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26/02/2003 - 02h58

Kidman diz sentir Woolf em sua "epiderme", depois de "As Horas"

PAOULA ABOU-JAOUDE
free-lance para a Folha de S.Paulo, em Los Angeles

Não muito tempo após ter assinado contrato para interpretar a escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941) no filme "As Horas", que estréia sexta nos cinemas brasileiros, Nicole Kidman, 35, decidiu voltar atrás em sua decisão.

"Teria você ficado com medo de Virginia Woolf?", perguntou a reportagem da Folha à atriz havaiana, remetendo ao título da conhecida peça do dramaturgo Edward Albee, "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" (1962).

"Não, nunca tive medo, mas sim uma mistura de respeito pela genialidade da escritora e tristeza pelo fato de a depressão ter consumido mais da metade de sua vida", explica a atriz, lembrando a vida atordoada da autora de "Orlando" (1928), que acabou cometendo suicídio.

A insegurança de Kidman, porém, vinha de outra fonte: seu ruidoso processo de divórcio do ator Tom Cruise, com quem foi casada durante quase dez anos. "Atravessava um momento precário e quis pular fora do projeto, no qual já me sentia um pouco insegura", revela Kidman, que só continuou pela insistência do cineasta inglês Stephen Daldry, responsável pela direção da adaptação do romance de Michael Cunningham, que dá nome ao longa-metragem.

"Como os livros de Virginia nunca foram o meu forte, Stephen pediu para que eu relesse alguns títulos", lembra. "E foi estranho porque, ao reler Virginia naquele estágio da minha vida, tudo passou a ser muito relevante e profundo, e acho que a voz dela falou um pouco à minha alma", diz.

O livro do escritor americano -que já recebeu um Pulitzer, o PEN/Faulkner Award e foi um dos indicados para o National Book Critics Circle Award- arma uma rede em que se cruzam os destinos de duas americanas, interpretadas por Julianne Moore e Meryl Streep, e de Virginia Woolf.

Nesse sentido, a estrutura de "As Horas" lembra o emaranhado de vozes, personagens e memórias que compõem "Mrs. Dalloway" (1923), que não por acaso tinha o título provisório que dá nome ao livro de Cunningham.

Para construir essa personagem que trouxe importantes contribuições para a estrutura do romance, foi ensaísta defensora de idéias feministas e crítica literária, Kidman usou um processo "instintivo e nunca técnico".

"Tenho essa mania de "encontrar" minhas personagens em pequenos detalhes. Num primeiro estágio, "encontrei" Virginia num par de sapatos dado pela brilhante designer Ann Roth. Mais tarde, veio a idéia do diretor de alterar minha fisionomia com uma prótese no meu nariz", explica. "Com os vestidos, o cabelo, o nariz, a voz diferente, a caligrafia e o pigarro de tanto fumar, Virginia ocupou minha epiderme."

Nicole, que é a favorita para o Oscar de melhor atriz do ano (ela venceu o Bafta, o Oscar inglês no último domingo), diz que se tornou uma PhD em Virginia Woolf e gosta de destilar suas teorias sobre a escritora. "Se ela não estivesse sob medicamentos, que tipo de "Mrs. Dalloway" teria sido escrito; e, se houvesse Prozac naquela época, como seria "Orlando'?"

Longe de seu estado "precário", hoje a atriz está filmando com Anthony Minghella na Romênia a adaptação literária de "Montanha Gelada", best-seller mundial de Charles Frazier sobre a Guerra Civil americana, com temas como redenção e esperança. "Renée Zellweger e eu interpretamos mulheres de fazendeiros que foram para o front", conta.

Enquanto isso, "As Horas" espera receber além do Oscar de atriz, em 23 de março, algumas das outras oito estatuetas a que concorre: filme, direção, ator coadjuvante (Ed Harris), atriz coadjuvante (Julianne Moore), roteiro adaptado, montagem, trilha sonora e figurino.

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