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26/03/2003 - 15h06

"Belarmino" não corresponde às expectativas em Curitiba

BETO LANZA
da Folha de S.Paulo, em Curitiba

A expectativa para a estréia do espetáculo "Belarmino e o Guardador de Ossos", da Cia.D'Artes do Brasil, no Festival de Teatro de Curitiba era grande. A sedutora promessa de que a peça seria numa fazenda e o prestígio do grupo mato-grossense eram alguns indicativos de que o espetáculo seria um triunfo.

A peça, uma adaptação do texto "Banzo", de Ricardo Guilherme Dicke, feita por Amauri Tangará, também diretor da peça, conta a história de um arrependido matador de jacarés, transformado em mito rural por conta da sua extravagante mania de comer caçadores de pele.

Belarmino, que acredita ser um jacaré, defende seu território de maneira violenta, no intento de resguardar o ambiente natural onde vive, acreditando que assim obterá a redenção e, enfim, o amor de Orejona, a deusa das águas, sua musa e a razão do seu temperamento intempestivo.

Isto somado, dá a impressão de que o espetáculo oferece um mergulho num mundo mítico encravado no pantanal mato-grossense, e esta é a vontade média do espectador, mesmo consciente de que se trata de uma experiência teatral.

Esperava-se então um encontro com as raízes, com o universo caboclo pantaneiro. Não foi.

A peça não acontece numa fazenda, mas na pedreira Paulo Leminski. A fazenda indicada no guia da programação é, na verdade, apenas uma referência ao ambiente cenográfico, preparado para dar a sensação de um ambiente natural do Mato Grosso. É estranho pois o cenário está no meio de um parque conhecido por quase a totalidade do público e, mesmo assim, o diretor quer nos fazer crer que estamos num ambiente inóspito.

As cenas iniciais, em parte são realizadas em silêncio, o que cria novamente o clima de expectativa, principalmente em virtude da beleza do cenário natural. No entanto, apesar da eloquência do silêncio, a peça não diz nada. Então, somos conduzidos por um novo caminho iluminado por fogo até um alagado, ambiente onde a ação, enfim, se desenrola.

Na medida em que o protagonista surge, chafurdando na lama, o clima é quebrado pelo tom brusco da fala do ator e, a partir daí, o que se vê e se ouve é uma narrativa óbvia, de um texto previsível, em tom de solilóquio, dito com o intento de nos inteirar do enredo trágico da vida de Belarmino.

Os poucos bons momentos do ator são justamente quando ele age sem fala, tornando evidente um esmero na composição física do personagem que, somado à ambientação, formam belos quadros. Há também neste espetáculo momentos de fruição olfativa: pode-se sentir os cheiros das flores misturados ao cheiro de lodo saindo do corpo do ator. A peça termina com uma bela cena em que Belarmino é atraído pelo espectro de Orejona.

Foram criadas muitas expectativas em torno deste espetáculo, mas muito poucas foram as respostas. A grandiosidade de um espetáculo não está necessariamente no espaço que ocupa. Ficam de boas as sensações oferecidas pelo grupo, particularmente da sopa e da cachaça servidas depois do final da peça.


Avaliação:

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