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15/02/2003
-
03h41
da Folha de S.Paulo
Salto alto, vestidos elegantes, jóias, sorrisos e covinhas retocadas. Desta vez, nem a mais luxuosa das gargantilhas de brilhante vai impedir Clive Barker, 50, de revelar um dos segredos seculares da Cidade das Ilusões: o medo do fracasso e da solidão.
Autor dos clássicos de horror "Hellraiser", "Candyman" e "Livros de Sangue", o escritor inglês, radicado há dez anos em Beverly Hills, coração da indústria cinematográfica americana, não economiza no verbo. "Hollywood é uma prostituta de cinco dólares", resume ele em "Desfiladeiro do Medo", seu mais novo romance, lançado no Brasil pela Bertrand.
Misturando duas épocas do cinema, os anos 90 e os anos 20, Barker nos apresenta o fortão de meia-idade Todd Pickett e a estrela romena do cinema mudo Katya Lupi. Ele, astro de superproduções de nomes como "Gunner" e "Mighty Joe Young", teme que os pés-de-galinha e a barriguinha saliente lhe obriguem a passar a coroa a garotos como Tom Cruise e Leonardo Di Caprio. Ela, protagonista de "She Is Destruction" e "The Devil's Bride", teme a morte e o esquecimento.
"É decepcionante quando você confronta seus ídolos com a realidade. Porque parte de mim e de você está fascinada, na verdade, pela imagem cinematográfica desses deuses e deusas de Hollywood", afirmou o escritor em entrevista à Folha.
Folha - Em "Desfiladeiro do Medo" você parece oscilar momentos de crítica e de adoração ao universo do cinema. Aonde quer chegar?
Clive Barker - O que eu quero discutir no livro é como esse sistema pode não funcionar para o bem sempre. O modo como ele está apaixonado por si mesmo. Ele quebra as pessoas, seus corações, seus egos e sua criatividade. Mas queria mostrar que a cidade tem dois lados. Que a maioria das pessoas que nós adoramos como se fossem deuses são criaturas comuns, como eu e você.
Folha - Você cita nomes de diversos atores da vida real, como Tom Cruise e Robert Downey Jr. Teve algum problema com isso?
Barker - Acho que sempre que menciono nomes de atores reais sou bondoso com eles. Sou realmente cruel é com os personagens inventados. Tento não ofender, mas as pessoas são muito cheias de si nesta cidade, sagradas, e isso me irrita. Não acho que um escritor deva ser tão amigo de ninguém, a ponto de não poder falar a verdade sobre ele.
Folha - Rodolfo Valentino, Charlie Chaplin, Clara Bow, Louise Brooks, Theda Bara... Você parece não ter se preocupado em ser muito "gentil" com a imagem deles também.
Barker - Theda Bara. Eu a amo. Era uma garota de Idaho, Ohio, nem um pouco exótica, mas que fez o que muita gente fazia quando vinha para Los Angeles. Reinventou-se toda, mudou o nome, criou uma nova história, uma nova imagem, e as pessoas preferiram a lenda à realidade. Acho que isso é verdade ainda hoje. O quanto não queremos acreditar que as estrelas de cinema são mais altas do que elas são? São, em grande parte, pessoas pequeninas, mas o cinema as faz parecer grandes.
Fazemos o que qualquer sociedade faz com os seus deuses, temos essa relação amarga de amor e ódio com os deuses de Hollywood. Nós os queremos sagrados, magníficos, mas também queremos assisti-los cair. E isso é o que me interessa no livro: o prazer das pessoas em ver os outros caírem.
Clive Barker revela "segredos" de Hollywood em novo romance
DIEGO ASSISda Folha de S.Paulo
Salto alto, vestidos elegantes, jóias, sorrisos e covinhas retocadas. Desta vez, nem a mais luxuosa das gargantilhas de brilhante vai impedir Clive Barker, 50, de revelar um dos segredos seculares da Cidade das Ilusões: o medo do fracasso e da solidão.
Autor dos clássicos de horror "Hellraiser", "Candyman" e "Livros de Sangue", o escritor inglês, radicado há dez anos em Beverly Hills, coração da indústria cinematográfica americana, não economiza no verbo. "Hollywood é uma prostituta de cinco dólares", resume ele em "Desfiladeiro do Medo", seu mais novo romance, lançado no Brasil pela Bertrand.
Misturando duas épocas do cinema, os anos 90 e os anos 20, Barker nos apresenta o fortão de meia-idade Todd Pickett e a estrela romena do cinema mudo Katya Lupi. Ele, astro de superproduções de nomes como "Gunner" e "Mighty Joe Young", teme que os pés-de-galinha e a barriguinha saliente lhe obriguem a passar a coroa a garotos como Tom Cruise e Leonardo Di Caprio. Ela, protagonista de "She Is Destruction" e "The Devil's Bride", teme a morte e o esquecimento.
"É decepcionante quando você confronta seus ídolos com a realidade. Porque parte de mim e de você está fascinada, na verdade, pela imagem cinematográfica desses deuses e deusas de Hollywood", afirmou o escritor em entrevista à Folha.
Folha - Em "Desfiladeiro do Medo" você parece oscilar momentos de crítica e de adoração ao universo do cinema. Aonde quer chegar?
Clive Barker - O que eu quero discutir no livro é como esse sistema pode não funcionar para o bem sempre. O modo como ele está apaixonado por si mesmo. Ele quebra as pessoas, seus corações, seus egos e sua criatividade. Mas queria mostrar que a cidade tem dois lados. Que a maioria das pessoas que nós adoramos como se fossem deuses são criaturas comuns, como eu e você.
Folha - Você cita nomes de diversos atores da vida real, como Tom Cruise e Robert Downey Jr. Teve algum problema com isso?
Barker - Acho que sempre que menciono nomes de atores reais sou bondoso com eles. Sou realmente cruel é com os personagens inventados. Tento não ofender, mas as pessoas são muito cheias de si nesta cidade, sagradas, e isso me irrita. Não acho que um escritor deva ser tão amigo de ninguém, a ponto de não poder falar a verdade sobre ele.
Folha - Rodolfo Valentino, Charlie Chaplin, Clara Bow, Louise Brooks, Theda Bara... Você parece não ter se preocupado em ser muito "gentil" com a imagem deles também.
Barker - Theda Bara. Eu a amo. Era uma garota de Idaho, Ohio, nem um pouco exótica, mas que fez o que muita gente fazia quando vinha para Los Angeles. Reinventou-se toda, mudou o nome, criou uma nova história, uma nova imagem, e as pessoas preferiram a lenda à realidade. Acho que isso é verdade ainda hoje. O quanto não queremos acreditar que as estrelas de cinema são mais altas do que elas são? São, em grande parte, pessoas pequeninas, mas o cinema as faz parecer grandes.
Fazemos o que qualquer sociedade faz com os seus deuses, temos essa relação amarga de amor e ódio com os deuses de Hollywood. Nós os queremos sagrados, magníficos, mas também queremos assisti-los cair. E isso é o que me interessa no livro: o prazer das pessoas em ver os outros caírem.
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