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03/03/2003 - 02h31

Brasil "exporta" motoqueiros do globo da morte

IVAN FINOTTI
da Folha de S.Paulo

Após passar pelos ciclos do café, do ouro e da borracha, o Brasil vive uma nova e importante era econômica: a exportação de motoqueiros do globo da morte.

Globo da morte é aquele espetáculo ensurdecedor em que dois ou mais motoqueiros barulhentos ficam dando voltas cada vez mais rápidas em uma redoma de ferro trançado. Podia ser visto na maioria dos grandes circos brasileiros, mas nos últimos tempos o sucesso tem acontecido mesmo em outros países.

Há pelos menos 30 anos os brasileiros dominam a arte do globo da morte mundialmente. Liderados pelo lendário Panair Valley, 80, um mineiro de Ouro Fino hoje morando na Austrália, os globistas brasileiros foram os responsáveis não só pela sobrevivência do número após a Segunda Guerra, como também pela exportação para EUA e Europa a partir dos anos 70.
Hoje, das 20 ou 30 equipes de globistas da morte espalhadas pelo mundo, metade é composta por brasileiros e um quarto aprendeu a arte com eles: Marcio Benelli (que se apresenta na Europa com a tradicional trupe francesa Los Varannes), Daniel Diorio e sua equipe (que tem globos na Europa e na Coréia), Hilário e Giovani Weber (que se estabeleceram na Austrália), além de Victor Urias, Humberto Fonseca e outros que trabalham atualmente nos Estados Unidos.

Documentário

Tudo isso faz parte do documentário "Globo da Morte - Uma Tradição Brasileira", da cineasta Cris Siqueira, 28. Ela investiga, a partir da família Valley, as razões de o Brasil ocupar tamanho destaque na história desse espetáculo motorizado.

"É curioso o fato de o globo da morte, criado na Itália na virada do século, ter praticamente morrido em todo o mundo, menos no Brasil. Uma das possibilidades é que, diferentemente do resto do mundo, aqui o número se aproximou e passou a fazer parte dos circos", diz Siqueira.

As filmagens, já em andamento no Brasil e no México, devem continuar nos Estados Unidos e na Austrália no próximo semestre. O documentário deve estar pronto no primeiro semestre do ano que vem.

Autógrafos

A história levantada por Siqueira remonta aos anos 30, quando o italiano Guido Consi, que se dizia inventor do número, chegou ao Brasil. Consi viveria o resto de seus dias no país ensinando jovens audazes a arriscar a vida no globo mortal. Mas seu principal aluno foi também o primeiro, Panair Monteiro do Vale, mais tarde Panair Valley.

"Guido me ensinou a pilotar no globo em 1934", disse Valley à Folha de S.Paulo, por telefone de Adelaide, Austrália, onde mora há seis anos. Na época, Valley tinha 12 anos e tamanho suficiente apenas para alcançar o guidão da motocicleta, mas não para colocar os pés no chão.

Entre os anos 40 e 50, Valley se apresentou em 42 países nos cinco continentes. "As mulheres me pediam autógrafo", lembra ele. A partir do anos 60, entra em cena o herdeiro da família, Douglas McValley.

"Foi Douglas quem conseguiu exportar o globo de volta para os países onde o número tinha desaparecido", relata a cineasta Cris Siqueira. Ela, que dirigiu três curtas-metragens (o último com Silvinha Faro e Luiz Thunderbird), mantém um site com informações de seu filme e de globos: www.itsmysite.com/globo.
 

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