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26/03/2003
-
03h15
da Folha de S. Paulo em Curitiba
Em tempos de guerra, o amor se espalha pela cidade, da racionalização do abandono à celebração dionisíaca do sexo. Topa-se com ele na rua. Por trás de uma vitrine no Largo da Ordem, uma radialista escancara sua derrocada afetiva em "Adelaide Fontana", uma boa idéia comprometida por uma interpretação afetada, do Erro Grupo de Florianópolis.
"Inóspito Benefício", da cia. 3+2 de São Paulo, tem uma proposta mais elaborada, a partir de um enigmático texto, inédito no Brasil, da polonesa Mânia Marcovitch. Uma mulher expressionistamente dividida em três espera pelo amado em um ambiente inóspito. Em seu delírio, escuta Beatles e imagina ter dado à luz um abajur, em um bizarro trocadilho existencial. Trazendo o grotesco para o trágico, a direção prendeu as atrizes em uma partitura hermética, cumprida com aplicação, mas de forma um pouco impostada.
Para a catarse das dores de amor, nada melhor, no entanto, do que o pleno domínio de uma linha teatral clara. Seguindo os princípios da antropologia teatral, Cecília ABorges, do Palavra Presente de Campinas, percorreu Minas Gerais recolhendo histórias de mulheres abandonadas para compor "Diz que Tinha", um solo feminista e feminino de uma Mariquinha que remete ao Tonheta de Antonio Nóbrega.
No registro da commedia dell'arte, que substitui este ano o butô como linguagem dominante no Fringe, o "Triângulo - Elogioamoral" da paulista Engole e Ria traduz os quiproquós amorosos para o Brasil de hoje, onde Pantalone é latifundiário, o capitão é americano e Arlequim, Érika Coracini, um menino de rua.
Quem se encarregou, no entanto, da plena celebração dionisíaca, com atores ganhando a cumplicidade da platéia com textos inteligentes ditos de modo inteligente, foi "Explícito", d'Os Cênicos do Rio de Janeiro. Marília Martins sabe misturar o erotismo de Anaïs Nin com o cinismo de Arnaldo Jabor, contando com um elenco que não foge à ousadia prometida pelo título, mas escapando ao narcisismo e à agressão com um afinado senso de humor. Que, em última análise, é o melhor bálsamo para as agruras do amor.
Fringe realiza a expressão do amor, do inóspito ao explícito
SERGIO SALVIA COELHOda Folha de S. Paulo em Curitiba
Em tempos de guerra, o amor se espalha pela cidade, da racionalização do abandono à celebração dionisíaca do sexo. Topa-se com ele na rua. Por trás de uma vitrine no Largo da Ordem, uma radialista escancara sua derrocada afetiva em "Adelaide Fontana", uma boa idéia comprometida por uma interpretação afetada, do Erro Grupo de Florianópolis.
"Inóspito Benefício", da cia. 3+2 de São Paulo, tem uma proposta mais elaborada, a partir de um enigmático texto, inédito no Brasil, da polonesa Mânia Marcovitch. Uma mulher expressionistamente dividida em três espera pelo amado em um ambiente inóspito. Em seu delírio, escuta Beatles e imagina ter dado à luz um abajur, em um bizarro trocadilho existencial. Trazendo o grotesco para o trágico, a direção prendeu as atrizes em uma partitura hermética, cumprida com aplicação, mas de forma um pouco impostada.
Para a catarse das dores de amor, nada melhor, no entanto, do que o pleno domínio de uma linha teatral clara. Seguindo os princípios da antropologia teatral, Cecília ABorges, do Palavra Presente de Campinas, percorreu Minas Gerais recolhendo histórias de mulheres abandonadas para compor "Diz que Tinha", um solo feminista e feminino de uma Mariquinha que remete ao Tonheta de Antonio Nóbrega.
No registro da commedia dell'arte, que substitui este ano o butô como linguagem dominante no Fringe, o "Triângulo - Elogioamoral" da paulista Engole e Ria traduz os quiproquós amorosos para o Brasil de hoje, onde Pantalone é latifundiário, o capitão é americano e Arlequim, Érika Coracini, um menino de rua.
Quem se encarregou, no entanto, da plena celebração dionisíaca, com atores ganhando a cumplicidade da platéia com textos inteligentes ditos de modo inteligente, foi "Explícito", d'Os Cênicos do Rio de Janeiro. Marília Martins sabe misturar o erotismo de Anaïs Nin com o cinismo de Arnaldo Jabor, contando com um elenco que não foge à ousadia prometida pelo título, mas escapando ao narcisismo e à agressão com um afinado senso de humor. Que, em última análise, é o melhor bálsamo para as agruras do amor.
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