletrônica: "O funk é eletrônico antes de existir essa denominação. Quem define o que é eletrônico e o que não é?", briga, enfatizando o papel do DJ no mercado. "É ele quem descobre, produz e executa, todo o esquema da indústria fonográfica completo numa só pessoa."

Montado em seu próprio império (a produtora Big Mix), Marlboro é orgulhoso de seus números: "Entre CDs próprios, artistas que lancei, coletâneas internacionais e remixes produzidos, pode colocar que eu lancei mais de 200 CDs. Isso em vendas ultrapassa a marca de 4 milhões de discos, certamente". Toca em três festas, além de passar por outras 12 ("dou uma passadinha e sorteio uns brindes"), agitando o que estima ser uma pequena multidão de 12 mil pessoas por fim de semana. Fora uma coluna semanal no jornal "O Dia", um portal na internet (www.bigmix.com.br), os 350 mil ouvintes por minuto em seu programa de rádio e a segunda audiência da TV Bandeirantes carioca.

Mesmo assim, Marlboro acha que o funk carioca ainda não se estabeleceu.
"Acho que só seremos realmente reconhecidos quando resolverem fazer um funkódromo, quando as escolas fizerem concursos de funk para incentivar a garotada a escrever e expor suas idéias. Quando o funk for visto como instrumento de pesquisa para a sociedade descobrir o que essa galera pensa e a partir daí criar oportunidade e perspectiva de vida aos jovens, que sempre manifestaram essas reivindicações por meio da música -como um dia foi a MPB, a bossa nova, a jovem guarda e a tropicália. Hoje é o funk."

AS MELHORES DO DJ MARLBORO
Artista: DJ Marlboro
Gravadora: BMG
Quanto: R$ 18, em média

 

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